‘Brasil terá que acabar com irregularidades de anistia’, diz chefe do agronegócio

Desmatamento na Amazônia atingiu a maior taxa em 12 anos em 2020, resultando em reclamações estrangeiras do país (Foto: REuters BBC)

A tentativa do Senado de votar na última quarta-feira (28/04) o Projeto de Lei 510/2021, que afrouxa as regulamentações para espaços desmatados ilegalmente, revelou mais uma vez uma rachadura no agronegócio brasileiro.

De um lado, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), principal representante dos proprietários rurais brasileiros, defende a aprovação do projeto, pronto por meio da senadora Iraja Abreu (PSD-TO) e apoiado pelo governo de Jair Bolsonaro.

O presidente da principal entidade que representa as principais corporações do setor, por sua vez, critica a proposta e diz que ela tem sido discutida com a empresa.

Após os protestos da oposição, a votação do projeto foi adiada e os membros do judiciário rural devem analisar para tomar uma resolução na próxima semana.

Em entrevista à BBC News Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Agronegocios (Abag), Marcello Brito, disse que a proposta de Iraja elogiaria os envolvidos em ilegalidades.

“O Brasil vai ter que acabar com essa irregularidade de anistia. Essa lei nada mais é do que uma anistia para quem não fez as coisas direito”, diz Brito.

A Abag, um acordo que Brito preside desde 2019, é composto por 67 corporações ou arranjos industriais e seus membros vêm com pesos pesados da agroindústria como JBS, Bayer, BASF, Syngenta, Cargill, John Deere e Razen. Santander, Itaú-BBA e Banco do Brasil.

Abag faz parte da Coalizão Brasileira pelo Clima, Silvicultura e Agricultura, que enviou uma carta crítica nesta quarta-feira (28/04) ao PL 510/2021.

Segundo a coalizão, que reúne joint ventures, ONGs ambientais e associações industriais, o PL “pode causar sérios danos às florestas públicas e populações clássicas da Amazônia brasileira”.

Para Marcello Brito de Abag, as empresas são mais sensíveis do que as empresas rurais às considerações ambientais dos clientes (Foto: Divulgação)

PL 510/2021 substituiria regulamentos para a privatização de terras federais desmatadas ilegalmente e teria maior impacto sobre a Amazônia, onde estão concentrados Os espaços são baseados em medida provisória (MP) editada pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019, que expirou porque não foi aprovada pelo Congresso a tempo.

De 2011 a 2014, a proposta irajo alterou a chamada era ocupacional, época em que os espaços públicos desmatados podem ser privatizados por meio de procedimentos existentes, e criou um vácuo para a regularização de espaços desmatados agora ou no futuro.

Os defensores da alocação dizem que promoveria a “regularização fundiária” em terras da UE, impulsionando a produção de alimentos e facilitando o desmatamento.

Em nota enviada à BBC no início de abril, após a proposta, a senadora Iraja Abreu (PSD-TO), também filho do senador K-ti Abreu (PSD-TO), disse ter procurado se reunir com “milhares de famílias de fabricantes”. que aceitaram o desafio proposto através do governo de ocupar espaços desabitados na década de 1970 e até hoje, mais de 50 anos depois, não ganharam nenhum nome de suas propriedades. “

Mas para Marcello Brito, da Associação Brasileira de Agronegócios, se o objetivo é servir aqueles que migraram para a Amazônia há décadas, o desmatamento que ocorreu nos últimos anos não faz sentido.

Segundo ele, a conversão do chamado prazo “de ano para ano, para cima, não é a realização de justiça para quem foi lá (Amazônia) há 30 anos”. A última reposição na era ocupacional ocorreu em 2017, quando a época foi de 2004 a 2011.

Questionado sobre os beneficiários da proposta de Iraja, Brito respondeu: “Prefiro não entrar. Na verdade, não foram eles que esperaram 20, 30 anos para que o governo cumpra sua obrigação. “

Brito afirma que “a regularização do regime de regularização fundiária é uma das principais questões vitais para a consolidação do processo de progressão do Brasil”.

Mas ele diz que a lei existente já está abordando a questão. “As coisas dão errado por causa disso ou daquela lei, não são por causa da inposição dos órgãos culpados de fazer cumprir a lei fundiária brasileira.

Nos últimos anos, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), principal marco regulatório agrícola do país, perdeu orçamento e funcionários.

“Continuamos escondendo leis de salvaguarda, mas o processo de regularização no Brasil é acompanhado por mais lentos a cada ano”, diz o presidente da Abag.

“À medida que a geração aumenta, a inovação, o acesso por satélite, a digitalização aumenta, o que explica por que não vamos acelerar o processo?”ele pergunta.

Para Brito, não basta regularizar a propriedade pessoal; trata-se também de garantir que os espaços públicos vizinhos não sejam invadidos, o que não é abordado pela proposta de raiva.

Ele diz que a proposta não foi debatida e é quase uma cópia da MP 910, “que já rejeitou grande parte da sociedade no ano passado”.

Também afirma que a aprovação vem em um momento em que o símbolo do Brasil “já está fortemente corroído” devido à postura ambiental do governo e ao avanço do desmatamento na Amazônia.

“Você tem um erro estratégico em tentar reviver algo que já foi derrotado. Você tem um erro de tempo. Em um momento de pacificação das relações ambientais do país, você faz algo assim?”

A BBC News Brasil enviou as críticas de Brito ao senador Iraja, mas ele respondeu à publicação desta reportagem.

No início deste mês, o senador afirmou, por meio de sua opinião, que “o regime agrícola promete empregos e fonte de renda no campo, além de permitir o controle de órgãos (. . . ) verificar se a legislação é aplicada através de seus proprietários.

“O conceito é trazer fabricantes e famílias à formalidade, dar dignidade, estimular a produção formal e econômica, dando a essas outras pessoas seus direitos até mesmo para poder cobrar suas obrigações do Estado”, disse.

A BBC também solicitou uma entrevista à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) sobre a proposta de Iraja, mas a empresa disse que responderia. Em seu site, o ANC apoia a aprovação.

Rachaduras no agronegócioS A crítica à proposta de iraja por meio de Brito, presidente do principal acordo agroalimentar, está ocorrendo em um momento em que se desenvolve a divergência entre o componente aplicável do agronegócio e os gigantes dos proprietários rurais.

Em setembro do ano passado, a Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) – representante do item agrícola máximo exportado do país – deixou a Abag por divergir das posições da entidade sobre o desmatamento na Amazônia.

Alguns dias antes, a Coalizão Brasileira pelo Clima, Silvicultura e Agricultura, da qual Abag é membro, recebeu uma carta com conselhos para combater o desmatamento.

Na época, o então presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz, criticou Abag por suas pinturas na coalizão com “ONGs e banqueiros com interesses no Brasil”.

Em entrevista ao Canal Rural, Braz disse que o acordo com a indústria tinha “pouco acesso” ao que estava acontecendo “dentro da porta”, termo que se refere à atividade dentro das fazendas.

Aprosoja é próxima de Bolsonaro e anunciou que fará os protestos de maio em defesa do presidente e se opõe às medidas restritivas seguidas por governadores e prefeitos contrários ao Covid-19.

No dia 23 de abril, o novo presidente da Aprosoja, Anténio Galván, visitou a terra indígena de Sangradouro, no Mato Grosso, e disse que veria comunidades indígenas que desejam produzir soja, um tipo de iniciativa promovida pelo governo de Bolsonaro.

Aprova uma das principais entidades dos proprietários rurais brasileiros para apontar um manifesto de proteção ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em maio de 2020, juntamente com entidades como Abrafrigo (abatedouros), Abrafrutas, SRB (Sociedade Rural Brasileira) e Nica (cana-de-açúcar).

O manifesto foi uma reação a uma cruzada de ONGs opostas a Salles depois que o ministro avisou em assembleia no Palácio do Planalto que o conteúdo havia sido tornado público por ordem judicial para que o governo levasse crédito pela pandemia para “passar gado”, simplificar e eliminar normas ambientais.

Para Marcello Brito de Abag, as diferenças entre o agronegócio e os agricultores se devem ao outro grau de exposição de cada organização aos consumidores ambientalmente conscientes.

“Quanto mais perto você está do consumidor, mais estresse você está sob e mais você está ouvindo a mudança geracional. Quanto mais longe você está, ou seja, lá na produção número um, menos estresse você está sob e menos influenciados são as tendências de consumo do mercado. “Brito disse.

Mas ele diz que mesmo os proprietários de terras que hesitarem em substituir suas posições serão afetados. “A tensão possivelmente levaria um tempo para chegar lá, mas faz. “

Nos últimos meses, após a concorrência de outras partes do mundo, as principais empresas de carne do Brasil anunciaram metas para encontrar um equilíbrio entre as emissões de gases de efeito estufa e a absorção.

Grandes corporações globais também anunciaram seus projetos governamentais para manter as florestas e se concentrar em energia em branco.

“Os transtornos ambientais vieram para ficar. São distúrbios geracionais. Esse seria o maior desafio para o público mais velho hoje”, diz Brito.

O presidente Abag diz que, de fato, muitas críticas fora da posição ambiental do Brasil camuflam os interesses da concorrência do país, argumento usado pelo governo.

“Mas eu acho que isso faz parte do jogo. Em um mundo publicitário e competitivo, seu concorrente não facilita sua vida, isso te dificulta. O que pertence a você é mostrar seus pontos fortes e como eles têm funcionado”, diz Brito.

“O Brasil tem um ativo ambiental que a gente pinta como passivo. Em vez de sermos os protagonistas desse processo e continuarmos a liderá-lo, nos recusamos a ser deixados para trás, julgados e subjugados por outros. “

Ele também atribuiu diferenças internas no agronegócio à forma como a organização mantém as relações com o governo.

“Uma organização olha para o mercado e a outra olha para uma posição política. No nosso caso, fazemos política, protegemos o agronegócio brasileiro do que ele quer para sua expansão global, não importa quem esteja no governo. “

Brito diz que a “substituição de atitude” de Bolsonaro em recente ocasião de substituição climática convocada pelos EUAPrent Joe Biden prova que está “certo”.

Ao discursar no evento, o presidente brasileiro, que por vezes passou a culpar ONGs e povos indígenas pelo desmatamento na Amazônia, adotou um tom mais suave e disse que seu governo vai combater a destruição da floresta.

“Parabenizo a Chancelaria Brasileira pelo discurso escrito. É um discurso intransigente”, disse Brito.

Mas ele diz que não sabe se a mudança de tom se traduzirá em ações concretas.

“Se o que ele colocou se torna verdade ou não é outra história. Para nós, é difícil de acreditar, porque a narrativa não tem compatibilidade com os fatos, pelo menos foi o que se notou nesses dois anos de governo. “

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