A chegada do verão é marcada por episódios de chuva no Brasil. Mas ninguém estava em posição de enfrentar a tragédia que ocorreu em dezembro de 2021: as fortes enchentes que atingiram o país no mês passado deixaram um rastro profundo de destruição. Estados como Bahia, Minas Gerais e Tocantins estavam literalmente debaixo d’água. Mesmo após um mês, a população desses locais continua sofrendo os efeitos; até hoje, eles querem ajuda para reconstruir suas casas e se alimentar, por exemplo.
Inseridos nessa realidade, os povos indígenas também viveram momentos de tensão. Após as primeiras chuvas, muitas aldeias foram isoladas, desperdiçando todo o seu layout e plantações. Mas, infelizmente, a clientela é autoaperfeiçoamento. Ainda sem se recuperar dos últimos desastres, vários municípios brasileiros permanecem em alerta para novas enchentes, como o Rio São Francisco.
E, para completar, há um fator agravante: a omissão dos governos federal e estadual da situação, segundo julgamentos conquistados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo os líderes, o máximo do que recebem vem de pinturas voluntárias e instituições de casal.
Para a estrutura deste relatório, os dados foram divididos pelos estados, que mais sofreram com as últimas chuvas. Mas, no final, descobriu-se que todos eles tinham um desafio em comum: movimentos humanos de natureza desenvolvimento, adicionando investimento em barragens para projetos hidrelétricos.
Baía
Somente no estado da Bahia, 11 mil indígenas, de outras nove aldeias, foram afetados por enchentes ocorridas no final do ano passado, segundo Agnaldo Francisco dos Santos, líder dos demais povos Pataxó Hã-Hã-Hãe e coordenador do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA).
“As chuvas que ocorreram em dezembro na Bahia afetaram fortemente nossos territórios. Das outras 30 pessoas que vivem no estado, nove foram afetadas. De todos os municípios que declararam estado de emergência, 19 possuem terras indígenas. Das 195 comunidades indígenas, 104 foram afetadas. Um total de 11 mil indígenas dos 60 mil que vivem na Bahia”, disse o líder.
Em Felici, Agnaldo também se referiu às cicatrizes deixadas por este momento difícil. “Jardins, sistemas de água e casas foram destruídos. Algumas comunidades indígenas ficaram encalhadas devido à inundação ou destruição de estradas. Além disso, houve um efeito direto na economia, uma vez que os familiares podem simplesmente não produzir alimentos e tirar suas atividades para vender nos mercados abertos das regiões”, lamentou.
Sensibilizados, outras pessoas de todo o Brasil para coletar alimentos, água, produtos de higiene, entre outras necessidades básicas, para enviar aos povos indígenas. Para Agnaldo Pataxó Há-Há-Háe, essa foi uma das “maiores auferições” dos indígenas. ter recebido. Nesse primeiro momento, a participação de outras pessoas e da sociedade civil foi de grande importância. Isso aliviou muito o sofrimento de nossos outros povos. “
Haroldo Heleno, coordenador do Cimi Regional Leste, lembra também que, apesar da omissão do governo federal desde o início, o empenho do governo da Bahia é fundamental para o sucesso desse primeiro momento.
“O governo federal tem sido totalmente insensível. Em um momento sério, Bolsonaro foi omitido, ele estava tirando férias. Portanto, a posição do governo federal, através de suas agências, tem sido de omissão geral, sem ajuda. Mas, felizmente, o governo da Bahia teve um compromisso maravilhoso, mudou-se para a região sul do estado, montou um armário com a Defesa Civil e outras secretarias. E, até onde sabemos, eles continuam com eles”, diz ele.
Agora, segundo o coordenador da Regional De Orientação do Cimi, é hora de “gerenciar o que foi provocado”.
“Temos a perspectiva de aplicar para um projeto mais estruturante, já que nesse primeiro momento houve uma ajuda significativa em torno das cestas básicas e básicas. conceito de fazer um esforço coletivo e convidar outros povos indígenas a reconstruir casas nas aldeias afetadas”, explicou o coordenador.
Segundo Agnaldo, a Fundação Nacional do Índio (Funai) também tem ajudado as comunidades indígenas por meio da doação de cestas de alimentos fundamentais. Mas, segundo a gestão, não há ajuda nessa “segunda etapa”, a da reconstrução.
“Não houve retorno à ação, não houve planos no componente do governo federal. Ainda queremos reconstruir casas, estradas e campos. Há famílias que perderam tudo. Continuamos pedindo ações do governo nesse sentido”, disse o líder.
Minas Gerais
O estado de Minas Gerais também sofreu fortes chuvas em dezembro de 2021 e janeiro deste ano. Segundo Haroldo Heleno, estima-se que cerca de 25 mil outros indígenas foram afetados pelas enchentes ocorridas em Minas. Entre os outros povos afetados estão o Maxakali, o Pataxó, o Pataxó Hã-Hãe, o Pankararu, o Xakriabá, o Xukuru-Kariri e o Tuxá.
“Um dos casos mais preocupantes em Minas Gerais são os maxakali outros habitantes da Aldeia Pradinho. Eles foram bloqueados por fortes chuvas. Além disso, houve uma epidemia de gripe que afetou toda a comunidade ao máximo. Foi preciso a intervenção do governo municipal de Teófilo Otoni [município de Minas Gerais] para ajudar, porque a SESAI [Secretaria Especial de Saúde Indígena] pode não fazer isso sozinha”, disse Haroldo.
Através das redes sociais, os Maxakali têm feito campanha para arrecadar alimentos, água e dinheiro para realizar a manutenção da vila. Em um post de 10 de dezembro de 2021, os nativos não fizeram segredo de seu desânimo com o cenário drástico.
“Estamos muito preocupados dentro da aldeia. A vila sofre muito, as pontes estão danificadas e o carro. . . os jovens estão doentes. Sem passagem de carro, outras pessoas passam para comprar coisas, os jovens estão com fome”, dizia um trecho do post.
“A cidade de Machacalis já tem duzentas pessoas sem-teto e cinco mortos. E as chuvas não param. As cidades de Umburaninha e Batinga estão alagadas. Vamos querer muito! Essa cruzada tem como alvo as aldeias de Maxakali, no Território do Pradinho”, disseram os nativos em outro ponto da publicação.
Ao contrário do estado da Bahia, o governo de Minas Gerais agiu com total desprezo e omissão, segundo Haroldo Heleno. “Até onde sabemos, não houve compromisso. Os governos municipais do estado aproveitaram o cenário para se promoverem, como aconteceu, por exemplo, em Brumadinho. Eles pegavam carona com associações que faziam campanhas de solidariedade e, de repente, os meninos [representantes políticos] vinham tirar uma foto e dar uma entrevista como se fosse uma ação do conselho da cidade. Em Brumadinho, houve até ajuda, mas eles usaram o palco como ferramenta política para a campanha eleitoral. “
Tocantins
Desde dezembro passado, a Aldeia Catàmjê, na Terra Indígena Krahô-Kanela (TI), no Tocantins, também sofre os efeitos das enchentes: o domínio está absolutamente alagado há mais de um mês. Uma escola, um ginásio, casas e espaços de reunião foram inundados após o transbordamento do rio Formoso (TO). Além disso, houve uma perda significativa de alimentos, uma vez que as culturas também foram lavadas pelas águas do rio.
O chefe Wagner Krahô-Kanela disse ao Cimi que a cada dia que passa, o cenário se torna mais sério. “Não temos para onde ir, nossa posição é nosso território. Buscamos o apoio das autoridades, como Funai, Sesai e Seduc aqui [Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes do Tocantins]. Mas até agora não ganhamos muita ajuda.
Por meio de uma carta enviada através da Associação dos Povos Indígenas de Krahô-Kanela (APOINKK) ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do estado em 12 de dezembro de 2021, o Krahô-Kanela solicitou um barco, um motor de lancha e a contratação de um barqueiro. para que outras pessoas possam ser tratadas no local.
“Justifica-se que o período chuvoso chegou, de modo que o barco e o contrato para o motor de popa e o barqueiro são obrigatórios para os quadros da equipe multidisciplinar de aptidão indígena e serviço de pintura de rede. Sem barco e sem motor de popa, as placas de rede serão bloqueadas, não importa o que o documento diga.
Segundo o cacique Wagner, até o momento, os Krahô-Kanela não ganharam a parte de trás do DSEI, unidade vinculada à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e culpada por prestar atendimento médico indígena nas regiões. Mas na semana passada, a Funai deixou um barco no local para ajudá-los em sua jornada. Além disso, os dirigentes disseram que também ganharam com o bem-estar do município, que doou cestas de alimentos essenciais. No entanto, a rede ainda quer ajuda.
“Pedimos à Seduc uma tenda para montar nossa escola improvisada, ainda sem sucesso. Além disso, queremos ajuda com a comida, pois nosso gramado inundou e é um grande efeito que sofremos. não é imaginável produzir comida pela água e isso afeta nosso modo de vida clássico”, lamentou a liderança do povo Krahô-Kanela.
Eliane Franco Martins, coordenadora do Cimi Goiás/Tocantins (GO/TO), mostrou a omissão do governo no contexto. eles não duraram nem dez dias, porque eles eram pequenos. Há muitas omissões por parte do componente do governo. Nós, do Cimi, que ajudamos, principalmente”.
O líder disse que, apesar da negligência do governo estadual e federal, a ajuda do Cimi foi muito importante para lidar com o momento. “O Cimi nos ajudou com combustível [para o barco] e lonas. chão de nossas casas e colocá-lo, como ele atrai água dentro das casas. Cimi é muito vital. “
Construção de barragens: impactos socioambientais
Embora estejam em outras regiões brasileiras, os estados do Tocantins, Minas Gerais e Bahia enfrentam um problema não incomum: os efeitos socioambientais causados, em sua maioria, pela estrutura das barragens. De todos os relatos que o Cimi ganhou para escrever este relatório, o máximo apontou esse tipo de negócio como uma das principais situações exigentes enfrentadas pelos povos indígenas.
Para o chefe Wagner Krahô-Kanela, da Aldeia Catàmjê (TO), este novo episódio de inundação está diretamente relacionado a projetos hidrelétricos. “Sabemos que o meio ambiente está se tornando e essa inundação é semelhante às barragens, aos ajustes no meio ambiente. Tudo isso teve um efeito negativo primário em nossos territórios.
Agnaldo Pataxó Hã-Hã-Hã-Hãe acredita que as enchentes na Bahia e em Minas Gerais também estão relacionadas aos “movimentos humanos” e à estrutura das barragens. “O fato de as chuvas terem invadido algumas comunidades indígenas é reflexo dos movimentos do homem no meio ambiente, o rio só procurou passar. Esses movimentos são basicamente semelhantes à estrutura de barragens gigantes. Com a inundação dos rios, o volume aumenta e, eventualmente, também atinge as comunidades indígenas”, explicou.
Segundo os líderes, agora é o momento de conscientizar e criar métodos para lidar com novas enchentes. “Nós nos comunicamos, comunicamos com as comunidades afetadas, fazemos uma investigação de reconstrução para nos prepararmos para outra inundação imaginável. Além disso, agora é obrigatório trabalhar na conscientização da sociedade brasileira como um todo. Queremos planejar e manter o meio ambiente e criar mecanismos para evitar tragédias como essa.
Em Minas Gerais (MG), o cenário não é diferente: segundo Haroldo Heleno, ainda há muitos danos causados por enchentes e empresas gigantes, além do transbordamento de barragens de rejeitos. “O desafio em Minas Gerais é a escolha que o governo tem feito para o processo de mineração. Minas Gerais é um queijo suíço, cheio de buracos, e as consequências são extremamente prejudiciais. Temos cenários confusos como na vila de Naô Xohã, que fica às margens do Rio Paraopeba. Esta vila recentemente afetada por um crime cometido através da Vale há 3 anos, que permanece sem solução.
O crime a que Haroldo se refere é o ocorrido em 25 de janeiro de 2019, no município de Brumadinho (MG). Era na manhã de sexta-feira que a barragem da mineradora Vale desabou, abrindo domínio para um mar de poeira para destruir casas no domínio do Córrego do Feijão e reivindicar a vida de muitas outras pessoas e animais. Estima-se que mais de 270 pessoas morreram em decorrência desse crime, considerado por muitos como “premeditado”.
Três anos depois, os povos indígenas Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe da aldeia de Naô Xohã – lembrou o coordenador do Cimi Regional Leste – estão entre os povos que ainda sofrem os efeitos do fracasso da barragem.
“A vila de Naô Xohã teve que ser despejada no dia 9 de janeiro, após as fortes chuvas que atingiram Minas Gerais e fizeram com que as águas do Rio Paraopeba, já contaminadas com metais pesados, invadissem nossas casas e outras estruturas na vila. Após ser resgatada da enchente pelos bombeiros e abrigada em uma escola municipal de São Joaquim de Bicas, e não poder retornar ao território infectado, a Vale negou a opção de transferir as famílias para um local, afirmando que o território não está infectado e que os outros indígenas podem retornar”, disseram os indígenas através das redes sociais na aldeia Naô Xohã.
Para protestar contra a mineradora e reivindicar seus direitos, os demais povos indígenas fecharam na última terça-feira, 25 de janeiro de 2022, a linha de exercícios Fecho do Funil e a rodovia RFFSA, na divisa entre Brumadinho e João Joaquim de Bicas,, seja em Minas Gerais (MG).
Segundo os líderes das demais aldeias da aldeia Naô Xohã, o objetivo da mobilização é dar visibilidade e repudiar os 3 anos de impunidade da Vale, culpada pelo crime contra o município de Brumadinho (MG). Além disso, os indígenas exigiram da mineradora uma cobrança sobre a manutenção da aldeia e sobre o remanejamento das famílias afetadas pelas últimas enchentes.
Rio Alto São Francisco
Na última segunda-feira, 24 de janeiro de 2022, um artigo publicado pelo Jornal Nacional falou sobre a construção de usinas hidrelétricas no Rio São Francisco. Já existem mais de 30 municípios em 4 estados brasileiros em alerta máximo.
Devido às fortes chuvas que ocorreram em Minas Gerais, estado onde nasce o Rio São Francisco, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, toda a bacia ganhou um volume gigantesco de água. Algumas localidades dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe já apresentaram os primeiros sintomas: casas e assentamentos construídos às margens do rio foram invadidos pela água nos últimos dias.
No dia 24, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) também publicou um artigo sobre sua alegação de que, nessa data, o Rio São Francisco, a partir do Reservatório de Sobradinho (BA), teve o maior ponto de água de seu curso de grama nos últimos treze anos. anos, no trecho que atravessa o nordeste.
Segundo a Chesf, a corporação “vem realizando uma operação especial desde 12 de janeiro às enchentes do rio, com um acúmulo programado e lento de vazão, e mantém conversas com as prefeituras, serviços de cobertura civil, associações, o San Comité de Cuenca del Río Francisco e outras entidades, para a funcionalidade dessas organizações em termos de prevenção e orientação do usuário”.
Segundo Haroldo Heleno, a inundação do rio já está mobilizando os demais povos indígenas do oeste da Bahia. “A inundação do Rio São Francisco expulsa toda a rede do outro Kiriri de sua região. Negociamos com eles para comprar lonas, porque elas já estão movidas para uma colônia. É concebível que essa inundação também tenha efeitos sobre os outros Pankararu e Potiguara, que também estão no oeste do estado da Bahia”
Por Marina Oliveira, da Ascom Cimi