O relatório remonta à fabricação de smartphones: é extraído de reservas indígenas, “lavado” através de empresas de refino e vendido para a Apple e a Amazon. 37% do ouro usado nos EUA. A indústria de alimentos e drogas dos EUA.
Por Daniel Camargos, no Repórter Brasil
Você não sabe, mas como você leu este relatório, é possivelmente ouro extraído ilegalmente das terras indígenas do Brasil. Celulares e computadores das marcas Apple e Microsoft, bem como os superservers do Google e da Amazon, têm filamentos dourados em sua composição. Esse aço veio da mineração ilegal na Amazônia, passou para as mãos de intermediários e organizações até chegar aos dispositivos das quatro corporações mais valiosas do mundo, mostra uma investigação da Repórter Brasil.
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Os documentos recebidos através da reportagem verificam que essas gigantes da tecnologia compraram o aço em 2020 e 2021 de diversas refinarias, somando-se ao Chimet italiano, investigado pela Polícia Federal por ser o destino do mineral extraído da mineração clandestina em terras indígenas Kayapó, e o Marsam brasileiro, cujo fornecedor é acusado através do Ministério Público Federal de causar danos ambientais devido à aquisição ilegal de ouro. A mineração em terras indígenas do Brasil é inconstitucional, apesar dos esforços do governo de Jair Bolsonaro (PL) para legalizá-la.
No meio da maior floresta tropical do mundo, o rastro de destruição dessa exploração clandestina se abre e é imensurável. Enquanto o desmatamento e a poluição dos rios são visíveis, a mineração pode matar outras pessoas por causa do mercúrio (um metal venenoso) e atrai o crime organizado. Ataques armados de garimpeiros contrários a outros indígenas têm sido divulgados pela imprensa nos últimos anos, como o que aconteceu em maio de 2021 em uma comunidade Yanomami.
Embora os órgãos de investigação brasileiros tenham evidências de que Chimet e Marsam compraram ouro extraído ilegalmente de alguns desses territórios demarcados, ou a refinaria é qualificada e considerada “apta” para vender nos Estados Unidos e na Europa, regiões que exigem maior transparência dos fornecedores de minério. , além de critérios mais rigorosos para combater a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo e os abusos dos direitos humanos.
A Repórter Brasil teve que arquivar documentos que a Apple, o Google, a Microsoft e a Amazon são legalmente obrigados a enviar à Comissão de Valores Mobiliários (SEC) juntamente com a lista de seus fornecedores, não só de ouro, mas também de estanho, tungstênio e tântalo. muitos refinadores, brasileiros e italianos estão nas relações. Os documentos referem-se a aquisições feitas em 2020 e 2021, mas relatórios anteriores também apresentavam as duas refinarias como fornecedoras.
Empresas indexadas na Bolsa de Valores dos EUAAs empresas norte-americanas serão obrigadas a informar anualmente se usam os chamados “minerais de conflito” (ou minerais de áreas de alto risco) em suas cadeias de produção, uma exigência criada através de uma lei aprovada em 2010 devido à guerra civil. na República Democrática do Congo, onde a exploração mineral ainda financia equipamentos armados (leia mais aqui). E o uso de aço vai além das joias e barras compradas através de bancos primários: a eletrônica representou 37% do ouro usado nos Estados Unidos em 2019, de acordo com o Resumo de Produtos Minerais compilado através do Serviço Geológico dos EUA. EUA
Os certificadores da Chimet e da Marsam são, respectivamente, a LBMA (London Bullion Market Association) e a RMI (Responsible Minerals Initiative), organizações que buscam maior transparência para o setor de mineração, “buscam um compromisso corporativo sustentável” e realizam auditorias. violações de direitos humanos, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, de acordo com o próprio site da organização.
Um dos transtornos é que, apesar dos episódios de violência causados pelo garimpo ilegal na Amazônia, essas organizações não fazem do Brasil uma “zona de risco”. Só no trimestre de 2021 (quase o dobro do PIB anual de Camarões), eles não parecem se importar com a verdadeira origem do ouro que usam, nem com os conflitos que poderiam alimentar em território brasileiro.
“A SEC e as corporações americanas estão fazendo vista grossa para a origem do ouro que entra no país”, disse Payal Sampat, diretor do programa de mineração da Earthworks, uma organização com sede em Washington, D. C. que trabalha com os efeitos da atividade. O especialista também critica o trabalho da RMI: “eles são confiáveis”.
O caso da certificadora cujo chamado em português seria “iniciativa de minerais culpados”, RMI, merece atenção. Realiza auditorias para fornecer informações “[refinarias] para que as corporações possam tomar decisões de compra mais informadas”. certificar ou anunciar refinarias como ‘confiáveis e sustentáveis'”, como esclarece a entidade em um e. A organização conta entre seus membros 400 corporações de renome mundial de outros setores: tecnologia, aviação, indústria automotiva e até mesmo empresas de entretenimento. Todos os potenciais compradores de Chimet e Marsam.
“O Brasil tem mecanismos confiáveis para a rastreabilidade do ouro, por isso há uma ameaça maravilhosa de certificar o aço infectado com violações de direitos humanos em terras indígenas na Amazônia”, diz Rodrigo Oliveira, assessor jurídico do ISA (Instituto Socioambiental), apontando para um estudo que mostrou que 28% do ouro extraído no Brasil tem origem comprovadamente ilegal. “Nesse cenário, o papel da SEC é fundamental, pois as empresas e investidores têm confiança na transparência e veracidade dos dados publicados por meio dela. . “
Consultado pela Repórter Brasil, o governo dos EUAO Departamento de Segurança Interna dos EUA, através da SEC, disse que comentaria.
A RMI afirmou ter contatado a refinaria brasileira para solicitar ações corretivas semelhantes ao escopo da auditoria. “executar o monitoramento”, disse ele em um comunicado. Se a Marsam não fechar efetivamente o plano de ação corretiva dentro do prazo estipulado, conforme verificado por um avaliador do terceiro componente, ele será removido da lista de conformidade da RMI”, disse. . A certificadora pediu acordos de confidencialidade para não dar mais informações sobre quais seriam esses movimentos corretivos ou os prazos estipulados. Leia as respostas completas aqui
A certificadora britânica LBMA disse estar ciente das investigações através da Polícia Federal, que entrou em contato com Chimet e está revisando a auditoria da refinaria italiana. às alegações contrárias aos seus fornecedores. ” A LBMA acredita que essa reação é consistente. “A LBMA também entende que Chimet cooperou com a investigação policial e não enfrenta acusações semelhantes às deste caso.
O maior alvo dos fornecedores Chimet da Polícia Federal, os proprietários da empresa CHM do Brasil. Trata-se de Giácomo Dogi, preso em outubro, e seu pai, Mauro Dogi, que está sob investigação por seu suposto envolvimento em uma organização criminosa que extrai ouro ilegal de terras indígenas kayapó. Os dois italianos, que vivem no Brasil, forneceram ouro à refinaria italiana, segundo transações monetárias entre as duas corporações recebidas através da Polícia Federal como parte da Operação Terra Desolata.
Das 4 tecnologias primárias, apenas a Apple interveio quando entrevistada pelo Repórter Brasil. Durante o primeiro contato em maio, a empresa enviou uma nota afirmando que seus “critérios de sourcing responsável são os mais produtivos do setor e proíbem estritamente o uso de tecnologias ilegais”. minerais extraídos” e que “se uma fundição ou refinaria não puder ou não precisar atender aos nossos critérios rigorosos, vamos removê-lo de nossa cadeia de suprimentos”. Dois meses depois desse primeiro toque, o relatório retornou à Apple, que, no que parece, havia se livrado de Marsam da lista de fornecedores. Chimet, no entanto, permanece em boa forma.
Google, Microsoft e Amazon disseram que não comentariam, mas não negaram a compra de Chimet e Marsam. Os e-mails enviados através do relatório detalham os danos socioambientais causados pelo garimpo ilegal na Amazônia, bem como a investigação realizada pelo governo federal. polícia federal e promotores.
Apesar do silêncio dos 3 gigantes da tecnologia, os relatórios apresentados ao governo dos EUA ainda estão em silêncio. Os EUA revelam as intenções de sustentabilidade, transparência e responsabilidade socioambiental.
“Estamos comprometidos em evitar o uso de minerais que incitaram conflitos, e esperamos que nossos fornecedores continuem nossos esforços para identificar a origem do ouro, estanho, tungstênio e tântalo usados nos produtos que fabricamos ou fabricamos sob contrato”, disse a Amazon. said. in o documento enviado à SEC.
A Microsoft afirma ter uma “técnica holística para obter tecidos crus culpados enquanto corre para usar minerais não conflitantes em seus dispositivos”.
A Alphabet, empresa-mãe do Google, explica no relatório anual que se envolve ativamente com o RMI e analisa e monitora as respostas dos fornecedores, além de concluir o modelo de relatório da parceria. fornecedor”, diz o documento.
No documento de 25 páginas da Apple, a empresa destaca seu alinhamento com as políticas de direitos humanos e afirma que “trabalha para o meio ambiente e mantém o bem-estar de milhões de outras pessoas afetadas em toda a nossa cadeia de suprimentos, desde a mineração até os serviços onde os produtos são montados”. . “
O relatório tem data de 31 de dezembro de 2021, ou seja, foi publicado dois meses após a investigação da Polícia Federal envolvendo Chimet e 4 meses após a revelação da ação civil pública contra o FD’Gold (Fornecedor de Marsam). Vale ressaltar que investigações realizadas por meio da Polícia Federal revelaram que desde 2015 o ouro foi extraído ilegalmente em território indígena kayapó.
“Aqui no Norte somos cúmplices na destruição da mineração no Brasil”, disse Christian Poirier, coordenador da Amazon Watch, organização que também pesquisa o setor. Para ele, apesar da dificuldade de rastrear o minério, há pouca pressão por resultados de retorno e maior transparência. Sobre a big tech, ele conclui: “Talvez seja hora de quebrar o ônus da prova: essas corporações podem não estar conectadas a fluxos de ouro potencialmente ilegais do Brasil?”
Chimet é um gigante no setor de refino de aço e ocupa o 44º lugar entre as empresas de maior renda na Itália. Em 2020, alcançou o maior faturamento de sua história: mais de 3 bilhões de euros (cerca de R$ 18 bilhões), 76% a mais do que no ano passado, conforme detalhado pela Repórter Brasil em pesquisa publicada em fevereiro.
A investigação por meio da Polícia Federal, à qual o relatório teve acesso, é baseada em relatórios de dados econômicos do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). A análise do conhecimento reservado revelou que Chimet passou, entre setembro de 2015 e setembro de 2020. , R$ 2,1 bilhões para a CHM do Brasil, empresa que, por sua vez, por meio da Polícia Federal, será uma das principais “beneficiárias” de ouro ilegal das terras indígenas do sul do Pará.
A defesa dos italianos do CHM brindou através de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, que conta entre seus sócios o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. O memorando enviado pelo local de trabalho afirma que o CHM “nunca adquiriu ouro de terras indígenas”. . ” Também afirma que a denúncia não foi comprovada pela Polícia Federal e que “nada mais é do que uma mera suposição”. (leia a resposta completa).
Para os pesquisadores, no entanto, as transações monetárias “demonstram a falta de medo de Chimet de comprar ouro legalizado”, diz a investigação, “enviando quantias gigantescas para os garimpeiros, sem autorização de mineração, à espera da entrega de bens de longo prazo, como joias, pedras e metais valiosos.
Procurado, Chimet disse que rompeu relações comerciais com o CHM assim que soube da investigação através da Polícia Federal, em 29 de outubro de 2021. Entrevistada pela Repórter Brasil em janeiro, a gigante italiana afirmou que o volume de ouro comprado no Brasil é irrelevante em relação ao total (70 toneladas) sutil em sua fábrica.
No entanto, revelam a particularidade do setor: um grama de ouro ilegítimo, uma vez refinado, combina com todo o resto, contaminando toda a produção.
É o caso também da Marsam, que conta entre seus fornecedores FD’Gold DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), acusada, por meio do Ministério Público Federal, de comprar ouro extraído de terras indígenas, basicamente dos territórios do Kayapó e Mundurukú. Aldeias, sem paradas. FD’Gold também é um dos principais compradores de ouro ilegal da Terra Indígena Yanomami, segundo outra investigação da Polícia Federal, revelada pelo Repórter Brasil.
“O acusado FD’Gold DTVM tem favorecido a aquisição de produtos, insumos, marcados pela ilegalidade. Pior, tem recebido ganhos econômicos com essa ilegalidade, incorporando o mineral ilícito em suas atividades econômicas normais”, exigem os procuradores civis. ação. O MPF pede a condenação de FD’Gold, a suspensão das atividades da empresa no Pará e o pagamento de restituição por danos socioambientais e de cortina de R$ 1,75 bilhão.
O fundador da FD’Gold é Dirceu Frederico Sobrinho, que, além de presidente da Anoro (Associação Nacional do Ouro), é um dos principais lobistas para legalizar a mineração em terras indígenas. Sobrinho se movimenta com facilidade nos escritórios de Brasília: já esteve com o vice-presidente Hamilton Mourão e com ministros que protegem a exploração da mineração em terras indígenas. Também foi candidato a 1º deputado do ex-senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) em 2018, quando declarou uma fortuna de 20,3 milhões de reais.
Embora Sobrinho seja um cônjuge em Marsam, sua filha agora dirige a refinaria. A empresa compra pelo menos um terço do ouro que transforma “em família”, ou seja, da FD’Gold, segundo um representante de fora da empresa, André. Nunes, para uma reportagem da Associated Press.
Quando questionado, Nunes negou pela primeira vez uma relação entre Marsam e FD’Gold, mesmo com o fato de seus sócios terem uma relação direta. Em um momento de contato, Nunes disse que a FD’Gold é um dos “vários clientes no portfólio da Marsam” e que o namoro do negócio é “prestação de serviços”. A Repórter Brasil teve acesso a um documento de julho de 2021 no qual Nunes afirma que 36% do ouro processado através de Marsam vem da FD’Gold.
Questionados, Sobrinho e FD’Gold responderam.
O ouro ilegal, extraído de minas ou áreas clandestinas, é “legalizado” até o momento em que a DTVM compra o produto. O comerciante de ouro (geralmente garimpeiros ou cooperativas de garimpeiros) completa uma nota fiscal em papel e declara de onde vem esse mineral: os golpistas podem dizer que a origem é uma exploração legal da mineração, mesmo que não seja assim. O desafio é que a Lei 12 844/2013, que regulamenta a compra, venda e expedição do produto no país, estabelece que a declaração de origem do aço está posicionada na “boa religião do comerciante” – isentando assim os compradores de qualquer responsabilidade.
Uma vez legalizado, o aço pode ser vendido para refinarias primárias, joalherias, bancos, governos e até alguns dos logotipos mais proeminentes do mundo. Ou seja, se você planeja substituir o logotipo do seu celular, possivelmente não haveria nada. para correr. Seu carro, câmera ou filme de animação vem de corporações que podem adquirir, mesmo indiretamente, ouro de terras indígenas brasileiras.
*Contribuiu com Mariana Della Barba e Gisele Lobato
Rua Araújo, 124 – República – São Paulo/SP
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