ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
São só os “pastores falantes”, não. Muitos líderes evangélicos sérios cooptaram através da rede de notícias falsas ajudaram a destacar Jair Bolsonaro (PL) em 2018 e farão o possível para reeleger em 2022. O equilíbrio, em tom de alerta, é uma das maiores vozes à esquerda do segmento.
“Os pentecostais diriam com uma alma despedaçada: esta é uma questão do diabo, de um espírito maligno, como o nazismo na Alemanha. Um bem coletivo. Essa é a força das notícias falsas. Aí tem o cara que vai se levantar e ser ouvido por milhares de pessoas, e ele está preso numa bolha”, disse o pastor Ariovaldo Ramos.
Ele participou de um debate sobre o combate às fake news na mídia evangélica, que aconteceu na noite de segunda-feira (30), no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em colaboração com o Instituto Lula.
O discurso do bispo vem da experiência.
Ramos disse que participou de um programa de rádio sobre a esquerda de um cristão, especulação negada por igrejas como a Universal (que já apoiou o PT no passado).
Depois de expor os “julgamentos gritando”, o que é possível, já que ele é evangélico e progressista, ele foi almoçar com pastores que conhece há muito tempo. Lá, a cabeça de uma ala vital da Assembleia de Deus, que leva milhares de fiéis.
Sem revelar nomes, ele disse que seu colega havia confiado nele que Bolsonaro venceria Lula (PT) no primeiro turno. Hoje, todas as pesquisas eleitorais aplicáveis implicam uma vantagem do PT sobre o presidente.
É uma coisa “quando você diz isso com uma boca grande que todo mundo conhece”, disse Ramos, sem nomear pessoas descontentes. para dizer: ‘Jesus, esta luta é mais feia do que eu esperava.
“O que estamos enfrentando é uma bolha de produção de mentiras que atinge os líderes”, continuou o pastor da Comunidade Cristã Reformada, que também coordena a Frente Evangélica para o Estado de Direito.
Duas personalidades do PT, Gilberto Carvalho (que comanda as agendas de Lula na campanha) e Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula), estavam na mesa quando Ramos declarou que “nossos companheiros de esquerda” são capazes de liderar essa luta contra distorções. E falsidades que levam muitos evangélicos a virar as costas para o pré-candidato do PT.
Para o pastor, a caixa progressista tinha muito pouca disposição de concordar com o segmento no passado. Ele não concordou com nada quando Karl Marx disse que a fé é o ópio dos povos, diz ele. , no entanto, o uso que é feito dele. “
Agora a esquerda tem que digerir o que este bloco cristão ganhou. Os evangélicos, afinal, compõem menos de 10% da população quando o Brasil voltou a votar para presidente após a ditadura militar. Eles triplicaram desde então.
“Nossos companheiros de esquerda não serão capazes de fazê-lo, eles ainda estão assustados durante todo o caso. Que sejam informados agora, que levará tempo. Nós somos os únicos que terão que fazê-lo, irmãos.
Magali Cunha, a outra palestrante, começou sua participação explicando como funciona o Coletivo Bereia, que ela ajudou a fundar. É uma agência de verificação de notícias, com um diferencial: ela só verifica notícias devotas, que basicamente passam por sites evangélicos e mídias virtuais. .
Berea recentemente chamou de enganosa um conteúdo viral que mostrava um suposto casal fazendo sexo em uma igreja abençoada com fertilidade (na verdade, são duas mulheres, e uma se apoiou na outra porque achavam que afetaria sua saúde, desde então, os paroquianos reclamaram). de dor nas costas).
Por outro lado, uma notícia que seria tão absurda é apresentada como verdadeira, disse Cunha. Caso da igreja que anunciou um sorteio para investir em um ministério com crianças.
Berea é o chamado de uma cidade, que seria hoje na Grécia, onde o apóstolo Paulo passou, de acordo com a Bíblia. Os bereanos costumavam se referir às escrituras antigas para verificar se a pregação do apóstolo era verdadeira.
Daí a chamada do coletivo Afresco, fundado após estudos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que revelaram que o fluxo de notícias falsas no WhatsApp está entre os grupos dedicados. Estes eram materiais de aptidão em grande parte falsos, como curas milagrosas. .
O estudo, ressaltou, antecede a pandemia Covid-19 e a eleição de Bolsonaro. Lá já foi detectado que os evangélicos “são apenas um alvo, mas um veículo para espalhar” falsidades.
Mentiras existem desde o primeiro e-book da Bíblia, o Gênesis, mas “ultimamente tornou-se mais evidente por causa desse pequeno dispositivo que todos têm em suas mãos”, disse Cunha, segurando um celular. “Vai como um rastro de poeira. “
As notícias falsas grudam nas igrejas porque estraga a emoção, fazendo com que os fiéis pratiquem o que Wilson Gomes, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e colunista da Folha de S. Paulo, chama de tráfico de conteúdo.
Cunha disse que seu marido, um professor universitário, uma vez avisou um aluno que ele havia espalhado uma farsa viral. Ela disse: ‘Professor, eu sei que isso é uma mentira, mas outras pessoas querem saber. Diz-se que aqueles que dizem que as falsidades são pobres, não estudaram. Há esse preconceito.
Cunha também apontou para o que ele vê como fake news estrutural no país ao qual pertence. O conceito de que existe a Christofobia no Brasil, onde há total liberdade de culto para os evangélicos e, no máximo, “casos específicos de intolerância”, é um deles. .
Outra: que haja um porta-voz para este nicho dedicado. ” Pastor X, Pastor Y, todo mundo que diz ‘evangélicos se comunicam assim’. “
A Igreja Católica tem um papa, no Brasil existe a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Não há nada como isso para os evangélicos, então a partir dessa história de líderes afirmando que o verdadeiro crente é assim ou assim, disse Cunha. Ele apresentou o e-book “Evangélicos na Política Brasileira” no evento.
Representantes do PT na troca verbal ouviram mais do que falaram. Gilberto Carvalho disse que no mesmo dia conversou com Lula sobre como lidaria com evangélicos no campo, para quebrar “o muro que eles falsamente construíram entre nós”.
O ex-presidente, disse seu assessor, “está completamente convencido de sua importância”.