Baleias jubartes encalham em número recorde no litoral do Brasil

Os encalhes de baleias jubarte na costa brasileira atingiram um número em 2021. De acordo com uma pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, a partir de 22 de dezembro foram 216 episódios, um recorde na série milenar que começou em 2002.

A distante segunda colocação ficou com 2017, com 122 encalhes. O crescimento do número de encalhes ainda não tem uma explicação precisa. Mas, segundo Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, a principal hipótese é a diminuição de krill.

Krill (pequenos crustáceos) é um dos principais alimentos das baleias jubarte, que se alimentam de peixes pequenos. Baleias sugam água do mar e “filtram” suas presas.

Além do recorde de 2021, havia algo mais nos registros. Quase 95% dos animais encalhados eram juvenis, animais entre 1 e 5 anos de idade, quando atingiram a maturidade sexual.

“Nunca tivemos uma porcentagem tão grande de uma categoria”, afirma o especialista.

O encalhe de juvenis magros é mais uma pista, segundo Marcondes, de que a falta de krill talvez seja a responsável pela situação. Isso porque, em caso de escassez de alimentos, mais experiência (ou seja, mais anos de vida no mar) pode ajudar na captura de comida. Com isso, os mais jovens encontrariam mais dificuldade nesse cenário e chegariam ao litoral brasileiro sem terem se alimentado adequadamente.

Os animais adultos também têm maior capacidade para armazenar gordura, outra vantagem em relação aos juvenis.

As jubartes (Megaptera novaeangliae) que nadam pela costa brasileira, em geral, se alimentam nas águas antárticas da Geórgia do Sul e vêm ao Brasil para se reproduzir e ter baleiazinhas. Por sinal, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos é conhecido como um importante berçário dessas baleias no oceano Atlântico Sul, o que proporciona turismo de observação de cetáceos na área.

Outro sinal da falta de krill é que as baleias estão chegando à costa em busca de peixes. São Paulo e Santa Catarina, estados com bancos, são os líderes dos encalhes. Havia registros, disse Marcondes, de animais entrando em canetas de pesca no mar. em busca de comida e ficar preso nas redes.

Outro recorde no ano foi o número –subestimado– de animais presos em redes de pesca: 58 (mas não foram todos os bichos que morreram). Com pescadores e baleias indo atrás do mesmo recurso, acidentes do tipo acabam se tornando mais prováveis.

Finalmente, o sinal da falta de krill veio de longe do Brasil.

E o impressionante é que os animais que passam pela costa da Namíbia pertencem a uma população que, em geral, se alimenta em uma região diferente (Ilha Bouvet e perto do Cabo da Boa Esperança) do que o domínio alimentar das baleias brasileiras.

A falta do krill pode, possivelmente, ser explicada pelo efeito da crise climática nesses crustáceos, que têm um complexo ciclo de vida e papel importante na cadeia alimentar.

Uma pesquisa publicada na revista Nature Climate Change destacou que as mudanças climáticas podem deslocar espaços onde o krill cresce mais ao sul e também causar uma incompatibilidade entre seu ciclo de vida e as situações oceânicas do ano.

Há relatos de associações, por exemplo, de baixa disponibilidade de krill com diminuição da boa sorte reprodutiva de leões marinhos, pinguins e albatrozes e espécies que se alimentam desses crustáceos.

“Todos os anos, as baleias jubarte migram dos trópicos para os polos para se alimentar da enorme quantidade de krill de verão. Se o bico de krill ocorrer mais cedo, as baleias terão que se adaptar chegando mais cedo ou eventualmente passar fome”, escreveram os autores. . da pesquisa no site The Conversation.

Apesar do aumento do número de encalhes e lesões com redes de pesca, as baleias jubarte estão na lista mais recente de espécies ameaçadas do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Segundo o instituto, a proibição de caça e as iniciativas de conservação são essenciais para a espécie continuar fora de risco.

A pesca comercial de baleias teve um forte impacto nas populações de jubartes no mundo. Uma moratória de caça de baleias, instituída pela International Whaling Commission e em vigor desde 1985/1986, tem ajudado na recuperação das jubartes, segundo a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration, agência dos EUA).

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