O filme “Todos os Mortos” está ajudando a desfazer o símbolo brasileiro da “democracia racial” no exterior

“Todos os Mortos” é um filme de época ambientado entre os séculos XIX e XX, pouco mais de uma década após a abolição da escravidão e a proclamação da República no Brasil. O filme conta a história do declínio de um círculo de parentes de elite do café em São Paulo e, ao mesmo tempo, das dificuldades de integração de ex-escravos. O filme é sobre os fantasmas da vida após a morte que continuam assombrando a sociedade brasileira. Todas as personagens principais são mulheres.

“All the Dead” estreou no Festival de Berlim em fevereiro de 2020, algum tempo depois da pandemia de Covid, o que dificultou a exibição nos cinemas. “É curioso estrear em Berlim com 2. 000 espectadores e duas semanas depois fechou. todo. É uma festa bem louca porque isso vai muito antes da pandemia. Depois, é difícil repetir essa festa de aparecer pessoalmente no filme”, lembra Caetano Gotardo.

Antes da pandemia, o lançamento em DVD e plataformas virtuais já era um passo vital na carreira de um filme. No entanto, no contexto existente, isso se tornou uma estratégia básica. “Todas essas táticas de assistir vídeos em casa ganharam muito – eu precisava de força desta vez. Aqui na França, como em todo o mundo, muitos filmes não foram capazes de ser lançados em pré-estreia e, agora, os vendedores estão localizando táticas para o filme triunfar entre o público”, contextualiza o cineasta.

No final de maio, Caetano Gotthard participou da exibição de “Todos os Mortos” na Cinémathèque, em Paris, que antecedeu o DVD na França, marcado para 7 de junho.

O cineasta explica que seu interesse e o do codiretor Marco Dutra em pensar “como esse momento após o fim da escravidão, de alguma forma, estabeleceu as bases sobre as quais a sociedade brasileira está organizada até hoje; como esta era antiga fala diretamente da era antiga em que vivemos agora.

Gotthard acredita que o filme alimenta uma discussão em andamento no Brasil “sobre a falsa democracia racial que há muito se acreditava existir no país. Está desmoronando, temos um racismo estrutural muito presente na sociedade brasileira. “Mas por fora, esse símbolo ainda é forte. e “Todos os Mortos” podem simplesmente ajudar o Brasil de hoje para o público estrangeiro. “Percebo que o público estrangeiro, como o público francês, entra em contato através do cinema com aqueles problemas que estão muito vivos no Brasil, mas que, no exterior, ainda não são tão evidentes na visão externa do Brasil.

A música, que permitiu a transmissão oral da tradição africana, ocupa um lugar central em “Todos os Mortos”. A trilha sonora é de Salloma Salomão, músico e historiador especializado nas culturas da diáspora africana. “A música tem uma dramaturgia própria. (. . . ) O filme estreia e termina com o próprio Candomblé. “

Na última cena, o filme dá um salto no tempo e se muda de São Paulo no início do século XX para São Paulo hoje. A ideia, segundo Caetano Gotardo, é de jogar sensorial no filme com esses dois momentos para mostrar “essas duas vezes misturadas, no espelho”.

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