Facas, arco e flecha e livros sobre o nazismo foram apreendidos em operação contra grupos de neonazismo
Em meio a investigações sobre grupos neonazistas, um nome esteve presente em diferentes momentos: Guilherme Taucci Monteiro.
“Ele é um ídolo para muitos adoradores de movimentos de apologia ao nazismo”, diz o promotor Bruno Gaspar, que há meses vem apurando sobre o funcionamento desses grupos no país.
Taucci foi um dos responsáveis pelo massacre que matou dez pessoas na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, na manhã de 13 de março de 2019.
Então com 17 anos, ele e o amigo Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram a escola com revólver, uma machadinha, uma besta com dardos, coquetéis molotov e bombas falsas. De acordo com a investigação, eles teriam se inspirado no massacre da escola de Columbine, no Estado americano do Colorado, em 1999, quando dois alunos assassinaram 13 pessoas e feriram 24.
Depois de cerca de 15 minutos da invasão à escola, prestes a serem cercados pela polícia, os jovens executaram a segunda parte do plano. Após atirar contra um policial militar à paisana que mora nas proximidades e ouviu os disparos, Taucci matou Castro e cometeu suicídio.
Fim do Talvez também te interesse
Conversas por aplicativo de celular e e-mails encontradas pela Polícia Civil apontam que Taucci foi o idealizador do ataque.
Sua mãe, Tatiana, afirmou ao jornal O Globo após o episódio que o filho “sempre gostou dessas coisas de nazismo”.
A equipe da BBC News Brasil lê para você algumas de suas melhores reportagens
Episódios
Fim do podcast
Poucos dias antes do crime, de acordo com as pesquisas, Taucci agradeceu pela recomendação que ganhou de um fórum extremista na internet profunda, onde há outros tipos de mensagens de ódio: “Nascemos imperfeitos, mas vamos sair como heróis”. o menino escreveu.
Cerca de um ano após a tragédia, a BBC News Brasil informou que o túmulo de Taucci havia conquistado fãs que até acenderam velas em sua homenagem.
Na última investigação recente sobre grupos neonazistas, gaspar diz que a ligação do jovem deu a impressão nos perfis das redes sociais, alguns com fotos, que o promotor diz serem uma homenagem ao criminoso.
“Estamos falando de um usuário que matou acadêmicos, acadêmicos e trabalhadores da escola e um ídolo para essas pessoas”, disse Gaspar.
Diante da violência exaltada por esses grupos, Guilherme Taucci adquire o caráter de ídolo.
“É uma espécie de martírio desses grupos, um sinal de sua adoração por ter cometido esse ataque”, disse o promotor.
“Isso é uma indicação de uma sociedade em má saúde”, acrescenta.
Além de exaltar Taucci, a investigação dessas equipes também apontou o dedo para a idolatria de Adolf Hitler, a troca de fotografias e textos de natureza racista, homofóbica, antissemita ou nazista. prática de violência contra essas populações.
Essa situação reforça um alerta que tem sido dado por pesquisadores sobre o tema nos últimos anos: a expansão de células neonazistas (pequenos grupos) no Brasil.
Dias afirma que essas células são destinadas a espalhar discursos de ódio e proteger a ideologia que se opõe aos grupos.
“Pode se opor a mulheres, outras pessoas do Nordeste, homossexuais, judeus, negros, outras pessoas com deficiência, entre outras. Seu objetivo é fazer com que a violência proteja um fato de ervas”, explica o pesquisador.
Crédito, EPA
Ataque a escola pública Raul Brasil em Suzano deixou dez mortos em 2019
Segundo o Gaeco, a investigação começou após descobertas feitas após o ataque a uma creche na cidade de Saudades, oeste de Santa Catarina, no dia 4 de maio: três jovens e dois trabalhadores morreram.
O celular do suspeito do ataque, um rapaz de 18 anos, passou para o Homeland Security Investigations (HSI), uma agência de segurança dos EUA, o dispositivo foi testado e, posteriormente, os dados recebidos através do telefone foram transmitidos às autoridades de Santa Catarina. .
A Secretaria de Segurança de Santa Catarina repassou o primeiro conhecimento sobre equipes neonazistas ao governo do Rio de Janeiro.
“Esse celular não é direcionado diretamente ao culpado do ataque, mas a um usuário (de Minas Gerais) com quem ele se comunica dirigindo a um membro de um celular neonazista no Rio de Janeiro”, disse o procurador.
Em maio, o suspeito do Rio de Janeiro foi preso.
“Analisamos seu celular, com a permissão do tribunal, e revisamos vários equipamentos de WhatsApp nos quais os membros cometeram atos prejudiciais à religião, cor e tudo mais. “
Esses grupos, que afirmam ser nazistas e ultranacionalistas, praticam e incitam atos criminosos contra outras populações e passaram a ser monitorados através do MPRJ e da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Pesquisas mostraram que essas equipes são compostas por outras pessoas de outras idades, incluindo adolescentes; os membros promovem outros conteúdos em redes sociais e aplicativos de mensagens que divulgam ou incitam atos de discriminação e preconceito. Há, segundo o levantamento, até discussões sobre a aquisição de armas de fogo.
“Não tem apenas um modus operandi, porque não há hierarquia. O nazismo protegido através dessas células não vem da mesma maneira. Algumas equipes ultranacionalistas protegem o separatismo, enquanto outras são fundamentalmente racistas. Um ponto não incomum entre todos é o antissemitismo. Eles realmente têm um ódio gigantesco contra os judeus e uma idolatria contra Hitler”, disse o promotor.
“Esse tipo de desculpa é um crime. A Constituição consagra a liberdade de expressão da ideia, mas não é absoluta. Não é mais frouxo assim que a expressão da ideia é abusada. De ódio ou violência contra as populações, a expressão da ideia não está mais solta. A própria lei diz isso”, diz Gaspar.
Levou cerca de sete meses de pesquisa até a Operação Bergon, em homenagem à freira francesa Denise Bergon, que desafiou o nazismo ao abrigar e resgatar dezenas de jovens judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Crédito, Divulgação MPRJ
A polícia prendeu outras 4 pessoas na última quinta-feira nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Quatro mandados de prisão cumpridos em Bergon: dois no Rio de Janeiro (Campos dos Goytacazes e Valença) e dois em São Paulo (Campinas e Suzano).
Entre as peças apreendidas nas casas dos suspeitos de fazer parte das equipes estavam peças como facas, arcos e flechas, e livros sobre o nazismo.
Foram cumpridos 31 mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Norte.
Uma das características dessas células, segundo o Gaeco, é a preparação de adolescentes, em muitos casos sem a sabedoria de seus pais. Dos mandados de busca e apreensão cumpridos, 8 foram expedidos nas casas de menores de idade. Nesses casos, os pais ficaram surpresos ao perceber que seus filhos eram suspeitos de estarem envolvidos em grupos neonazistas.
“Isso reforça o desejo dos pais de acompanhar o que os adolescentes postam nas redes sociais. Os pais estão cientes de tudo o que seus filhos fazem nas redes sociais”, diz Gaspar.
A investigação forense do governo sobre os celulares apreendidos quinta-feira merece implicar outros membros dessas equipes em todo o país.
O MPRJ opta por não comentar ataques concertados imagináveis através desses grupos. A Polícia Civil do Rio de Janeiro mostrou que um dos suspeitos presos durante a operação confessou que planejava desencadear um ataque durante as comemorações do Réveillon em São Paulo.
O delegado Adriano França, líder da Delegacia de Vítimas da Criança e do Adolescente (Dcav) do Rio de Janeiro, em coletiva de imprensa que apreendeu armas de fogo e bombas caseiras da casa do rapaz.
“O alvo disse que usaria as bombas de tubo até o final do ano”, disse o delegado, segundo o G1.
Crédito, Divulgação MPRJ
O promotor Bruno Gaspar, um dos que estão no índice de investigações sobre células neonazistas no Ministério Público do Rio de Janeiro.
Os achados da pesquisa que levou à Operação Bergon alertam no Brasil sobre células neonazistas, que estão se multiplicando pelo mundo e causando preocupação.
Em janeiro deste ano, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, observou que grupos neonazistas, defensores da supremacia branca e do discurso de ódio, estão ressurgindo.
Ele disse que esses movimentos estão “organizando e recrutando além de suas fronteiras” e intensificando seus esforços para “negar, distorcer e reescrever a história, o Holocausto”. Para envolver o avanço dessas células, ele defendeu uma aliança global.
A antropóloga Adriana Dias diz que o Brasil tem um terreno fértil para esses grupos.
“O que torna o Brasil fértil hoje? O procedimento de desigualdade social. A classe cria culpados convenientes da crise cambial que enfrentam”, diz ele.
“Os culpados por eles, em geral, são outras pessoas com precedência nos processos governamentais, como outras pessoas com deficiência, negros, LGBTQIA, idosos, entre outros. Essas outras pessoas (de células neonazistas) pensam que essas outras pessoas têm mais direitos, mas isso não é verdade, porque na verdade a sociedade busca compensar as minorias que nem todos têm seus direitos”, disse ele.
Ela acredita que temas como guerras e nazismo ganharam menos atenção nas salas de aula.
“No Twitter, recebo perguntas sobre esses tópicos. Muitas outras pessoas pensam que a Segunda Guerra Mundial só tomou uma posição na Alemanha, eles não têm ideia de que a guerra de Hitler era oposta aos judeus e a todo o mundo civilizado”, diz ele.
O pesquisador acredita que a falta de sabedoria antiga faz com que os membros dessas células cooptem “por esses discursos (neonazistas)”.
O especialista diz que os discursos do presidente Jair Bolsonaro contra minorias, como LGBTQIA e a população indígena, também podem ser citados como motivos para a expansão dessas equipes no país.
“É um discurso de ódio contínuo, que finge ser um discurso incendiário, porque ao mesmo tempo que legitima esse discurso, torna esses discursos atribuíveis a ele”, explica Dias.
Por fim, o antropólogo avalia que a fórmula da justiça brasileira pune muito bem crimes semelhantes ao nazismo.
“Embora seja uma legislação, o nazismo raramente foi criminalizado, de fato, no Brasil”, disse.
Para Dias, a tendência é que essas células continuem crescendo no país, o pesquisador afirma que faltam medidas essenciais para envolver essa expansão no país, como o coaching bom o suficiente em diversas questões. o desejo de oferecer mental aos jovens e adolescentes.
“Esses jovens que se inscrevem regularmente nessas equipes têm um desafio muito forte de não adaptabilidade social desde cedo. No Brasil, não há muito dessa figura de psiquiatra ou psicólogo infantil. Os adultos cuidam muito bem dos jovens, mas não se importam de vê-los. O condicionamento mental também é sobre os jovens”, diz ele.
“As pessoas querem levar a sério a maneira como monitoram seus filhos”, acrescenta o pesquisador.
O promotor Bruno Gaspar acredita que ainda há um longo projeto de combate a essas equipes no país e considera a operação da semana passada uma forma de mostrar que o governo está ciente do problema.
“O Ministério Público continuará intransigente na proteção da liberdade de expressão, no respeito à lei e ao respeito por cada pessoa”, disse o promotor.
“É qualquer forma de discriminação em 2021. To ver essas outras pessoas idolatrando Hitler e o movimento nazista, culpado de milhões de mortes, é aterrorizante”, disse Gaspar.
*Colaborou André Vargas, de São Paulo
Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
© 2022 BBC. A BBC não se responsabiliza pelo conteúdo de sites externos. Leia sobre nossa política em relação a links externos.