Um trecho de A M-edia do’dio, através de Patracia Campos Mello, descreve as práticas que levaram ao silêncio da imprensa húngara e apresentaram poderes absolutos ao de extrema-direita Viktor Orban. O procedimento é rigorosamente seguido no Brasil.
Por Patracia Campos Mello em El Pas Brasil
“Você é uma espécie em extinção. Vou colocar os cães brasileiros ligados ao Ibama. Você é uma raça em perigo.
A palavra de Jair Bolsonaro ainda se enquadra na categoria de ilusões, no entanto, seu governo está determinado a fazer isso acontecer. Políticos às vezes vêem a mídia como um inimigo. Eles não percebem por que a imprensa merece investigar, criticar e inspecionar governos. O presidente vai mais longe. Você precisa convencer os outros de que aqueles que lêem jornais são “mal informados” e que terão que consumir dados diretamente de suas redes sociais e seguidores, sem filtros.
Outro dia, em uma rara compatibilidade de humor com a imprensa, Bolsonaro concordou em obter cães de caça em Alvorada para “chupar a alça”. Enquanto os cães estavam prontos para entrar no palácio, um apoiador se virou para eles e disse: “Espero que evitem fazer jornalismo de vilões. Espero que ele tenha uma manga com veneno para você.
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Bolsonaro segue rigorosamente o manual húngaro “Como terminar a imprensa indefinida em dez lições”, as pinturas de seu colega populista de direita, o primeiro-ministro Viktor Orban. Na Hungria, em alguns anos, a mídia crítica foi dizimada. Assim como Bolsonaro, Orbon reclamou da injustiça da mídia clássica ao atacá-lo e chamou a imprensa por tempo indeterminado de “fake news”. Ele então resolveu o “problema”: empresários ligados ao governo e seu partido, Fidesz, compraram mais da mídia indefinida, que se dedicou a espalhar conceitos caros para Orban, como demonizar imigrantes, e criticar o mega-investidor e filantropo George Soros.
A primeira lição do manual de luta da imprensa é sufocar a mídia em termos econômicos. Os jornais já estão experimentando um ambiente monetário complicado em todo o mundo. Eles têm vivido uma crise em seu estilo de negócios por anos. Poucos carros podem lucrar, mesmo com a combinação de assinaturas e anúncios online (a maioria dos quais são fagocitados através de plataformas de geração primária). Como disse o sociólogo Demétrio Magnoli, “os jornais têm anões na terra dos gigantes da rede”.
Nos Estados Unidos, entre 2013 e 2018, os ganhos de anúncios de jornais passaram de US$ 23,6 bilhões para US$ 14,3 bilhões. Em 2018, o Google gerou US$ 116 bilhões em lucro de anúncios e o Facebook gerou US$ 55 bilhões. Juntos, Google, Facebook e Amazon são responsáveis por quase 70% de todos os lucros de publicidade online.
No Brasil, os números sobre a distribuição do bolo publicitário ainda não cobrem totalmente o escopo dos anúncios na internet. Mas a pesquisa do Cenp-Meios mostra que a participação da mídia clássica está diminuindo. A televisão ainda é responsável pela maior parte do orçamento publicitário: 53% da televisão aberta e 7% da TV paga em 2019, de janeiro a setembro. Mas o percentual diminuiu: em 2017, chegou a 58,7% e 8,5%, respectivamente. Naquele ano, os jornais absorveram 3,3% dos gastos com publicidade; revistas tinham 2,1%; 4,6%, e a Internet como destino de 14,8%. Em 2019, de janeiro a setembro, os gastos com publicidade na web aumentaram para 20,7%, enquanto a publicidade em jornais caiu para 2,7%; revistas em 1% e rádio permaneceram sólidas em 4,6%.
A diminuição do fluxo de jornais primários é outro exemplo do cenário complicado na mídia clássica. O número total de exemplares (digitais e impressos) de nove jornais principais brasileiros: Folha de S. Paulo, O Globo, Estado de S. Paulo, Super-News, Zero Hora, Valor Econômico, Correio Braziliense, Estado de Minas e A Tarde – em dezembro de 2014, 1.712.424; em dezembro de 2019, número 1476303, mínimo de 236121 (13,8%).
Some-se a essa fraqueza estrutural um governo que aprova uma lei que ameaça a liberdade de imprensa e a viabilidade monetária dos veículos, e cria o melhor tufão. O que já desabou na Hungria e está assediando o Brasil.
No Brasil, Bolsonaro ameaçou cortar a publicidade sobre os “inimigos” da mídia e manteve sua promessa durante o primeiro ano de seu governo. Uma reportagem do Tribunal de Contas da União (TCU) apurou que o governo começou a destinar os maiores percentuais do orçamento publicitário para a TV Record e o SBT: as emissoras serão aliadas do Planalto, mas não líderes de audiência.
Embora possua o maior ibope do país, a Globo tem que participar muito menos do bolo. Segundo reportagem da Folha, em 2017 a Globo absorveu 48,5% dos recursos do governo e, em 2018, 39,1%. Em 2019, com base em dados parciais, o percentual caiu para 16,3%. Os percentuais recordes foram de 26,6% em 2017, 31,1% em 2018 e agora 42,6%; 24,8%, 29,6% e 41%, respectivamente. Na mídia crítica impressa, foram esgotadas propagandas do governo brasileiro e de empresas estatais.
Na Hungria, uma série de medidas também foram tomadas para impedir a aplicação de leis de acesso a dados, uma ferramenta essencial para garantir transparência e responsabilização pelas ações governamentais. Isso quase aconteceu no Brasil, no entanto, o Congresso parou no início de 2019. Em 2020, Bolsonaro tentou novamente com medida provisória, sob o pretexto de ser obrigatório devido à epidemia de coronavírus, e foi suspenso por meio de um dos juízes do Supremo Tribunal Federal.
O presidente brasileiro não deixou dúvidas sobre sua motivação para a medida provisória: “Ontem devolvidei um pouco do que a mídia clássica me atacou. Assinar uma medida provisória que obriga os empresários que gastaram milhões de reais a publicar seus balanços, por lei, agora podem fazê-lo no Diário Oficial da Federação sem nenhum custo”, disse ele na ocasião.
Em particular, ele ameaçou o Valor Econômico, dizendo “Espero que ele seja o primeiro-ministro de ontem”, e criticou as supostas entrevistas que o jornal supostamente realizou com ele, com declarações completas de imprecisões. E, algum tempo depois, em meio à controvérsia global sobre suas políticas antiambientais, ele disse: “Ajudamos a não deforestar e tornar a vida menos difícil para os empreendedores”. Segundo o Valor, o trabalho utilizado pela imprensa é produzido no Brasil e vem do reflorestamento, ou seja, não causa desmatamento. Por sua vez, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, considerou que “eliminar os lucros dos jornais da noite para o dia” não foi uma ideia inteligente.
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal cumpriram seu papel de controle e equilíbrio, proibindo as mais altas medidas presidenciais autoritárias opostas à imprensa. Mas isso não significa que Bolsonaro tenha sido neutralizado. O Presidente e seu secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, começaram a pressionar anunciantes pessoais a não participar em contratos publicitários com determinados jornais e emissoras de televisão. “Alguns meios de comunicação ecoam notícias falsas, ecoa manchetes ultrajantes, perderam respeito, credibilidade [e] ética jornalística. Que os anunciantes que fazem a mídia técnica saibam como analisar a mídia para não fazer parceria com eles, preservando suas marcas”, disse Wajngarten, que, à taxa do Ministério da Comunicação, controla os fundos de publicidade do governo.
Bolsonaro, após a Folha publicar uma reportagem investigativa que não era favorável a ele, sugeriu promover seus leitores e boicotar o jornal. “Não preciso mais ler a Folha. E isso não é tudo. E nenhum dos meus ministros. Eu me propus a todo o Brasil para não comprar o jornal Folha de S.Paulo. Até que sejam informados de que há uma passagem bíblica, João 8:32 [E eles saberão o fato, e o fato deve afrouxá-los]. A imprensa tem a responsabilidade legal de publicar o evento. É só isso. E promover aqueles que a promovem à Folha também”, disse. “Qualquer exposição que faço na Folha de S.Paulo, eu não compro esse produto, ponto final. Preciso de uma imprensa independente, mas acima de tudo para contar o fato. Estou pedindo demais?
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