Localizada em uma das principais avenidas populares de Manaus, a capital do estado, a estrada ao norte do campus é de seis quilômetros no total.
Criado através do Tenente-Coronel do Clube da Guarda Nacional do Amazonas, Joaquim Eulálio Gomes da Silva Chave e fundado em 17 de janeiro de 1909, o primeiro estabelecimento de ensino superior do país chamado Escola Universitária Livre de Manáos. Em seguida, foi desmembrado e deu origem à Universidade de Manaus, inaugurada em 13 de julho de 1913.
Com sede em Manaus, a atual Universidade Federal do Amazonas (UFAM) ministra 114 cursos de graduação, somando 80 para o campus da capital e 34 distribuídos entre os campi do país nos municípios de Benjamin Constant, Coari, Humaitá, Itacoatiara e Parintins.
A sede de Manaus está dividida em dois setores: o setor sul, chamado de mini-campus, e o setor norte, chamado campus. Para chegar ao campus principal da universidade, é atravessar uma rua, que no total tem 6 quilômetros.
O mais curioso é que esse caminho tem muitas curvas, gerando alguma dúvida para os acadêmicos. Afinal, por que não traçaram um caminho direto?
O Portal Amazônia conversou com Bruno Sarkis Vidal, mestre no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEOG) da UFAM e membro do Laboratório de Hidrogeografia, Climatologia e Análise Ambiental da Amazônia. O aluno do mestrado compartilhou em suas redes sociais um pouco das razões pelas quais a estrada está cheia de curvas.
“Depois de correr por aí com os dados de socorro, passar diariamente pelas estradas do campus, ouvir e ver outras pessoas se agarrando a ônibus nas curvas, criei um artigo informativo para descobrir por que tantas voltas”, disse ele.
O estudo da estrada foi possível graças à progressão dos mapas hispsométricos, que fazem parte de um estudo em andamento do distrito de Coroado. O estudo analisa ilhas quentes na comunidade e ilhas frias da Zona de Proteção Ambiental da UFAM, considerada o maior domínio verde dos espaços urbanos do Brasil e o terceiro maior do mundo, com mais de 600 hectares de árvores.
“O design das ruas do campus vem do banco de dados OpenStreetMap, uma tarefa colaborativa de mapeamento para criar mapas soltos e editáveis. O Modelo de Elevação Digital (DEM) espacializa a altitude da superfície da Terra. Este específico tem uma solução espacial gigante (1 metro), resultado de um reconhecimento aéreo”,
A partir daí, era imaginável realizar um mapeamento 3D da área do campus, o que mostra na solução superior o que está por aí.
“Para gerar o mapa e ilustrações 3D, é obrigatório manipular o conhecimento vetorial das ruas do projeto OpenStreetMap, então o Modelo de Elevação Digital (DEM) foi utilizado para visualizar as dimensões da elevação. O MDE é um estilo que espacializa a altitude da superfície da Terra. O conhecimento trabalhado especificamente tem uma resolução espacial justa, de cerca de 1 metro, resultado de um levantamento aéreo em 2019”, explica.
Segundo Bruno, para perceber a explicação do porquê a estrada não é reta, é perceber o contexto local da cidade de Manaus, já que algumas das características geomorfológicas possuem um relevo dissecado, devido à longa exposição a processos erosivos, além de ter interfluviums tabulares (planaltos), intercalados com uma vasta rede de canais fluviais, acompanhado de relevos de tipo convergente, plano ou divergente, com encostas côncavas, convexas e retilíxicas
“A estrutura das estradas do campus da UFAM foi organizada em planaltos, ou seja, em uma extensão mais ou menos plana de terra, em altitudes que variam entre 70 e 85 metros acima do nível do mar. O mínimo em um dos dois lados é cercado pelas superfícies inferiores, córregos “,
Outro fato atrativo é que o campus universitário da UFAM está localizado na linha divisória das duas grandes bacias hidrográficas da cidade de Manaus, as bacias de São Raimundo/Mindu e Educandos/Quaranta.
“Podemos ver em representação através de um mapa hippsométrico, onde as cores mais quentes se assemelham às altitudes, caracterizadas como platôs. E é nesses espaços onde as estradas foram construídas, se analisarmos a extensão das altitudes, percebemos que ela não segue uma linha direta, por isso o campus tem tantas curvas. Se a estrada que liga o setor Sul com o setor Norte fosse direta, sua característica seria a irregularidade e as encostas gigantes”, explica.
Assim, diante dessas características, as estradas da UFAM são ecologicamente corretas, pois atravessam os leitos dos rios, que, por sua vez, geram sedimentação e poluentes dos rios.