“Ou eu fui para elegância ou comi”: como a falta de confiança na comida prejudica os universitários brasileiros

A estudante de patologia da língua fala Franciele Rodrigues diz que tem problemas para comer desde que entrou na faculdade em 2013, mas piorou com a pandemia.

A universitária Franciele Rodrigues, 29 anos, anda de moto para fazer entregas de comida a serviço de um aplicativo, para receber um pagamento em dinheiro e, com ele, ter uma quantia segura na mão para garantir sua comida. Alguns dias.

Ela se formou em fonoaudiologia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) com problemas de parto na capital paulista porque, desde que foi morar com seu círculo de parentes na periferia de Porto Alegre e se tornou uma universidade. estudante, “o animal preso” para atender seus pedidos de trabalho autônomo, moradia e subsistência.

Tudo isso em um cenário que, segundo ela, vem acontecendo há anos: ela come pouco e mal, o que já teve consequências para sua saúde.

“Ir para a faculdade significava deixar fotos e não cuidar da minha saúde. Quando saí do espaço dos meus pais e entrei na universidade, foi a primeira vez que tive que racionar alimentos para ter mais tempo e diminuir a qualidade da minha nutrição para comer, comer no dia seguinte”, disse Franciele à BBC News Brasil por telefone, e disse que já tinha passado alguns dias sem comer nada no caminho. além de sofrer de anemia.

“Durante a pandemia, esse desafio alimentar piorou. O valor das coisas aumentou muito. “

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Crédito, Tiago Coelho / BBC

Para complementar a renda, a universidade franciele faz entregas de motocicletas

Situações como a darrada por Franciele, de desconfiança alimentar entre universitários, têm atraído a atenção de pesquisadores no Brasil e no exterior.

Não há conhecimento nacional ou conhecimento de outros anos que possa demonstrar um aumento recente da falta de confiança alimentar entre esses acadêmicos no Brasil, no entanto, pesquisadores da região recomendam que a piora dos indicadores econômicos, os cortes orçamentários para as universidades e a pandemia possivelmente teriam sido exacerbadas. O problema Esta era resultou, por exemplo, no fechamento de restaurantes universitários (Reino Unido).

A equipe da BBC News Brasil lê alguns de seus relatórios

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Por isso, diversos estabelecimentos anunciaram que estão coletando dados e realizando estudos com acadêmicos sobre seu desafio alimentar diante da pandemia, como na Universidade de São Paulo (USP) e nas Universidades Federais de Uberlândia (UFU), no Estado do Rio. de Janeiro (Unirio), Acre (UFAC), Rio Grande do Norte (UFRN), Mato Grosso (UFMT) e Paraná (UFPR).

Alguns efeitos já foram publicados. Um estudo clínico de março mostrou que 84,5% dos 84 acadêmicos residentes no Complexo Residencial da USP (CRUSP) pesquisados online tinham algum ponto de falta de confiança alimentar, explicado por pelo menos uma resposta afirmativa a perguntas como “nos últimos 3 meses, a comida acabou antes de você ter dinheiro para comprar mais?”Você acabou com o dinheiro para comer saudável e variado?” ou “você estava com fome, mas não comeu porque você não podia comprar comida suficiente?”

Na tese de mestrado da nutricionista Natália Caldas Martins, da Universidade de Fortaleza (Unifor), descobriu-se que 84,3% dos 428 bolsistas das universidades públicas da Bahia e do Ceará tinham algum grau de desconfiança alimentar diante da pandemia – 35,7% leve, 23,6% moderada e 25% grave.

Esses acadêmicos universitários fazem parte de um componente gigante da população brasileira em situação de insegurança alimentar: havia mais 116,8 milhões de pessoas nesse cenário no país em 2020, segundo a Pesquisa Nacional Covid-19 sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia. Segundo o levantamento, o percentual da população afetada tem componentes maiores em mais de dois anos.

Falando à BBC News Brasil, Franciele Rodrigues, que mora com o namorado, que agora está desempregado, disse que a única proteína que tinham em casa naquela semana eram ovos, e ainda assim ela foi racionada.

“Ontem comemos ovos ao meio-dia e à noite, arroz e feijão para o almoço (ovos) hoje”, disse ele.

Em sua universidade, a UFCSPA, não há lugar para comer na universidade, seu estilo de vida não é exigido por lei, mas Franciele tem um auxílio alimentação mensal de R$300, mais R$400 em auxílio-moradia.

Sem pinturas devido às categorias de regime e estudo e com aluguel e outras despesas para pagar, esse valor é inadequado para ela, diz ela.

“Durante meu primeiro mês de faculdade, fiquei sem dinheiro porque a bolsa de estudos demorou a sair. Houve dias em que eu não comia. Ou eu fui para elegância ou eu comi.

Crédito, Tiago Coelho / BBC

“Não sabemos se o dinheiro sairá do aplicativo”, diz um estudante de patologia em linguagem de fala sobre as razões para racionar alimentos em uma semana.

Com a pandemia, o namorado, que trabalhava em um restaurante, perdeu o emprego; sem aulas presenciais, você pode não vender mais os lanches e sucos que vendeu para a faculdade, desperdiçando um pouco mais de receita. ela organizou a entrega de cestas de alimentos mensais para estudantes vulneráveis como ela, mas Franciele diz que parou de receber a doação este ano.

Hoje em dia, até o café está faltando na casa e o culminar é escasso, em vez disso, ovos congelados, salsichas e hambúrgueres começaram a ocupar um nível médio nas refeições.

“Nós pulamos o café da manhã. Estamos acostumados a almoçar e jantar”, diz Franciele, dizendo que já havia perdido um tópico quando as categorias estavam cara a cara porque ela não tinha nada para comer. “Hoje vejo que o cenário é terrível mesmo para aqueles que não recebem ajuda estudantil. “

Para Juliana Castro, estudante de turismo de 21 anos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), uma solução para reduzir a fome pulando comida tem sido dormir, através de medicamentos para isso. Ele começou na época em 2018, beneficiou-se de bolsas de estudo por alguns meses, não encontrou trabalho para complementar sua renda e hoje planeja se endividar. Como esse cenário monetário afeta diretamente sua dieta, ele diz que só perdeu cerca de 20 kg nos últimos dois meses.

“Posso dizer que no último semestre que passei acho que porque Deus o procurou. Eu não conseguia ler o texto, então a escrita saiu do comum”, conta Juliana, que nasceu na pequena cidade de Palma (MG). e agora vive em um dormitório na UFJF. ” Não consigo me concentrar para fazer as coisas, estou desconfortável, cansado. Eu já desmaiei porque eu não gosto. Meu abdômen e cabeça doem de fome. “

“Nos dias em que eu não gosto de nada, literalmente nada, eu só durmo. Às vezes tomo pílulas para dormir, porque quando durmo, não tenho fome. “

Desde o início da universidade, a estudante conta com a ajuda de amigos, que lhe dão uma porcentagem de suas compras ou emprestam seu dinheiro ou um cartão; e ganhou algumas bolsas por um tempo, com valores abaixo do salário mínimo.

Juliana diz que ganhou uma bolsa de estudos de dois anos semelhante ao Plano Nacional de Apoio ao Estudante (PNAES), mas o salário acabou; ele também ganhou por alguns meses uma subvenção apoiada por emendas parlamentares para a Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, precisando voltar às pinturas em projetos de expansão. No entanto, suas contas são irregulares.

Em nota, a UFJF afirmou que “dada a origem dos recursos – emenda parlamentar – o pagamento da bolsa dependia do envio de recursos monetários pelo Congresso, o que não foi feito de forma linear e de acordo com prazos pré-estabelecidos”. .

A universidade disse que as bolsas pagas aos estudantes de graduação tinham até junho de R$ 400, mas tiveram que ser reduzidas para R$ 300 “devido às restrições orçamentárias às quais as universidades brasileiras estavam sujeitas”.

A UFCSPA, onde Franciele Rodrigues é estudante, disse em nota enviada à reportagem que um restaurante universitário, com inauguração prevista para 2022, estava sendo construído: “(. . . ) deve-se notar que a UFCSPA tornou-se uma universidade federal em 2008, e desde então a aplicação (através de um restaurante) foi submetida através da comunidade universitária, uma solicitação que está sendo atendida através do endereço existente. “

“Destacamos a importância do PNAES que, mesmo com cortes significativos no orçamento, bem como outras políticas públicas, tem sido uma ferramenta que colabora na segurança alimentar e na retenção de alunos no ensino superior”, acrescentou a UFCSPA.

Crédito, Tiago Coelho / BBC

Pobreza e sair de casa fazem com que alguns acadêmicos universitários se voltem mais para a insegurança alimentar

O Plano Nacional de Apoio ao Estudante (PNAES) criado em 2010 e transfere o orçamento para estabelecimentos federais de ensino superior para prestar, de acordo com suas políticas internas, assistência a bolsistas universitários em habitação, alimentação, transporte, inclusão virtual, entre outros.

No entanto, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, afirma que esses movimentos são dificultados no contexto de “redução de mais de um bilhão de reais” no orçamento das universidades federais, atraindo conhecimento da Associação Nacional. de Diretores de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) sobre a queda do investimento entre 2020 e 2021.

Andifes afirma que os recursos do PNAES têm sido insuficientes nos últimos anos e são preferencialmente alcançados em 1,5 bilhão de reais, porém, segundo levantamento da organização, em 2021 houve o maior alívio no orçamento do programa nos últimos cinco anos: o valor executado diminuiu 15,78%, passando de R$ 1 bilhão em 2020 para R$ 874 milhões em 2021.

Esses valores são nominais, ou seja, não levam em conta a reposição da inflação, de modo que a minimização no orçamento é superior a 15,78%.

Por outro lado, isso na inserção dos alunos, segundo o presidente da UNE.

“Como a crise econômica é muito mais grave agora e cada vez mais acadêmicos e suas famílias perderam renda, o dinheiro alocado nesses sistemas e bolsas não tem acompanhado as necessidades. Ainda não sabemos sobre o declínio da faculdade pós-pandemia. “, mas com certeza eles querem se levantar”, escreveu Brelaz à BBC News Brasil.

O Ministério da Educação respondeu ao pedido de posicionamento do artigo.

O estudante de Direito Erisvan Bispo, 43 anos, está bem ciente da lacuna entre bolsas e necessidades, é aborígene, recebe a bolsa de R$ 900 e, no passado, também ganhou auxílio moradia e alimentação.

O Bolsa Permanência, criado em 2013, por meio do governo federal, é um auxílio monetário destinado principalmente aos acadêmicos aborígenes e quilombolas das instituições federais.

Em 2019, Erisvan teve que optar por uma das bolsas, como regra em sua universidade, a Federal da Paraíba (UFPB), passou a proibir o acúmulo de auxílio estudantil com a bolsa de permanência. Perto de sua casa em Mamanguape (PB) e em seu campus, não há restaurante universitário.

“Olhando para o valor emergente das coisas, você está perplexo. Quando você pensa em quanto dinheiro entra e quanto você tem que gastar, você fica louco”, disse Erisvan à reportagem por telefone. dedicar-me muito. Não é para examinar e trabalhar, no entanto, obter um coeficiente maior de funcionalidade é difícil.

“Sem trabalho, eu nas políticas sociais. “

Segundo o conhecimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o “preço das coisas”, como disse o universitário, é maior, principalmente em termos alimentares. pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPC), foi de 11,7%, registrado em outubro, entre os 10 alimentos que superaram a máxima foram pimenta (85,37%), açúcar sutil (47,8%), mandioca (40,7%), filé mignon (38%) e tomate (31,99).

Em nota, o professor Alfredo Rangel, reitor de auxílio estudantil e promoção da UFPB, disse que a universidade tem recentemente 4 restaurantes universitários e pretende abrir uma unidade em Mamanguape no próximo ano.

Ele acrescentou que a UFPB ganhou um orçamento menor para assistência estudantil, a universidade tem controlado para manter o preço e o número de bolsas que geralmente são oferecidas.

Também com um orçamento apertado, no caso dela para pagar aluguel, moradia, internet, transporte e alimentação, Erisvan diz que se livrou de pedaços de sua nutrição que ela chama de “supérfluos”, como iogurte, queijo, biscoitos recheados, tapioca. mascar chiclete e frutas.

“A única carne que posso comer são hambúrgueres, pepperoni e salsichas, porque é barato”, diz Erisvan, acrescentando que perdeu peso devido à mistura de falta de fonte de renda e tensão nesse cenário.

Em um futuro próximo, ele diz que espera oportunidades de estágio remunerado e, a longo prazo, as recompensas que sua carreira pode trazer.

“Às vezes, por causa dos cortes (no ensino superior), me sinto rebelde. Mas também sou muito grato por estar na faculdade. Eu não acordo reclamando, me arrependendo. . . Sei que estou sofrendo na minha vida. Algo inteligente vai acontecer depois que eu me formar, depois do cartão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Erisvan diz que tem uma vida após a morte “muito pobre” e é o primeiro em seu círculo de parentes a passar para a faculdade. Nascido em uma vila nas montanhas de Ororubá, Pernambuco, ele e seu círculo de parentes emigraram para São Paulo (SP) fugindo da terra. Viveu por cerca de 30 anos na capital paulista, depois voltou a morar e examinar no Nordeste.

Assim como ele, Franciele Rodrigues e Juliana Castro também são a primeira geração de seu círculo de parentes a passar para a faculdade.

Embora venha dos Estados Unidos, um dos maiores estudos já realizados sobre a falta de confiança em alimentos nas universidades mostrou que os acadêmicos de “primeira geração”, ou seja, acadêmicos cujos pais não tinham ensino superior, aqueles com menor nível socioeconômico, além de imigrantes e pessoas trans, eram mais vulneráveis ao problema.

Estudos publicados em 2019, intitulados Insegurança das necessidades básicas das faculdades e universidades e realizados por meio do Centro Esperança, entrevistou 86 mil bolsistas de 123 universidades; desse total, 45% foram inseguros em relação à alimentação nos últimos 30 dias.

Crédito, Tiago Coelho / BBC

Franciele, como outros entrevistados, faz parte da primeira geração do círculo familiar a frequentar a faculdade.

A nutricionista Tânia Aparecida de Araújo é uma das autoras dos estudos sobre desconfiança alimentar entre os estudiosos residentes no complexo residencial da USP (Crusp) na pandemia. Ela diz que, neste estudo e em outros do Brasil, a baixa fonte de renda foi um dos picos vitais na falta de confiança alimentar dos escolares.

Dos acadêmicos inseguros por alimentos através da Crusp, 92,6% tinham uma fonte de renda considerada insuficiente.

Para Araújo, é exatamente a chegada de acadêmicos de baixa renda na universidade nas últimas décadas, movimento que ele atribui às políticas de inclusão dos governos do PT luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e Dilma Rousseff (2011-2016). ), o que tem estimulado a desconfiança alimentar nas universidades como tema de estudo.

“Agora temos mais pessoas de baixa renda entrando na faculdade, o que é muito positivo porque há ciclos de pobreza que podem ser quebrados. Mas antes, estudantes universitários, geralmente universidades públicas, pertenciam a uma classe média branca. políticas públicas para garantir, entre outras coisas, a segurança alimentar e nutricional desses alunos”, explica a pesquisadora, doutora em aptidão pública pela USP.

A nutricionista destaca que, além de sua formação socioeconômica, os acadêmicos universitários são mais vulneráveis à falta de confiança alimentar porque não possuem mais redes como alimentação e moradia na casa da família. alimentos ultraprocessados como hambúrgueres e macarrão instantâneo porque são rápidos, convenientes e baratos.

Ela também enfatiza a importância dos restaurantes universitários, mas diz que eles merecem não esperar que todas as refeições dos alunos sejam totalmente esperadas. Querer comer em lugares diferentes deles é válido, e em alguns casos é necessário, como no caso de Juliana Castro, que teve transtornos com intolerância a diversos alimentos que não são incomuns no cardápio britânico de sua universidade, como leite e carne de porco.

“Acreditamos que o usuário vulnerável terá que se contentar com qualquer coisa, no entanto, todos têm o direito de escolher sua própria comida. Por mais que você tenha um restaurante universitário, é muito complicado para você obter um diploma e fazer todas as refeições. almoço e jantar no restaurante”, diz Tânia Aparecida de Araújo, destacando a importância dos subsídios, além da UR.

Bruna Brelaz, da UNE, também destaca as diferenças entre as instituições: embora as universidades federais tenham o PNAES e o Bolsa Permanência, embora não sejam suficientemente implementados em sua avaliação, as universidades estaduais possuem políticas e movimentos que variam de acordo com a unidade federativa. .

“Em nossa opinião, é obrigatório ter leis, mas também decretos estaduais, para garantir a manutenção desses direitos, além da regulamentação e coerência de situações inteligentes para sua disponibilidade”, explica o presidente da UNE.

“Por outro lado, nas universidades pessoais, nossa verdade é a falta de regulamentação, que, dessa forma, não garante refeições, por exemplo”, acrescenta. “Se uma universidade pessoal institui esses restaurantes ou vales-alimentação estudantil, é por iniciativa própria, mas sem qualquer regulamentação oficial ou pesquisa. “

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