Beneficiário do Auxílio Brasil: o que as outras pessoas pensam sobre quem vai conseguir um empréstimo e quem ficará de fora

Os beneficiários do auxílio denunciam o drama que levou à resolução de contratar um empréstimo com juros de até 79% ao ano. “Evidência de um fracasso da sociedade, da política de atenção e da gestão econômica”, diz o educador monetário.

Mayara precisa reformar sua cabana que pegou fogo. Elton pretende pagar pelo nascimento de seu quarto filho, resultado de uma gravidez incerta que deve mantê-lo longe de casa por um tempo enquanto cuida de sua esposa convalescente.

Beneficiários do Auxílio Brasil (programa que substituiu o Bolsa Família), pretendem utilizar o empréstimo consignado (quando as contas são descontadas na fonte, salário, pensão ou abono, por exemplo) aprovado pelo governo federal, como componente do pacote de medidas para estimular a economia, às vésperas das eleições de outubro, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca ser reeleito.

Com juros de até 79% de acordo com o ano, segundo estabelecimentos monetários consultados pela BBC News Brasil, o valor a ser pago pelos beneficiários será quase o dobro do valor emprestado.

“O telhado da minha cabine grudou na lareira e hoje é feito de madeira. Então eu preciso construí-lo o mais rápido possível”, diz Mayara Passarinho, explicando por que ela pegou o empréstimo.

Antes da pandemia, ela trabalhava como diarista, mas perdeu clientes para a crise fitness e agora está desempregada há quase 3 anos.

Com 3 crianças, idosos de 3, 6 e 8 anos, o círculo de familiares conta com o apoio da Ajuda Brasil e o trabalho de alvenaria realizado através do parceiro de Mayara.

Essa obra esporádica gera cerca de R$ 600 por mês, o que proporciona à família uma fonte mensal de renda de R$ 120 por mês, sem subsídios governamentais.

O Auxílio Brasil é voltado para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, com fonte de renda consistente com o mês consistente com o usuário inferior a R$ 210 e R$ 105, respectivamente. O círculo de parentes de Mayara está muito próximo dessa linha no momento, um dos mais vulneráveis do país.

“Preciso terminar a construção da minha cabine, ver se consigo pelo menos construir muros de tijolos e pagar algumas dívidas”, diz Mayara. Ela diz que tem dívidas de cartão de crédito e pede dinheiro emprestado a supermercados da comunidade por causa da situação. .

De acordo com as regras explicadas pelo governo federal, até 40% do valor do Auxílio Brasil pode ser deduzido para quitar o empréstimo.

Para concessão de crédito, os estabelecimentos monetários o valor auferido pelo círculo de parentes antes do acumulado transitório existente na obtenção de vantagens para R$ 600. Assim, um círculo de parentes que ganhavam R$ 400 até julho, por exemplo, pagaria contas de R$ 160 por 24 meses.

Com isso, se o preço das vantagens de obter voltasse a R$ 400 em janeiro de 2022, esse círculo de parentes teria descontado na fonte R$ 160, passando a obter apenas R$ 240, a partir de uma vantagem de obter utilizada basicamente para a aquisição. de comida.

E que se o círculo de parentes continuar no programa o período, pois se for desclassificado do Auxílio Brasil por qualquer motivo, ainda terá que pagar a dívida contratada.

“Acho que vai ser um pouco complicado”, diz Mayara, referindo-se a quando suas vantagens para pagar a dívida são reduzidas.

“Mas não há nada para fazer, porque há um tempo atrás o componente superior da minha cabana enfiou a lareira e ela é feita de madeira. Então eu preciso construí-lo o mais rápido possível. Se eu tiver a oportunidade, vou ter que fazer isso”, diz ele.

“Vai ser [apertado], mas o que Deus quiser. Quem sabe, Deus preparará uma tarefa inteligente para mim ou meu marido?Porque não pode piorar. “

Elton de Barros, 39 anos, morador de Conceição da Barra, no Espírito Santo, tem 3 filhos e sua esposa está esperando o filho, em uma gravidez em risco.

Desempregado, ele faz tarefas para tudo o que vem em seu caminho e sabe como fazê-lo. “Eu bloqueio o quintal, pinto a parede, ajudante de pedreiro, segurança, você escolhe”, disse ele. Quarto de uma fábrica de álcool.

Crédito, Getty Images

“Como minha esposa está prestes a ter um bebê e eu estou correndo embaixo da mesa, é o dinheiro que cobriria as despesas”, diz Elton de Barros.

Nascida em Linhares, também no Espírito Santo, a esposa de Elton, que é cabeleireira, ainda tem poucos na aldeia do marido, para onde se mudaram há cerca de 8 meses.

Com uma fonte de renda de pouco mais de R$ 1. 000 para cada uma das outras cinco pessoas (em breve seis anos), a família ganhou benefícios governamentais desde a pandemia, embora ainda seja atendimento emergencial.

“Esse empréstimo me ajudaria muito. Como minha esposa está prestes a ter um bebê e eu estou fazendo algum trabalho, é eficaz o que me ajudaria com as despesas”, diz Elton.

O pai do círculo de parentes simulou o empréstimo do Banco Pan, que lhe presenteou com um empréstimo de R$ 2. 025, a ser pago em 24 contas de R$ 160. Assim, ao pagar a dívida, você terá pago ao banco R$ 3. 840, quase o dobro do valor inicialmente emprestado.

Quando perguntado como será quando sua ajuda for reduzida devido ao preço das faturas tomadas na fonte, Elton diz que é cauteloso e coloca tudo na ponta do lápis para ver se o empréstimo realmente vai caber em seu orçamento.

“É um medo que temos, mas como tenho meu bico, acho que possivelmente não pesaria muito. E eu faço isso porque é necessário”, explica.

“A gravidez da minha esposa é arriscada, talvez eu não tenha filhos aqui na minha aldeia. Estou contando com esse dinheiro que vai cair antes de dar à luz, porque teremos que mudar de uma cidade para outra e ela vai ficar na cama por 60 dias”, disse ele.

“Eu também vou ter que passar tempo com ela. Acho que ficarei sem pinturas por pelo menos duas semanas para cuidar da minha esposa, então não teria ganho nada. Por causa disso, eu tomo o empréstimo. E os jovens gastam muito no início, então esse dinheiro seria bem-vindo. Se eu trabalhasse com um contrato formal, não aceitaria esse empréstimo.

Bruna Pereira, 30 anos, moradora do Jardim Sapopemba, na zona leste de São Paulo, faz parte da organização dos beneficiários da Ajuda Brasil: aqueles que não pretendem pegar o empréstimo.

Com uma filha de 3 anos que cria sozinha, Bruna vive com a tia e trabalha como diarista quando surgem pinturas. Ela cobra R$ 50 pela limpeza. Ele estima que ganha cerca de R$ 150 por mês com suas pinturas.

Crédito, Rovena Rosa/Agência Brasil

O Auxílio Brasil é voltado para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, com fonte de renda consistente com o mês consistente com o usuário inferior a R$ 210 e R$ 105, respectivamente.

Com uma renda tão limitada, o dinheiro que recebe do governo é imperativo para que bruna possa comprar as coisas que sua filha precisa, como leite, roupas e produtos de higiene. Mas a tia de Bruna implorou à jovem para ficar longe do empréstimo. .

“Ela me disse para não aceitar, porque o valor que eu vou ter que pagar vai ser muito mais do que eu tomei. E eu não posso [pagar], porque eu não pinto e todo o dinheiro que recebo ajuda é para comprar os pertences da minha filha”, diz ele e explica que para a comida ele foi assistido por uma doação de uma cesta fundamental.

“Eu viveria sozinho pagando a conta, sabe? Porque eu não tenho o pai da garota e com essa matriz eu compro todas as coisas. Eu não posso conseguir [o empréstimo], e então eu tenho que pagar. situação.

Tamires Nascimento Santos, moradora de Guaianases, de 33 anos, que também não tomou o empréstimo, acredita que muitos dos que assumiram essa dívida agora provavelmente se arrependerão mais tarde.

Casada e com 3 jovens – com mais de 3, 8 e 12 anos – trabalha como diarista, assim como Bruna e Mayara. Poucos dias após a pandemia, ela ganha cerca de R$ 600 por mês com trabalhos de limpeza, finalizados pelo marido, que trabalha como pintor

Beneficiária de ajuda federal por cerca de um ano e endividada no mapa, ela não precisa saber sobre uma nova dívida. “Vou usar [o empréstimo] para pagar minha dívida, mas depois eu assumiria duas outras dívidas, o que é muito pior”, diz ele.

Crédito, Getty Images

Com R$ 600 até dezembro, Tamires Santos espera vir com mais culminação e legumes na dieta da família.

O fato de as cotas terem sido deduzidas do auxílio também a desanimou.

“Eu uso esse auxílio para alimentar as crianças. Se você se comprometer, então quando ele já será contado?Eles vão ficar para eles. Na verdade, é uma ilusão”, diz ele.

Assim como todos os brasileiros, em um momento em que a inflação subiu para 10% em 12 meses, mesmo após a deflação de 0,68% registrada em julho, Tamires sofreu com os altos preços dos alimentos.

“Tudo isso é muito caro, tudo tem um absurdo maior. Leite, há barracas que cobram quase R$ 10 de acordo com o litro”, lamenta. pouco lá.

Portanto, a transitoriedade da construção da Auxílio Brasil a R$ 600 até dezembro é muito bem-vinda por meio dela. Com o valor agregado, a diarista espera chegar com mais culminação e legumes na dieta da família, já que ultimamente ela dá prioridade ao arroz. , feijão e smoothie.

Mas Tamires diz que esse atraso de ajuda não será seu voto em outubro.

“Para mim não substitui nada. Nunca votei neste governo, nem votarei. Para mim, não influencia em nada, porque você tem que ver o que acontece”, diz ele.

“Deixamos muito a desejar. As pessoas da periferia sentem isso em termos de saúde, há falta de medicamentos. Além disso, muitas coisas têm mais [o preço]”, cita.

“Então, muitas outras pessoas estão precisando. Porque esses R$ 400 [o valor do Auxílio Brasil antes do transitório sobe para R$ 600], para quem não tem outra ajuda, são inúteis.

Alguns dos maiores bancos brasileiros, como Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e BMG, indicaram que não oferecerão o empréstimo do Auxílio Brasil aos seus clientes.

“Estamos falando de pessoas vulneráveis. Em vez de ser uma operação inteligente para o banco e para o cliente, percebemos que o usuário terá mais dificuldade na hora de terminar o serviço, e por isso preferimos não operar”, disse o Bradesco. Presidente Octavio de Lazari Júnior, a apresentação dos resultados do trimestre do momento.

O Itaú deu uma justificativa: “Percebemos que este não é o produto certo para um público vulnerável. Por isso, o banco gostava de não operar”, disse Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco, em entrevista coletiva sobre os resultados.

Para Luis Santacreu, analista bancário da Austin Rating, os bancos levam em conta a resolução de não aderir à alocação de perigos monetários – ligados à instabilidade da ajuda e taxas máximas de juros – e reputacionais, dada a perspectiva de inadimplência dos mais vulneráveis. , o que pode ser um desafio para o símbolo dos bancos na sociedade.

“A obtenção de vantagens foi superior a R$ 600, até o final do ano. Isso gera imprevisibilidade sobre quanto o beneficiário vai receber a partir do próximo ano, o que é uma questão de incerteza para a concessão de crédito”, diz. . . Santacreu

Emite que o prazo de dois anos para o pagamento da dívida, que representa parte de um mandato presidencial, também é uma questão de incerteza, uma vez que as regulamentações do programa social possivelmente sofreriam ajustes nesse período.

“O momento é que, como não há restrição das taxas de juros, existe uma das ESG [boas práticas na gestão ambiental, social e corporativa], governança”, diz o analista.

“Estamos falando de uma população vulnerável, que em muitos casos depende desse auxílio alimentar. Ao criar dívidas para essa pessoa, você pode sufocar o tomador, criando um desafio maior para outras pessoas que não têm educação monetária. Avaliar se essas taxas de juros são compatíveis com o orçamento de seu círculo de parentes”, observa.

Assim, com a retirada dos grandes bancos, a concessão de empréstimos salariais dedutíveis aos beneficiários do auxílio será realizada por meio de instituições monetárias de médio porte, como Pan, Safra e Facta Financeira. Além dos bancos públicos federais, como a Caixa e o Banco do Brasil, que ainda não revelaram se e como participarão do novo tipo de empréstimo.

A educadora financeira Evelin Bonfim insiste que os créditos dedutíveis sobre o salário representam um erro para os beneficiários do auxílio e valores como política pública errônea a resolução do governo para conceder esses créditos na véspera das eleições.

“A remessa, em geral, é um empréstimo perverso, pois deixa ao cliente a possibilidade, em caso de emergência, de pagar o depósito e ficar para trás”, diz.

Na verdade, no empréstimo pessoal o valor do depósito é deduzido da folha de pagamento, mesmo antes de o usuário receber o dinheiro na conta.

“É maravilhoso para o banco de empréstimos, mas significa que o cliente não tem escolha”, diz Evelin. Ela observa que há países onde é imaginável fazer uma “paralisação” das dívidas por um período seguro, uma opção que não existe. na conta salarial brasileira.

O educador financeiro também destaca que o Auxílio Brasil é um benefício para o componente mais vulnerável da população, que usa esse dinheiro para sua subsistência.

“O usuário usa esse dinheiro para sobreviver: comprar arroz e feijão, pagar aluguel e repor combustível em casa. Então o usuário vai dedicar [com o pagamento das taxas] 40% de algumas vantagens que é para ele ter o mínimo”, diz Evelin.

“O usuário receberá o empréstimo em dinheiro agora e no próximo mês seus desejos são os mesmos. Mas este mês seu benefício será menor, pois você terá o valor que sobrou após o pagamento das taxas”, explica.

E isso assumindo que o usuário continua a lucrar. Evelin lembra que, ao contrário de uma aposentadoria, o Auxílio Brasil pode acabar, seu preço pode ser reduzido ou o usuário pode ser desqualificado se atender aos critérios do programa.

“Ninguém se endivida para comprar alimentos, e é isso que vai acabar acontecendo com muitos beneficiários”, diz o especialista em finanças públicas.

“Isso é evidência de um fracasso maciço da sociedade, da política de preocupação para as famílias mais vulneráveis e do controle econômico como um todo”, acrescentou.

– Este texto foi originalmente publicado em https://www. bbc. com/portuguese/brasil-62527996

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