As eleições de 2018 que levaram Jair Bolsonaro (PL) à presidência da República deixaram a marca de uma polarização política. Quatro anos depois, o clima de ataque contra beligerantes políticos permanece sóbrio e coloca o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a sociedade com plataformas de mídia na linha de frente para bloquear certas estratégias.
Problemas como a disseminação de notícias falsas, desinformação, discurso de ódio e a disseminação em massa de mensagens entraram de uma vez por todas no radar dos estabelecimentos e não serão tolerados nas eleições deste ano.
“A experiência acumulada a partir de 2018, agora temos mais ‘know-how’ do TSE e das plataformas para enfrentar essa situação. As reações foram muito lentas em 2018”, diz Fábio Henrique Pereira, especialista em sociologia do público jornalístico, professor da Universidade de Brasília (UnB) e titular da cadeira de jornalismo e comunicação clínica da Universidade Laval (Canadá).
A indicação da ação empresarial veio de quem organizará e conduzirá as eleições para presidente do TSE. Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), assumirá a presidência do tribunal eleitoral em setembro, período da cruzada. Ele já disse que a justiça não ficará desprevenida em relação ao costume da milícia virtual.
Incisivamente, o ministro disse que “se o que foi feito em 2018 se repetir, o registro [do candidato] será revogado e outras pessoas irão para a prisão por atacar eleições e democracia no Brasil”. a chapa Bolsonaro-Mourão, em outubro de 2021.
Os ataques da cruzada de 2018 abriram caminho para a criação de um programa de combate à desinformação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A iniciativa, que reúne mais de 70 estabelecimentos e organizações, foi lançada em agosto de 2019 e se tornou dois anos depois.
A desinformação é “um desafio global, multifacetado e potencialmente sustentável” através do TSE. O objetivo com o programa eleitoral de 2022 “é acentuar as tabelas para que a seleção de eleitores via voto seja legítima, sem interferência de campanhas difamatórias”.
Desde 2019, o programa é desenvolvido em seis eixos principais, com ações de curto, médio e longo prazo, a ver: organização interna; mídia e alfabetização; contenção de doenças; identidade falsa e verificação; melhoria da fórmula jurídica e dos recursos tecnológicos.
Os movimentos que já realizaram as eleições municipais de 2020 referiam-se a uma coalizão de checagem de fatos e também à progressão de um robô que responde a perguntas sobre o processo eleitoral no WhatsApp. Um levantamento do TSE estima que, até novembro de 2021, apenas cerca de 20 milhões de mensagens haviam sido trocadas com o chatbot.
Também foi criada uma notificação nos programas e-Título, Mesários e Pardal, este último permitindo o envio de processos judiciais com indícios de práticas extraviadas ou ilegais no âmbito da Justiça Eleitoral.
SoArray TSE fez parceria com WhatsApp, Twitter, Google/Youtube, Instagram/Facebook e TikTok. Mas no que diz respeito às eleições de 2022, é o Telegram que está na mira do TSE por não ter representantes no Brasil.
A plataforma russa notificou em vão através dos tribunais, reescando o debate sobre o escopo legal da disseminação em massa do conhecimento e dificultando o combate a informações falsas. O tribunal já está contemplando medidas e especialistas veem a opção de proibir o Telegram, se o Congresso for nessa direção.
Forçadas a tomar uma posição e tomar medidas para a disseminação de notícias falsas, discursos de ódio e tiroteios em massa (alguns equiparados ao “comportamento de spam”), as corporações de plataformas de mídia social anunciaram ajustes em suas políticas.
A pedido da reportagem O TEMPO, as consultorias que representam Twitter, Facebook, Instagram e Whatsapp forneceram dados sobre como as corporações pretendem atuar no ambiente para o debate político no Brasil.
O Twitter ativou uma notificação para oferecer conteúdo produzido através do TSE oficial àqueles que buscaram palavras e termos relacionados às eleições. “Estamos em negociações com o TSE para oferecer educação frouxa a todas as partes e outras partes interessadas no Twitter. “regras, dever virtual e práticas mais produtivas para conteúdo e interações na plataforma”, ressaltou a rede social.
Questionado sobre como continuará quando a fonte de desinformação for líderes políticos, o Twitter respondeu que “ninguém que usa a plataforma está acima” de suas regras de uso. No entanto, a empresa justifica que existem “políticas específicas para determinadas instâncias de conteúdo publicado”. através de executivos para “o interesse público de suas declarações. “
“O Twitter é o lugar onde o debate público toma uma posição. Temos trabalhado cada vez mais pela adequação e integridade deste debate. Um grande componente do nosso trabalho na frente da desinformação, por exemplo, é fornecer a outras pessoas mais contexto sobre um determinado tema.
Por sua vez, a Meta, empresa culpada do Facebook e instagram, disse que fez progressos “bloqueando contas falsas, restringindo a disseminação de desinformação, fornecendo transparência a anúncios classificados políticos e tornando menos difícil para o eleitorado obter informações confiáveis”.
Semelhante à estratégia do Twitter, o Meta também adotará o retargeting para o conteúdo do TSE. “Como parte de nosso trabalho com o TSE para as eleições presidenciais de 2022, enviaremos outras pessoas do Facebook e Instagram no Brasil para informações oficiais sobre a fórmula de votação e artigos que refutam a falta de dados”. sobre o processo eleitoral”, disse a empresa.
Usando tiroteios em massa sem controlar quem vai pagar por esses anúncios, Meta explicou que criou, particularmente para o Brasil, um selo de publicidade eleitoral obrigatório, que é como um certificado de quem é o anunciante e se você mora no país. país.
A empresa destaca que o Brasil é um dos primeiros países a ter esse selo, que foi criado em 2018 e ativou as eleições de 2020. “Como resultado, somente na primeira circular de 2020, rejeitamos 250 mil anúncios classificados que não envolviam ‘propaganda eleitoral’ ou ‘pagamento’ direcionados a outras pessoas no Brasil”, observou Meta.
Quanto ao Whatsapp, a empresa reiterou que vai colaborar com o TSE “da mesma forma que fizemos para as eleições municipais de 2020″. temos que ter informações oficiais”, disse a empresa.
Um dos métodos seguidos pelo aplicativo é a ferramenta criada em colaboração com o tribunal, em 2020, que visa ser uma sala de bate-papo “para que outras pessoas possam tirar dúvidas sobre votação e acesso diretamente através do aplicativo”. “Também desenvolvemos um canal de comunicação para obter relatórios de contas suspeitas de perpetração de tiroteios em massa, o que não é permitido nos termos de uso do aplicativo ou na legislação eleitoral”, informou ainda a empresa.
O Whatsapp também destacou como iniciativa o contato com partidos políticos e candidatos para lhes fornecer o que tem sido feito “para fazer certas eleições justas e exortar os principais atores do jogo eleitoral a não contratar um mecanismo ilícito para o envio de mensagens de WhatsApp”.
Para que isso seja possível, segundo o Whatsapp, “é essencial que haja, pela primeira vez, uma proibição explícita da ativação automática de mensagens na legislação eleitoral”, ressaltou.
Atentos à verdade do cidadão, os pesquisadores alertaram sobre o desejo de perceber o que leva alguém a consumir e espalhar notícias falsas ou conteúdo odioso.
“É muito romântico acreditar que a população vai ver as notícias. Normalmente, outras pessoas passam depois de ver se a notícia afeta sua posição não pública sobre o assunto. Há muitas notícias que não chamam a atenção e são entendidas como verdadeiras através de outras pessoas. “explica a pesquisadora Débora Liberato Arruda Hissa, professora do Departamento de Linguística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Hissa é vice-coordenadora de uma organização de estudos sobre língua, escolaridade e geração que convidou através do Supremo Tribunal Federal (STF) para compor o programa de combate à desinformação. O objetivo é reunir especialistas e outros parceiros para criar movimentos para combater os efeitos destrutivos da desinformação em questões judiciais.
Para o pesquisador, a proibição da desinformação requer mudar a atitude da sociedade como um todo, acrescentando os políticos. “Fake news é um procedimento político de destruição do que é equiparado a um inimigo. É uma estratégia política complexa, dependendo basicamente de quem lidera esse projeto”, disse.
Segundo o professor Fábio Henrique Pereira, o compromisso das corporações, com o TSE, com o fluxo de notícias falsas demonstra um medo adquirido desde 2018, além da tentativa de substituir a crença de que as corporações de mídia social colidem com a disseminação do discurso de ódio e da desinformação.
Ele adverte, no entanto, que combater a desinformação é quase como uma “guerra no tempo”. e alguém tomou a decisão de fazer alguma coisa, não ajudou, porque se espalhou, já estava circulando. É quase uma guerra contra o tempo, o que fará com que a desinformação e o discurso de ódio circulem mais rápido”, diz ele.
Em vez disso, Pereira — que analisou o papel do Whatsapp nas eleições de 2020 e no recebimento de dados pelos usuários — ressalta que o debate público não se limita à proibição de discursos de ódio e notícias falsas.
“Não há explicação inegável do que leva um usuário a consumir conteúdo odioso em uma rede social e, a partir daí, como eles começam a fazê-lo. Há um fator cultural que terá que ser levado em conta na prática das pessoas”, diz. Pereira.
Em consonância com essa perspectiva, Hissa argumenta que o desafio das fake news está na educação fundamental e incentiva uma leitura profunda de outras visões de mundo.
“Os acadêmicos hoje leem memes, porque é um recorte de imprensa, é menos difícil e mais divertido. Mas como vamos ensinar nossos acadêmicos a ver as notícias e identificar o que é desinformação?Estamos lidando com outras pessoas que não precisam ler o mundo, que entendem a leitura a partir da máxima radicalidade daqueles que pensam diferente, não é a leitura das mesmas ideias”, diz o pesquisador.
Com observação semelhante, Pereira acrescenta que o conteúdo do ar não é suficiente para substituir ideais e quebrar as “bolhas” de conteúdo. uma tarefa de conscientização e educação sobre a mídia”, conclui.
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