‘Mais um golpe’: quilombolas ameaçados por projeto de lei mato-grossense

Mato Grosso é conhecido nacionalmente como o estado do agronegócio por excelência, uma popularidade que torna invisíveis os estilos de vida das comunidades quilombolas, indígenas, clássicas e sedentárias. Isso é destacado no dossiê crítico sobre a logística da soja. Também gira em torno do desenvolvimento do Estado de que as despesas – como a que busca tirar Mato Grosso da Amazônia Legal – sejam criadas sem o compromisso de manter a natureza ou as comunidades clássicas que ali existem.

“Existem várias situações exigentes para esses povos e comunidades, começando pela garantia de regularização e regularização fundiária, mas também pelo fato de que, embora seja relativamente assegurado, os territórios estão cercados por monoculturas que poluem o solo, o ar e a terra. águas superficiais e subterrâneas com inseticidas e sementes transgênicas (organismos geneticamente modificados)”, diz o dossiê fase.

Projetos e legislações que possam promover o avanço do agronegócio no território podem gerar ainda mais choque nas comunidades clássicas. O Estado não tem comunidades intituladas, existem 134 comunidades quilombolas.

“As comunidades quilombolas aqui em Mato Grosso enfrentam conflitos porque não estão regularizadas, o que abre uma brecha para que os não quilombolas invadam os territórios e há também a expansão da monocultura de soja e mineração nos territórios”, diz Laura, da Comunidade Mutuca, no território quilombola da Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento/MT.

Quilombo da Mata Cavalo | Crédito: Divulgação

Mata Cavalo é mesmo objeto de muitos conflitos que não reconhecem um direito garantido pela Constituição. De acordo com o levantamento do Mapa de Conflitos, o território abriga sete associações e comunidades quilombolas, o complexo Sesmaria Boa Vida Quilombo Mata Cavalo, um dos quais foi supostamente esvaziado devido a movimentos violentos que assustaram a comunidade.

O Mapa dos Conflitos indica que a terra original do resort foi doada por um antigo proprietário para seu povo escravizado, mas entre 1890 e 1930, essas pessoas começaram a sofrer pressão de agricultores locais que tiveram acesso à terra por meios legais ou ilegais. Com o tempo, atos de violência e ameaças por parte desses pastores forçaram os quilombolas a vender ou abandonar suas terras.

“As famílias que permaneceram resistentes à Mata Cavalo não escaparam vivendo sob a tensão de constantes ameaças daqueles que buscavam tirar as poucas terras que restavam”, diz a investigação.

Em 2004, por meio da equipe da Relatoria Nacional dos Direitos Humanos para o Meio Ambiente da plataforma DhESCA, a rede revelou algumas das condições a que as famílias do complexo foram submetidas: cotidiano ambiental de antigas atividades de mineração, testemunhos de racismo, denúncia de destruição de queimaduras, insalubridade das condições de vida, contaminação planejada de recursos hídricos, bem como ataques a outras pessoas e despejos ilegais.

Mesmo intitulado, o território sofre ameaças | Crédito: Reprodução / O documento

“Tivemos muitas ameaças, é claro, adicionando represálias contra os quilombolas. Atualmente, o quilombola está inerte”, diz a quilombola Laura Ferreira.

Em 1999, a popularidade oficial da rede quilombo remanescente foi dada por meio do certificado de auto-popularidade emitido pela Fundação Cultural palmares (FCP). por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) implica que a escritura de denominação do território emitida por meio da FCP, que não se inscreveu em local de trabalho notarial ou eliminou terceiros não quilombolas.

O Incra também emite que o território já foi decretado de desapropriação por interesse social e que o município obtém as casas incidentes no território e as chama na chamada da rede. No entanto, o procedimento é longo e lento. O mapa de confrontos destaca que os membros da rede Mata Cavalo estão sofrendo para se instalar definitivamente na terra, basicamente por causa da duração dos processos judiciais que contestam a convocação do território. Esses dados também são mostrados através da quilombola Laura Ferreira.

“Até o momento não há uma resolução final nesse sentido, o que impede o governo federal de vender a desintrusão do domínio e de proceder à delimitação e acordo de famílias”, disse a investigação.

Mesmo reconhecidos, territórios quilombolas são invadidos

Outro território que sofre com a história do avanço do agronegócio é o município de Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, na fronteira com a Bolívia. O município também é a capital do estado e abrange outros três biomas: Pantanal, Cerrado e Amazônia.

“O município é quase quilombola, pois temos várias comunidades que são pensadas e identificadas como espaços quilombolas através da FCP. A população é predominantemente negra e quilombola”, diz Aldamiro Ramos, professor e chefe da região.

Vila Bella de Santísima Trindade | Crédito: Coleção Aldamiro

O pesquisador Atílio Viviani Neto, também professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso, explica que há estudos por meio da Fundação Palmares, do Incra, como estudos arqueológicos e antropológicos de universidades, que apontam que a região de Vila Bela é muito estranha.

“Há muitas comunidades quilombolas lá fora. Hoje, há cinco processos de delimitação do território quilombola no município que estão paralisados. Cada um desses territórios abrange várias pequenas comunidades que já viveram em aliança, mas também têm suas próprias trajetórias. “diz o pesquisador.

Quilombola Aldamiro Ramos diz que sua comunidade, chamada Porto Calvário, está em um desses cinco espaços quilombolas –Bela Cor– e que eles estão lutando pela recuperação e regularização de seu domínio que foi desterritorializado.

Comunidade expulsa do território continua lutando por sua regularização | Crédito: Coleção Aldamiro

“Nosso território está ocupado através de seus restos de quilombos. Todos saíram de suas comunidades sob pressão. Eles foram forçados a vender, outros foram até despejados. A grande maioria foi expulsa de sua rede e agora todos eles vivem na cidade”, diz o chefe. que integra as associações quilombolas de Bela Cor e Porto Calvário.

Segundo o pesquisador Atílio Neto, que estuda os problemas socioambientais da região, o marco na expulsão das famílias das comunidades da Vila Bela de seu território aconteceu com o programa de integração nacional da ditadura do Exército em meados da década de 1970, que trouxe mais agronegócio para a região.

“É a partir desse plano que os outros povos do Sul e Sudeste começam a ocupar essa terra, pois esse plano da ditadura começa a colonizar esse domínio com estrangeiros sem levar em conta a população que estava lá. Então a população é drasticamente assediada, estuprada nesse sentido, para também tirá-los de suas terras e de sua cultura”, diz Atílio.

Aldamiro diz que seu círculo de parentes também teve que deixar seu território quilombola no meio desse período, após resistir, já que yagunzos e outras pessoas armadas foram à rede e ameaçaram.

“Eles exerciam tensão mental e meu pai se sentiu obrigado a deixar o território. Meu pai diz que quase se sentiu despejado desse domínio, porque eles disseram que os fazendeiros que chegaram já eram donos, então meus pais tiveram que deixar o domínio a qualquer momento. temps. coût. Il teve um pouco de tempo para colher suas colheitas”, diz ele.

Atualmente, o namoro com camponeses gera ameaças declaradas, mas permanece em conflitos oblíquos.

“Há pressões de outras maneiras. Por exemplo, os agricultores gigantes usam muitos inseticidas e o domínio dos pequenos agricultores acaba sendo afetado por essas ações. Na minha comunidade, que é desterritorializada, temos ocupantes que invadem os espaços quilombolas agora a Fundação Palmarès é identificada, mas parte dela já está invadida por grileiros de terras”, diz.

Comunidade Quilombola Boqueirão – Complexo Quilombola ACOREBELA | Crédito: Coleção Aldamiro

O procedimento de titulação das comunidades da Vila Bela está paralisado há 20 anos no Incra, no Mato Grosso. “Notamos que esse procedimento está avançando e notamos qualquer ação do governo no município para que ele possa concluir esse procedimento e vir. “até o fim”, disse Aldamiro.

Quilombos ameaçados por pastores em área de conservação do Pantanal

Outra ameaça: PL 337/2022

O Projeto de Lei 337/2022, recentemente em tramitação na Câmara dos Deputados, é o que pode ameaçar ainda mais os quilombolas no estado, segundo fontes ouvidas pelo Alma Preta Jornalismo. O projeto de lei elaborado pelo deputado Juárez Costa (MDB-MT), visa tirar Mato Grosso da Amazônia Legal.

Delegado Juárez Costa | Crédito: Arquivos / Câmara dos Deputados

A Amazônia Legal é um domínio que abrange nove estados brasileiros pertencentes à bacia amazônica, reúne regiões com características semelhantes e uma iniciativa do governo brasileiro para promover o progresso socioeconômico dos estados da região. Mato Grosso é composto pelos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia.

Entre as justificativas dos estilos de vida do projeto, o parlamentar afirma que a proposta visa aumentar a produção, gerar mais empregos e diminuir o valor dos produtos, uma vez que afirma, em coluna do jornal Mato Grosso do Norte, que estão no limite de sua perspectiva produtiva devido a uma falsa impressão na lei ambiental sobre o bioma do território mato-grossense.

Uma nota técnica do Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT) afirma que o PL visa modificar o código florestal e que a substituição afeta particularmente os percentuais das plantas locais que querem ser conservadas e restauradas no estado, cortando os espaços de reserva legal. sobre habitação em espaços rurais em 20%, independentemente do tipo de plantas presentes.

Atualmente, os percentuais são diferenciados e adaptados ao tipo de vegetação: 80% nos ativos localizados na Amazônia; 35% nos ativos localizados na região do Cerrado; 20% em mercadorias localizadas na área geral dos campos.

“O projeto de lei, além de inconstitucional, terá importantes efeitos socioeconômicos, com avanços na fronteira agrícola que afetarão a vida dos povos indígenas, sem resolver transtornos semelhantes à segurança alimentar”, relatam. .

Segundo Edilene Fernandes do Amaral, representante jurídica e articulação do Observa-MT, além do desafio de muitos novos desmatamentos e espaços que não serão mais regenerados, os territórios clássicos são automaticamente afetados, o que se tornaria objeto de mais pressão. . . por especulação imobiliária.

Avanços no agronegócio aproximam inseticidas de comunidades | Crédito: Creative Commons/Wikimedia

“Há uma perda de incentivos maravilhosos. Mato Grosso não participaria mais, por exemplo, do Fundo Amazônia. Além do fato de perdermos agregados para os produtos vendidos, pois os produtos vendidos aqui têm um agregado porque estão no bioma Amazônia ou na Amazônia Legal, ou mesmo nos espaços do Cerrado”, diz o representante legal do Observa-MT.

Segundo nota técnica da organização, se o PL 337/2022 for aprovado, outros 16,9 milhões de hectares de plantas locais seriam eliminados e, além disso, outros 3,3 milhões de hectares seriam restaurados para cumprir a legislação. .

“O fato de o estado de Mato Grosso não fazer mais parte da Amazônia Legal é um golpe que acabamos tendo a todos a preservação da riqueza que temos e torna ainda mais complicado o procedimento total de regularização das áreas quilombolas”, disse Aldamiro Ramos, que também vê sua rede ameaçada através do projeto de lei que acaba de extinguir uma unidade de conservação na região.

Deroní Mendes, coordenadora do Programa de Direitos Socioambientais do Instituto Centro de Vida (ICV), alerta que o projeto é inconstitucional. Comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas serão fortemente afetadas, pois estarão muito mais expostas a projetos.

“Outro desafio é que como Mato Grosso não está mais na Amazônia Legal, isso se reflete na produção de alimentos dessas comunidades. territórios clássicos, trazendo mais inseticidas que prejudicarão a produção de pequenos”, diz.

“Hoje, há uma visão global sobre o fator florestal como forma de mitigar a crise climática. O investimento estrangeiro nos estados tem o maior preço do status florestal. Uma vez que Mato Grosso deixa a Amazônia Legal, está fora das portas desses investimentos e as comunidades estão localizadas sem acesso a esse recurso que promove a segurança alimentar”, conclui o coordenador do ICV.

O que os quilombolas podem nos dar sobre a soberania alimentar?

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