A demora na reparação é uma crueldade contra quem busca reconstruir suas vidas

Editorial Gazeta de Alagoas

“É imperativo que a Vale assuma sua responsabilidade e se comporte de forma respeitosa frente à população local, além de pagar por todos os danos de maneira justa e equitativa”, diz trecho do relatório final da CPI sobre o rompimento da barragem de Brumadinho-MG, ocorrido em janeiro de 2019.

A investigação foi instaurada pela Câmara dos Deputados, sendo concluída quase um ano após a grave ocorrência. As conclusões elencam uma série de diligências e encaminhamentos às autoridades.

A lembrança da barbaridade ocorrida em Minas Gerais vem na esteira do drama enfrentado pelos moradores do Pinheiro, Bom Parto, Mutange e Bebedouro, vítimas da tragédia produzida pela extração de sal.

A ampliação da área de evacuação, já reconhecida pela Braskem, foi sequenciada com a informação da Defensoria Pública, pela qual se conclui que as indenizações seguem a passos de tartaruga. Mantendo a dinâmica atual, em dois anos, o ressarcimento não alcançará nem a metade dos prejudicados.

Para completar, o Valor Econômico veiculou notícia sobre a ação de um escritório americano de advocacia – a serviço dos investidores, obviamente -, que estaria avaliando supostas irregularidades na condução das negociações mobiliárias.

Embora seja legítimo o direito dos acionistas, é inadmissível trazer incertezas ou polvilhar dúvidas num momento em que as partes negociam, com autoridades de Estado – de esferas de poder distintas, ressalte-se -, monitorando as tratativas à luz da legislação. Que não se permita qualquer estratagema, sobretudo advindo de quem considere conveniente protelar as soluções.

Agora, o foco é dar celeridade às indenizações, de forma transparente e justa. É hora de fazer um mutirão para simplificar procedimentos e destravar eventuais obstáculos às homologações. O Município de Maceió e o Estado de Alagoas possuem uma dívida histórica com esses moradores. Sem falar no governo federal, cuja Petrobras é dona da metade da Braskem.

Aos que sonharam e construíram suas famílias nesses bairros, as rachaduras e os afundamentos criaram cicatrizes impagáveis. Demorar a ressarcir o patrimônio dessa gente é, no mínimo, um gesto de crueldade para quem busca reconstruir e viver em outro teto suas vidas.

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