Após os vários anúncios feitos pela editora BLB (Boys Love Brasil), que trará para o Brasil várias light novels do gênero boys love (BL) em 2022, entramos em contato com Bobby Ribeiro, o Diretor Presidente e Fundador da Editora, para sabermos mais sobre o grupo. Além disso, ele revelou para o Nerd Site, com exclusividade, algumas novidades da BLB para este ano.
A BLB começou em 2016 como um site de notícias sobre cultura asiática e, mais tarde, começou a se expandir, até a criação de uma editora especializada em conteúdo LGBTQIA+. A Editora já lançou por aqui novels tailandesas e brasileiras de grande sucesso como: Manner Of Death (Sammon), Laços de Sangue (David Franklin), e The Red Thread (LazySheep). Veja, a seguir, nossa entrevista com Bobby Ribeiro.
Site nerd: BLB é uma das poucas editoras que publica frequentemente mangás infantis e romances e conteúdo LGBTQ asiático no Brasil. Você já enfrentou algum transtorno sério com bl/GL anunciado ou publicado?
BLB: Boys Love Brasil, empresa que dirige a Editora BLB, foi fundada em 2016, a princípio nosso objetivo era apenas trazer de volta a série Boys Love, que naquela época ainda era impopular no Brasil. Em 2020, tomamos a decisão de que, apesar de tudo, entraríamos no mercado editorial. Como a Boys Love Brasil já estava mirando o conteúdo bl/Homoafetivo, quando anunciamos a editora e seu foco seria em obras LGBTQIAP, não foi surpresa para o nosso público. . Anunciamos a editora com as obras “Maneira de Morrer”, “A Linha Vermelha” e “Laços de Sangue” já autorizadas no Brasil. No sentido de publicar livros com temas LBGTQIAP, não recebemos uma reclamação, como esperado. eles ganharam reclamações em outras áreas, mas felizmente não neste.
Felizmente, ainda não enfrentamos nenhum problema sério no que desrespeito as histórias em si, pois nossa equipe toma um cuidado gigantesco para selecionar novelas mais “saudáveis” digamos assim.
Nerd Site: Como vocês descrevem o mercado de boys love e girls love no Brasil? É um mercado com pouco investimento? Em expansão? E qual é o perfil do público consumidor desse tipo de conteúdo?
BLB: Do nosso ponto de vista é um mercado que ainda está se popularizando por aqui. Até 2019 o Boys Love e o Girls Love (que infelizmente ainda é um mercado bem menos que o BL) era um mercado muito nichado e poucas pessoas conheciam. Mas com a entrada de grandes empresas de streaming como a Netflix que possuem alguns BL’s coreanos no seu catálogo bem como possui a série “The Untamed” que se originou na novela BL de sucesso mundial “Mo Dao Zu Shi”, bem como algumas editoras bem maiores que a gente, estão licenciando mais novelas e mangás BL//GL é um mercado que está em expansão e popularização por aqui, digamos assim.
Sobre o perfil do público consumidor é necessário que se trace uma linha do tempo, por exemplo, lá em 2014 quando eu conheci o BL através de “Love Sick” o público era majoritariamente de mulheres em sua maioria heterossexuais que gostavam das histórias contadas. Novamente de 2019/2020 para cá o BL/GL veio se popularizando muito entre os meninos LGBTQIAP+ e até mesmo alguns homens heterossexual declarados. Contudo mesmo com essa ‘popularização e diversificação’ de públicos, ainda é um meio majoritário de mulheres héteros e também de mulheres que se entendem como pessoas LGBTQIAP+. Quando se falam de novelas/mangás e livros de um modo geral, devido a vários fatores o Brasil é um país que pouco se lê e quando se trada de uma leitura tão especifica quando as BL/GL ainda são menores ainda. Nosso publico consumidor apesar de ainda pequeno é muito variado, vão de adolescentes até pessoas com 50 anos ou mais.
Nerd Site: Vocês acreditam que entre o público consumidor de BL e GL da editora tenha muitos membros da comunidade LGBTQ+? Ou o consumo desse tipo de mangá/ novel aqui no Brasil é similar ao do Japão, em que os mangás/ novels BL, principalmente, são feitos em sua grande maioria por mulheres heterossexuais para mulheres heterossexuais?
BLB: Bem, há sim uma crescente entradas de pessoas LGBTQIAP+ no mercado BL/GL aqui no Brasil, mas se formos pegar o balanço de vendas para responder essa pergunta com mais precisão, a maioria esmagadora dos nossos clientes são mulheres entre 16 e 60 anos.
Complementado o meu ponto de vista, sobre a questão de talvez ainda não ter muitas pessoas, principalmente homens LGBTQIAP+ que consomem BL/GL eu diria que isso é devido ao choque de cultura, mas principalmente ao preconceito que muitas pessoas tem de consumir coisas orientais. E também se deve ao fato da hegemonia norte americana das produções aqui pelo Brasil. Ora! As pessoas preferem consumir o que vem dos Estados Unidos, que muitas das vezes é até remake ou cópia descarada de uma obra de um país oriental, do que consumir a obra original.
Nerd Site: Há ainda muito preconceito no mercado de quadrinhos/ mangás/ novels com histórias que apresentam relacionamentos homoafetivos?
BLB: Com toda certeza, ainda há. Algum tempo atrás eu vi o pessoal reclamando de uma editora, porque ela estava postando muito Mangá BL, mas era tipo durante o ano eles venderam 6 BL’s e 25 Mangás não BL. Essa reclamação de muito conteúdo homoafetivo é baseada no preconceito. É mais ou menos assim: Publicou um por ano está ótimo, contudo, se publicar mais é um absurdo, pois está dando muito espaço para LGBTQIAP+. Isso é o famoso preconceito velado, que na verdade, não é tão velado assim.
Nerd Site: Infelizmente, ainda vemos muitas situações preconceituosas no Brasil em relação a qualquer conteúdo que busque trazer representatividade LGBTQ+ para a literatura. Entre eles há o caso recente do filho do Superman que foi apresentado como um personagem bissexual, o que causou muita “polêmica” entre leitores e não leitores de quadrinhos. Ou o caso mais antigo da Bienal do Rio de Janeiro (2019), em que houve uma tentativa de apreender qualquer obra com conteúdo LGBTQ+ vendida no evento. Situações como essas causam algum tipo de preocupação na editora? E qual a posição de vocês em relação a essas críticas ou tentativas de censura?
BLB: Primeiramente vale ressaltar que nosso país foi invadido e construído em cima de genocídio e preconceito, seja ele religioso, racial ou por orientação sexual ou identidade de gênero. O fato de em pleno século XXI com a informação estando a um clique de distância ainda haver casos horrendos de preconceito e tentativa de censura como o da Bienal só mostra que o preconceito enraizado em nossa sociedade ainda falta muito para ser erradicado. A polemica envolvendo a HQ do filho do Superman foi algo que não me surpreendeu, pois nós moramos em um país pseudo conservador.
Este pseudo conservadorismo está sempre pronto a atacar minorias sociais e nunca estão dispostos a fazer uma autocrítica. Veja bem, tentar censurar conteúdos representativos LGBTQIAP+ em um país em que a violência contra pessoas dessa comunidade é cada vez maior, e aqui eu falo de violência física e também a psicológica. É mais um ato direto desse movimento para promover o apagando da representação LGBTQIAP+ em novos espaços. Esta e qualquer outro tipo de censura deve ser combatida e erradicada.
Nós nos preocupamos sim com atos de censura e como isso em larga escala pode prejudicar a editora. Porém mais que isso, nós estamos alinhados a um trabalho que visa promover a aceitação e a ocupação da comunidade LGBTQIAP+ em todos os espaços. E para que isso ocorra de maneira mais efetiva, precisamos ter em nossos governos, municipais, estaduais e nacional, pessoas que governam para todos e principalmente para as minorias sociais que são as que mais precisam de apoio do governo. Para que possamos construir um país livre de preconceitos, no futuro, precisamos começar hoje, aliás, ontem. Apoiar e lutar para termos um governo que: Aja a favor da ciência e não contra ela; um governo que melhore a saúde pública e inclua nela a saúde de pessoas trans; um governo que também preze por tirar a população da linha da pobreza, pois assim essa população também vai ter uma melhor qualidade de vida e consumir mais livros. ´
Resumindo, a luta contra o preconceito tem que estar sempre alinhada á luta contra o negacionismo, contra o empobrecimento cultural e financeiro da população e só assim poderemos quem sabe um dia respirar um ar livre de homofobia, racismo e qualquer outro tipo de discriminação.
Nerd Site: Segundo o site Blyme Yaoi, a BLB vai lançar várias obras novas esse ano, como My Ride I Love You, Uma Semana para o Dia dos Namorados e Meu Namorado Imaginário. Que outras novidades vocês estão planejando para 2022?
BLB: Sim, nós vamos estar publicando “My Ride I Love You” (Ainda estamos decidindo o titulo aqui no Brasil) também vamos publicar “Uma Semana Para o Dia dos Namorados” e “Meu Namorado Imaginário” que são obras do autor tailandês Utain, que é neurocirurgião e assumidamente gay. Aqui é sempre bom lembrar que o autor escreveu um capitulo especial exclusivo para o Brasil e China nas obras de My Ride e Meu Namorado Imaginário.
Esse ano de 2022 vamos também publicar obras LGBTQIAP+ de autores brasileiros como “Laços de Magia” que é a continuação de “Laços de Sangue”, “Bomba Incendiaria” que é uma obra baseada em uma história real, vamos estar trazendo também a obra “Ai No Chikara” que é uma história de um autor brasileiro que se passa no Japão, uma linda história de amor.
O que posso dizer sobre mais notícias: Bem, estamos esperando por um contrato assinado para algumas outras pinturas tailandesas que são uma sequência. Também é muito provável que anunciaremos mais pinturas inéditas através de um estrangeiro que é o nosso Array.
Estamos estudando a possibilidade de entrar no mercado de mangás e quadrinhos e talvez estreemos com uma nacional em quadrinhos que conta a história de descoberta do amor de uma pessoa trans.
Isso estou contando exclusivamente para vocês, estamos estudando a possibilidade de um encontro online com todos os autores da editora BLB os nacionais e internacionais para esse ano, onde as pessoas irão interagir e perguntar sobre os livros e terão um tradutor disponível.
Por fim eu gostaria de agradecer publicamente ao Blyme Yaoi que desde o inicio da editora sempre acreditou e apoiou nosso trabalho, nos ajudou na divulgação e continua ajudando. Pois nós como editora pequena não temos muito apoio e divulgação.
Quero também deixar um grande abraço e o meu mais sincero muito obrigado em nome de toda a equipe do Grupo Boys Love Brasil ao Nerd Site que nos concedeu espaço que foi super importante para falarmos de pautas necessárias e divulgar o nosso trabalho. Do fundo do meu coração, muito obrigado a toda a equipe Nerd Site!
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