“Invisível aos olhos”, os feminicídios de outros indígenas abrem o Brasil negligenciado

Povos indígenas das tribos Guarani, Guarani Mbya, Ava Guarani, Kaingang e Xokleng protestam contra o projeto de lei que permite a mineração em reservas indígenas antes do Congresso Nacional em fevereiro de 2020 em Brasília, Brasil (Foto: Andressa Anholete/ Getty Images)

[ALERTA DE GATILHO: Este relatório é uma descrição da violência sexual]

Agosto trouxe más notícias para os povos indígenas Kaingang do Rio Grande do Sul (RS) e Kaiowá de Mato Grosso do Sul (MS). Nas primeiras semanas do mesmo mês da Data Internacional dos Povos Indígenas do Mundo, duas mulheres foram encontradas mortas: Daiane Griá Sales, 14 anos, e Raíssa da Silva Cabreira, 11.

Daiane foi descoberta no dia 4 de agosto em uma fazenda próxima à Reserva Indígena Guarita, em Redentora, município onde morava, desaparecida desde 31 de julho, sem vida, sem roupas e com o corpo rasgado, o corpo estava em tal estado que não era imaginável identificar se os danos haviam sido causados por humanos ou animais. Especula-se que ele foi abusado sexualmente. Dois suspeitos foram presos e, segundo a Procuradoria, os homens não eram indígenas, acrescentando uma conotação racial ao crime.

No dia 9 de agosto, o corpo de Raíssa foi encontrado em uma pedreira em desuso próximo ao povoado Bororó, em Dourados (MS). A mulher supostamente estuprada por membros da própria rede, foi levada de sua casa, forçada a beber álcool e até desmaiou. Depois de gritar continuamente por socorro, seu tio ouviu as chamadas, mas em vez de ajudá-lo, ele se juntou ao grupo, e no final do abuso, dizendo que ela iria denunciá-los, jogou-a de um penhasco cerca de 20 metros de altura. Cinco suspeitos foram identificados. Três adolescentes foram internados em uma unidade socioeducativa e dois adultos foram encaminhados para o presídio do estado de Dourados, tio Elinho Arálavo, 33 anos, confessou à polícia e admitiu ter abusado da mulher desde os 5 anos de idade, poucos dias depois ele a descobriu morta. no estado penal de Dourados. O boletim de ocorrência fala de suicídio.

No dia 18 de agosto, foi realizada a audiência pública “Por todos os daianes”, na Câmara dos Deputados, com a participação das deputadas federais Maria do Rosário (PT-RS) e Joênia Wapichana (Rede Sostenibilidade-RR), lideranças, movimentos indígenas, mães e filhas de Guarita. “Eles falaram de medo, indignação e raiva por tudo o que aconteceu”, disse Bira Teixeira, advogado da família da vítima.

Maria do Rosário disse o momento máximo vital do relato das meninas sobre o contexto do crime, pois elas enfrentavam preocupação e vergonha. “Para eles, falar na frente de sua rede é uma conquista. Acreditamos que conhecemos a vida das mulheres, mas sem ouvi-las, não sabemos de nada. O parlamentar está acompanhando a investigação dos criminosos e três frentes parlamentares se uniram para refletir sobre os próximos passos. São eles: os direitos dos jovens e adolescentes, das mulheres e dos povos indígenas. Uma comissão nacional foi formada para monitorar e examinar as medidas legislativas, que até o final de agosto apresentarão propostas em nova audiência”, explica Maria do Rosário.

Marie Claire ouviu as mulheres dos abrigos afetados, os especialistas e o governo local (Polícia Civil e Ministério Público), o consenso entre as lideranças femininas é que elas querem construir mecanismos para a cobertura das mulheres nas comunidades. A Lei Maria da Penha é supostamente ampliada e adaptada às situações expressas de outros indígenas, além de entrar nas aldeias. Um dos pedidos é que haja um tradutor nas delegacias para atender os outros indígenas que não o fazem. falando português Outra urgência seria a criação de abrigos para que a vítima não tenha que conviver com o agressor.

“Como posso pedir a demarcação dos territórios indígenas que estão na Constituição e rejeitar Maria da Penha, que é uma lei federal, no meu território?”Isso seria uma contradição. Essas discussões terão que ser realizadas, assim como críticas”, explica Pietra Dolamita (Kowawa Kapukaja Apurinã), antropóloga e art educator. Para ela, falta a aplicação da legislação nesses espaços.

Sobre a história de Daiane, a reportagem conversou com Maria* (sob condição de anonimato), que foi sua instrutora em 2012, em tom de alívio, expressou sua tristeza não só pela morte, mas também pelo que ela vê como violência contínua contra mulheres e mulheres de comunidades indígenas, especificamente na Aldeia São João de Iraquá (RS), onde Maria mora no funeral de Daiane e, junto com outras mulheres, conversou com a mãe da menina, Júlia Griá, que fala apenas a língua Kaingang. O instrutor contou a história da troca verbal que teve com Julia.

“Isso nos causou um rebuliço, basicamente porque este é o momento do caso de estupro coletivo na família de Daiane. O relatório veio da mãe dele. A irmã mais velha foi estuprada aos 14 anos e ferida na cabeça. Com o objetivo de matá-la, ele diz: “Ele a atacou com pedras e a jogou no rio, mas a resgatou através de um usuário que a cruzou. Ele passou um mês na UTI. “

Segundo informações da Polícia Civil de Redentora, não há indícios do crime. A denúncia não foi apresentada, segundo Maria, por causa da dificuldade de comunicação do círculo de parentes dos membros. “Ela [a mãe] disse que não se reportou porque não sabia falar português e ficou envergonhada. “

A filha mais velha sobreviveu, mas o desamparo persegue a casa. “É um círculo de parentes condenados ao esquecimento. A mãe desesperada, sentindo que não há ninguém para interferir com ela. Em uma troca verbal com o professor, Júlia teria mostrado sinais de descrença: “Se eles não fizeram isso pelo outro, eu não acho que eles fazem isso por este também”.

Mary também sofre de falta de esperança de que as coisas vão melhorar. “Está escrito em nossa história, todos temos casos de violência doméstica ou sexual na família. “Ela mesma tinha sido vítima da violência doméstica do marido. Ele levou 3 anos. tomar a decisão de denunciá-lo à polícia. “Os doentes acabam ficando em silêncio até serem esquecidos. Há preocupação com retaliação. Se eles perceberem que a denúncia vai prejudicar um membro da família, eles [capitães e chefes] nos pedem para permanecermos em silêncio e de acordo com nossa legislação interna. Eles não punem, pois merecem ser punidos. E sem dados sobre seus direitos, eles não fazem nada. Eu estava lá.

Foram feitos apelos às autoridades locais, aos capitães, mas nenhuma medida foi tomada para protegê-la, disse ele. Depois de denunciar o culpado a uma delegacia, ele a expulsou de sua casa. Líderes internos pediram que ela retirasse a queixa. “Não é inteligente fazer isso e podemos resolver de outra forma e eu disse :”Não vejo sua preferência para resolver meu problema”. Eu disse que [a medida protetiva] a segurança que eu tinha que não ocorreria novamente.

Sua mãe também foi abusada durante seu casamento de 18 anos. Vindo de um círculo de familiares com histórico de violência, Maria tomou a decisão de parar. Fora da comunidade, ele teve que lidar com o preconceito étnico. Após 8 meses de processos judiciais sem resposta. durante uma audiência imaginável, ele foi ao Fórum e descobriu que o caso havia sido encerrado. “Quando eles leram para mim, eu entendi que eles interpretaram como uma prática cultural e é por isso que eles explicaram por que eles entraram com a ação. “pouca disposição no componente fórmula justiça ao ar livre para ajudá-la. “Não é cultura, é violência.

“Essa violência vem da cultura indígena. Os valores do patriarcado, machismo e dominação vêm da cultura dos povos nativos. “

Pietra Dolamita é inflexível quando descobre que é cultural, que para ela é alguma outra manifestação de racismo oposta aos povos indígenas. “Essa violência não vem da cultura indígena. Os valores do patriarcado, do machismo e da dominação não vêm da cultura dos povos de origem. Nosso namoro não é de estrutura de força, mas de comunidade.

Pietra está realizando estudos de doutorado sobre a antropologia da violência e a cena das mulheres indígenas na Universidade Federal Fluminense (UFF), o que está acontecendo hoje, segundo ela, é o legado da violência que começou há mais de 500 anos. “Para perceber o que está acontecendo é vital não esquecer que as mulheres indígenas foram estupradas, raramente através do pioneiro, do colonizador, dos jesuítas, do SPI (Serviço de Proteção Indígena), do exército, dos caçadores indígenas, raramente através da sociedade. “

Rejeita o silêncio dos líderes da rede sobre abusos contra as mulheres. “Não me sinto representado por líderes que fazem esse tipo de ação e não punem os agressores. “Segundo Pietra, há uma grande diferença quando as mulheres fazem parte da rede. hierarquia. Todas as outras pessoas são outras pessoas. Na minha, não existe esse problema, porque as mulheres vêm em combinação e resolvem esses casos.

O município de Redentora possui cerca de 11. 669 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e embora não haja dúvida para as mulheres entrevistadas sobre a extensão da violência na região, os números não parecem se encaixar nos números oficiais. Desde 2018, foram seis casos de estupro. Além disso, nenhum feminicídio jamais foi abastecido na região, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. De fato, há uma taxa máxima de agressão e violência doméstica, totalizando 63 em julho de 2021. que 16 tomaram posição este ano. Marie Claire tentou tocar no delegado da região algumas vezes, mas não houve retorno.

Conhecimento nacional sobre feminicídio indígena não é informado

Há uma discrepância entre os conhecimentos coletados e os relatados por meio do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, órgão que publica o Anuário de Segurança Pública, revelando os índices de violência no país com base na investigação de boletins de ocorrência de todos os estados. apenas 11 casos de homicídios de mulheres indígenas em 2020, mas apenas dois estados transmitiram os dados como indígenas: Rio Grande do Sul e Roraima, houve dez casos no primeiro e um no segundo, os outros não relataram casos de indígenas”, disse Samira Bueno, Diretora Executiva do Fórum.

“Morremos em silêncio”, disse Clara Barbosa de Almeida, 47 anos, conselheira étnica Kaiowá que mora perto da aldeia de Raíssa. “É infeliz comunicar nossa história. Quase todos os dias, violência, estupro, feminicídio.

Clara vê um cenário de esquecimento com os outros povos indígenas e menciona outras dificuldades encontradas através dos demais. Uma das razões para o aumento da violência, diz ele, é a superlotação da Aldeia de Bororó e a miséria. aumento do abuso de drogas e álcool. Morremos de forma alguma, os outros Kaiowá Guarani sofrem com a negligência do Estado. Sofremos com a falta de área e comida. Ainda não começou.

Alice Rocha, 43, conselheira tutelar em Dourados, diz que muitos relatos de violência acontecem através do Conselho Tutelar, que goza do respeito e aceitação da rede. A recusa em relatar também está relacionada à violência institucional sofrida. através dessas mulheres em delegacias de polícia. “A polícia acaba montando uma ferramenta de opressão”, diz ele. Crianças ou mulheres vítimas de estupro ou qualquer tipo de violência, quando saem da rede para pedir ajuda, chegam em uma área com a qual ninguém se identifica, e ainda mais, onde têm que ouvir as perguntas da assistente, por exemplo, por que não gritaram ou ouviram a delegada que na idade dela já sabe o que quer.

No mesmo dia em que o corpo de Raíssa foi encontrado em Dourados, Alice estava procurando por outra menina de 10 anos da aldeia, também desaparecida. “80% das ocorrências atendidas pelo conselho tutelar da cidade vêm da comunidade indígena. “

Quando soube da morte da garota, pensou que era a mesma coisa, mas não é o caso. Duas mulheres ao mesmo tempo foram estupradas, uma desaparecida e a outra morta, a jovem Juliana * resgatada. Em seus 10 anos de vida, este é o quarto estupro que ela sofreu contra meninos e homens entre 13 e 35 anos. “De agosto a julho até agora, lidamos com seis casos de estupro na comunidade. só aqueles que foram para o cabildo, muitos não. Toda semana, os estupros são relatados na comunidade, que tem uma população de cerca de 18. 000 habitantes, disse ele. E, diariamente, o aconselhamento é ativado através de casos de abuso.

“O cabildo trabalha com o objetivo de fortalecer a permanência da criança em seu território, e com isso temos a da polícia para que eles tirem o agressor, para que a vítima possa permanecer lá. “

No entanto, este quid pro quo não ocorre e a criança terá que ser removida rapidamente. Se há alguém do círculo prolongado de parentes que é capaz e disposto a cuidar da criança, as fotos são feitas para fortalecer o Vínculo e a convivência. Se o círculo total de familiares viola os direitos das crianças, então eles são institucionalizados em um abrigo, no entanto, esta é a última medida que é aplicada.

Outro cenário recente viveu Laura*, de 13 anos. A filha aborígine morava com a mãe, irmãos e padrasto. Um dia, ela foi sequestrada através do sogro e forçada a viver com ele como uma “esposa”. Meses se passaram, o cara abandonou a criança na cabine e voltou para sua esposa, nessas circunstâncias, após ser colocado na prefeitura, ele teve que ser seguido pela família estendida.

Alice também comenta sobre o caso de Raíssa: “É uma tragédia prevista, que infelizmente não teve sucesso no Conselho Tutelar a tempo”. O tio que estuprou e matou a mulher tem duas filhas, o desafio é ver se elas também eram vítimas. Quando perguntado sobre o ódio demonstrado contra mulheres e mulheres, ele lembrou das situações deprimentes da reserva. Raíssa morava em uma cabana com a família.

Casa de Raíssa (Foto: inscrição através de Alice)

Temos distúrbios com moradia, escolaridade e fome. Costumo dizer que invadimos os territórios indígenas, esmagamos-nos. A vila de Dourados fica perto da reserva e ocupamos seu território e os deixamos em uma aglomeração de violações de direitos. . Há todos os transtornos sociais lá, mas lá eles são ainda maiores porque não há ajuda suficiente. “explica o coordenador da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Marciano Rodrigues Guarani. Isso reforça o fato de que as vulnerabilidades sociais e territoriais têm um efeito maior dentro das comunidades, como violência e suicídio. “particularmente na região sul, conflitos territoriais, a vulnerabilidade territorial dos povos indígenas à perda de territórios. E é daí que vem o impacto dessas relações com a sociedade. Há muitos transtornos.

Para ele pouco tem sido feito através de órgãos públicos. A autonomia dos povos é importante, mas que não isenta o Estado de garantir segurança e situações para uma vida digna. “O governo pouco fez para nos ajudar. Temos uma Funai que não atende mais às expectativas das pessoas. Na realidade, não responde ao que se pretendia defender, socialmente, mentalmente e em todos os aspectos das comunidades. O movimento indígena acabou por assumir esse papel, mas sem as situações técnicas para isso.

Os casos tiveram efeito nacional por causa do ponto de brutalidade, diz a conselheira tutelar Alice. No entanto, na maioria das vezes, “estupro, violência doméstica e feminicídio de outros indígenas são invisíveis para a sociedade”. uma série de fatores, a não denúncia de instâncias, a não interferência do Poder Público nas aldeias e até mesmo o silêncio do governo indígena em alguns dos territórios.

Por outro lado, porém, há uma faceta que contribui para sua ignorância, e é assim que os dados são coletados nas delegacias. Samira Bueno explica que o cálculo do feminicídio é baseado em dados de boletins de ocorrência, que não estão em conformidade com uma norma nacional. Em outras palavras, cada Estado, com sua própria força policial, e sua própria metodologia. “Ao contrário do que acontece na Saúde, segurança pública, o registro não é feito de forma padronizada, não há classificação, não há boletim nacional, então cada policial faz isso de outra forma, são 27 policiais civis, 27 sistemas de dados, 27 modelos de propagandas e investigação, embora seja a mesma lei que regulamenta as pinturas desses profissionais.

“Quando analisamos os relatórios de morte, não é incomum que a raça/cor apresentada na trilha sonora pareça ‘marrom’. O que é?É uma mulher Metis ou uma mulher aborígene?

Os dados de cor e etnia nas cédulas seguem os critérios de autodeclaração, conforme cálculo do IBGE. Quando ocorre um assassinato, ele explica, na primeira gravação, que não é incomum que os funcionários entendam como identificam os “Quando analisamos os relatórios de morte, não é incomum que a raça/cor que aparece no BO apareça como “marrom”. É mestiço ou indígena? Não é incomum que os operadores tragam tanta curiosidade quanto possível nomenclatura. Essas são apenas algumas das situações exigentes que enfrentamos ao medir os assassinatos de povos indígenas no Brasil. “

A avaliação de Samira é que a polícia identifica mulheres indígenas como morenas ou morenas ou não se conforma com sua etnia. Sem mencionar as vezes que não há identificação. Temos 15. 000 cédulas nas quais não há forma de cor. Dos 50. 000, 15 que não conhecemos Em 3000 casos, a etnia só parece na forma “outra”.

A questão é que, se não houver números expressivos, não há popularidade de um desafio. “Se não houver dados, não há dados fundamentais para investigar esse fenômeno, nunca será um desafio reconhecível para as fórmulas das novas políticas públicas. “. Porque ainda é invisibilidade.

A mesma dificuldade surge com a popularidade do crime de feminicídio, equivalente a um crime de ódio. Muitos casos acabam sendo marcados como não homicídios incomuns. Uma das situações exigentes do Fórum é identificar-se a partir do BO. pelo menos 15% dos homicídios intencionais são, na verdade, feminicídios, porque os policiais eram companheiros íntimos da vítima. “

O ideal, segundo Samira, seria um “processo de revisão dos boletins de ocorrência após a investigação, não apenas para obter mais informações sobre o perfil da vítima, como idade, raça, mas também em relação ao tipo de crime, como feminicídio. Mas nem todos os estados o fazem. Nesta última etapa, testemunhas e círculos de parentes teriam sido ouvidos, o relato da vítima seria conhecido. No entanto, o registro de direitos ainda estaria longe de garantir um diagnóstico preciso da situação. problema, uma vez que muitos abusos nem sequer são relatados. Para uma mulher que relata um caso de estupro ou violência doméstica, há uma ameaça de ter que conviver com o agressor, sem medidas efetivas de cobertura.

Flávia Arino, também líder da etnia Kaiowá, comenta a vulnerabilidade de quem toma a decisão de denunciar: “A mulher é estuprada e acaba ficando na mesma área que o agressor. Estamos buscando parcerias para que o estado de Mato Grosso do Sul seja campeão de feminicídio [43 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2020, o estado tem a maior taxa do momento consistente com 100 mil habitantes, atrás de MT]. eles também estão sendo consistentes com aqueles perseguidos.

Flávia faz parte do Kuñangue Aty Guasu, um encontro de mulheres das etnias Guarani e Kaiowá, que atuam como porta-vozes do cronograma de defesa dos direitos dos povos indígenas, para dar visibilidade às atrocidades, começaram a mapear casos nas próprias aldeias.

Ana *, 23 anos, mora na mesma reserva que Raíssa, conhecia a garota. Contatada pela jornalista, sua reportagem se tornou uma reclamação, também estuprada na adolescência. O primeiro cometido através de seu sogro, o momento através de um menino de fora da comunidade, que supostamente ameaçou seu preso com um facão. Ela se emociona quando fala sobre Raíssa: “Ela é como eu. A mesma coisa aconteceu. para mim, no entanto, tenho sorte de sobreviver. Eu morri psicologicamente, é muito difícil de recuperar. “

A primeira vez que ela foi capaz de se comunicar sobre o abuso em um círculo de troca verbal na universidade onde estuda, por muito tempo ela permaneceu em silêncio, além do medo, houve desonra e também descrença em relação às autoridades. Estuprada através de uma prima, ela diz, ela tentou ir à delegacia para denunciar, mas lá ela o desacreditou: “Eu disse a ela que não tinha provas, eu não tinha hematomas. “

Diante das palavras do padrasto, ele procurou contar à mãe a tempo, que estava temporariamente separada do agressor. Quando ele entendeu o que tinha acontecido, ele teve a coragem de denunciar: “Eu tinha vergonha de contar à minha mãe. “Após o abuso, ela diz que não tinha a rede e agora teme por sua filha de dois anos: “Acabamos normalizando depois de tantos casos. Muitas outras pessoas já partiram, foram estupradas e morreram. Eu vejo isso. ” todos os dias aqui.

O delegado Erasmo Cubas, culpado do caso de Raissa, disse que havia dificuldades por parte da polícia em usar tintas preventivas nas aldeias. “Há uma superproteção dos direitos indígenas, o que acaba impedindo a polícia estadual de ter acesso às aldeias sem colocar em risco a polícia.

Ao contrário do Rio Grande do Sul, o conhecimento da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso do Sul registra taxas de feminicídio e estupro por local. A reportagem foi comunicada à Delegacia da Mulher de Dourados por telefone e e-mail, mas não obteve resposta. .

Mais adiante, no Amazonas, um município às margens do Alto Rio Negro tem chamado a atenção quando se trata de violência contra a mulher, um alto índice de declarações apontou o dedo para o município de São Gabriel da Cachoeira, com pouco mais de 31 mil habitantes. , nove em cada dez são indígenas.

Quase não há conhecimento sobre o cenário na região, na base do portal da Secretaria de Segurança Pública há apenas números de violência doméstica: 4 desde 2019, mais uma vez a reportagem pediu conhecimento à polícia civil, e não houve reação até a publicação.

O que se sabe são os crimes relatados ou reportados pela imprensa. Marie Claire mapeou cinco instâncias no Amazonas entre 2020 e 2021; 4 em São Gabriel da Cachoeira e 1 em Barreirinha. Posteriormente, os nomes e ocasiões foram mostrados nas delegacias regionais. Fátima de Jesus Correia Lima, 13 anos; Anazilda Cordeiro Barra, 20. Régiane Cordeiro, 15 anos; e Clessiane Santos, 22, em São Gabriel da Cachoeira; e Ana Beatriz Rayol de Souza, 5 anos, em Barreirinha.

Dois deles são objeto de disputas narrativas. Segundo a polícia civil, Clessiane Santos, que morreu em uma praia na região da Mangueira, pulou em um poste imediato após beber bebidas alcoólicas com o ex-companheiro. Diz-se que Fátima de Jesus Correia Lima morreu em situação semelhante. Segundo informações da polícia, a vítima “estava sob a influência de bebidas alcoólicas quando o adolescente começou a se afogar, e pensou que o adolescente estava simplesmente ‘brincando’ por não saber nadar”.

Os depoimentos de parentes de Clessiane contrastam com as versões oficiais. Na verdade, ela já havia denunciado o ex por agressão física e tomado medidas de proteção contra ela. Por lei, se você a abordasse, poderia ser preso. De acordo com o procedimento, Clessiane não foi vítima de feminicídio. Um usuário próximo à vítima, que pediu que sua identidade não fosse revelada, comentou o ocorrido: “Clessiane foi ameaçada de entrar no carro em que estava. Ele queria conversar, mas estava chapado, tinha fumado crack. . Depois que ela entrou, ele disse que iam para a praia, mas ele a levou para a cachoeira, um lugar conhecido como mangueira, lá eles discutiram e começaram a se atacar. Aí aconteceu a fatalidade, o que disseram foi que ele bateu forte na nuca e ela caiu, bateu na pedra e desmaiou. Com isso, ele ainda jogou na água, acho que não havia notado ninguém antes, porém descobriu que um pescador o havia notado e também se atirou para dizer que ela havia pulado e estava procurando salvá-la. , mas até então já havia desaparecido nas águas negras de São Gabriel. “

Impressões de mensagens de texto recebidas através do relatório também mostram que Clessiane relatou ameaças de morte através de seu ex-parceiro a um conhecido.

Líderes de outras etnias têm denunciado publicamente a violência de gênero e o silêncio em torno do problema, esta semana povos indígenas de todo o país estão se mobilizando perante o Congresso Nacional contra projetos que colocam em risco a vida dos povos indígenas – acrescenta o Prazo, proposta que propõe a demarcação de territórios se as equipes forem ocupadas antes da promulgação da Constituição Federal, em 1989, e que hoje uma ação será votada nesse sentido através do Supremo Tribunal Federal (25). Outro projeto de lei (Lei 490/2007) também é visto como um risco para as terras indígenas, que propõe a eliminação da Funai da prerrogativa de demarcação e confere poder de decisão ao Congresso Nacional, que pode privilegiar os interesses da bancada rural. Na programação das reuniões em Brasília, uma moção de mulheres discutirá a violência de gênero nas comunidades.

Marie Claire entrou em contato com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, chefiado por Damares Alves, para perguntar se a Ministra está ciente das mortes e como seu Ministério está trabalhando no combate à violência de gênero contra os povos indígenas. Reportagem relatou que essa é uma questão muito expressa: “O Ministério tem políticas públicas mais amplas, que aliadam as mulheres em geral. A orientação para que o relatório procure a Funai”.

Em seguida, foi colocada a mesma consulta à descoberta, que dizia: “A Funai especifica que, através dos conjuntos descentralizados do órgão, monitora as ocorrências de violência contra a mulher, subsidiando tecnicamente a funcionalidade dos órgãos competentes de segurança pública”. você pode descobrir no final do artigo.

* Os nomes das testemunhas, vítimas e testadores foram substituídos por razões de segurança.

Nota da Funai: A Fundação Nacional do Índio (Funai) atua, por meio da Coordenadoria de Assuntos de Gênero e Gerações, auxiliando as mulheres indígenas na busca pela não discriminação e fortalecendo seu papel na promoção de uma vida inteligente, sempre levando em consideração a diversidade e expressividade das comunidades. Desse modo, é concebível identificar um procedimento para ouvir suas solicitações por meio de órgãos governamentais para gerar ações expressas. No ano seguinte, com o objetivo de ampliar a participação social das mulheres indígenas, a Funai apoiou, entre outras ações, o II Encontro de Mulheres Krahô, no Tocantins; a oficina de combate à violência contra as mulheres indígenas, no Rio Grande do Norte; o Encontro Regional de Mulheres Waiãpi, no Amapá; o Encontro de Mulheres e Jovens Baniwa e Kuripako, no Amazonas, e a 2ª fase do projeto Wanzej Pane – Círculo de Conversação de Mulheres de Zoró, em Rondônia. de todo o Brasil, como a coleta e comercialização da castanha de baru, realizada por mulheres indígenas na Terra Indígena Pimentel Barbosa (TI), no estado de Mato Grosso. A iniciativa gera uma fonte de renda para a rede e contribui para a autonomia das mulheres da etnia Xavante. Por fim, em relação às ocorrências expressas de feminicídio, a Funai especifica que, por meio das unidades descentralizadas do órgão, acompanha as ocorrências de violência contra a mulher, subsidiando tecnicamente a funcionalidade dos órgãos competentes de segurança pública.

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