‘Morreu após 10 horas na fila’: Bem-estar tem o menor em uma década

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Janaína Araújo (à esquerda) com o marido Iomar Fernandes Torres. Janaína morreu após dez horas na fila de um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) em Brasília (foto: Arquivo Pessoal)

Lutando contra a depressão que a impediu de correr por 4 anos, e ainda sofrendo de hipertensão, obesidade, pânico e síndrome de ansiedade, Janaína Araújo, 44, tentou por 8 dias ser tratada no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) do BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Sem conseguir agendar um telefonema, ele se juntou a dezenas de outras pessoas na fila do Cras Paranoá, em Brasília, por volta das 17h30. a terça-feira (16/8).

Mas eu nunca passaria pelas portas do centro de assistência social que abre às 8 da manhã.

Por volta das quatro horas da manhã de quarta-feira, Janaína começou a se sentir mal, com sintomas de um ataque central. Ela foi levada ao hospital, mas não sobreviveu.

“Ela é uma parceira de vida, eu por ela e ela por mim e fizemos tudo juntos. Éramos companheiros, cúmplices, confidentes, amigos”, diz o independente.

“Meu choro é de natureza política porque eu tenho um entre e o outro, e tudo permanece o mesmo. Mas espero, do fundo do meu coração, que outros Janaínas não queiram mais morrer para substituir a fórmula do cuidado. “acordar e ver que isso é desumano, humilhante”, acrescenta Iomar.

A trágica morte de Janaína Araújo é um exemplo de como a fragilidade da assistência social brasileira tem afetado a vida de outras pessoas vulneráveis.

Para especialistas e funcionários municipais ouvidos pela BBC News Brasil, as filas nos portões dos Cras em todo o país são resultado direto da perda de área para assistência social no orçamento federal, além de ajustes no controle dos sistemas sociais. trazido unilateralmente através do governo. Segundo eles, a diminuição dos recursos mostra a falta de precedência para a assistência social.

Querendo comentar sobre o alívio do orçamento da previdência social, o Ministério da Cidadania respondeu a perguntas da BBC News Brasil.

As unidades de assistência social são a rede de estabelecimentos públicos que proporcionam acesso a benefícios como Auxílio Brasil, BPC (salário mínimo pago a idosos e deficientes de baixa renda) e encaminhamento para abrigos para jovens e mulheres vítimas de violência doméstica, por exemplo.

Apesar do recente acúmulo de recursos da Ajuda Brasil, essa rede de serviços sem parar, que exige financiamento permanente, perdeu espaço no orçamento federal.

O estilo de controle do Suas (Sistema Único de Assistência Social) prevê o cofinanciamento da fórmula de assistência social entre a União, o Distrito Federal, os Estados e os municípios. 2014 e deve atingir seu ponto mais baixo em mais de uma década em 2023.

Segundo levantamento da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), o orçamento federal para o cofinanciamento da assistência – que inclui a manutenção do Cras, creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e abrigos, por exemplo – diminuiu em cerca de R$ 3 bilhões em 2014, ano com maior orçamento no último período. para valores próximos a R$ 1 bilhão em 2021 e 2022, de acordo com a Lei De Finanças Anual (LOA).

Por meio do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), empresa vinculada ao Ministério da Economia, mostra a mesma tendência.

“Esse volume de recursos é impressionante porque representa o menor valor proposto pelo governo federal nos últimos dez anos. Isso aponta para a falta de precedência dada a essa política, especialmente no contexto de uma crise com efeitos duradouros sobre a economia. sociedade e isso exigirá um longo processo de recuperação”, escreveram os técnicos do Ipea ao comentar o orçamento da previdência social em 2021.

Em 2023, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) discutido recentemente no Congresso destina um valor ainda menor a esses serviços: R$ 48,3 milhões, o menor valor em mais de uma década.

Esse montante inclui recursos para Proteção Social Básica (que mantém o Cras), Proteção Social Especializada (que mantém todos os especializados) e Estruturação de Redes de Serviços (que inclui despesas com encaminhamento para empréstimos por meio de entidades).

Uma primeira explicação para por que a rede previdenciária está perdendo espaço no orçamento federal, enquanto benefícios como o Auxílio Brasil e o BPC veem seus recursos mantidos ou mesmo aumentados, é que os sistemas de movimentação de fontes de lucro são despesas obrigatórias, enquanto as despesas de assistência social e são despesas discricionárias, despesas que o governo possivelmente ou não faria, de acordo com as previsões de lucro.

Isso é explicado por Jucimeri Isolda Silveira, professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUC-PR e chefe de Proteção Social, Falta de Proteção e Financiamento do Suas.

“Desde a Emenda Constitucional 95 [que estabeleceu o teto de gastos, restringindo a expansão dos gastos públicos à reposição da inflação do ano passado], os recursos previdenciários foram reduzidos. população que acessa benefícios, que está comprometida”, diz Silveira.

Ela dá um exemplo concreto dessa perda de recursos: o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) não ganha investimento federal para movimentos de luta desde 2019.

Com o alívio dos repasses federais, as instalações que são prestadas através dos municípios também estão comprometidas, como o atendimento à população em situação de rua, imigrantes e mulheres vítimas de violência.

“A assistência social é a que, no final, fornece esse serviço, é ela, por exemplo, que promete a cobertura completa dos jovens em acolhimento em instituições, que são mais de 30 mil no Brasil”, ilustra o professor e pesquisador da PUC. – PR

Para Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o teto de gastos tem incomodado o cenário de perda de fonte de renda para assistência, mas a restrição orçamentária é mais cedo.

“Houve um corte nas despesas discricionárias desde 2014, 2015, quando começa o ajuste fiscal. O teto de gastos vem no meio dessa história. Começa em 2017 e institucionaliza o alívio desses gastos”, explica Pires.

Nos últimos anos, o governo tem procurado compensar a redução do orçamento da previdência, alocando recursos por meio de reformas parlamentares ou alocações ordinárias, como recursos emergenciais para combater o Covid-19.

Mas Elias de Sousa Oliveira, presidente do Congemas (Colégio Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social), explica que isso não resolve o problema, uma vez que as estruturas são permanentes, enquanto esses recursos são ocasionais.

“As instalações do Cras, Creas, atendimento a adultos e crianças, abrigos para mulheres vítimas de violência são instalações permanentes. Como programar um serviço permanente usando uma emenda parlamentar esporádica?

O representante do Congemas explicou que, para atender a população em um momento de maior demanda pelos mais vulneráveis, os municípios passaram a compensar com seu próprio dinheiro pela falta de recursos federais.

“Alguns municípios pequenos, com mais dificuldade, terminaram de cortar o serviço e até os serviços finais. Outros municípios acabaram cobrindo o que o governo federal não impõe, mas isso implica uma perda da capacidade de construção e ampliação do serviço tanto após a pandemia, aumentando a demanda”, diz Oliveira.

Ele citou o exemplo de Foz do Iguaçu, município onde foi secretário de Assistência Social. A partir de março de 2020, o município paranaense conta com 29 mil famílias cadastradas no Cadastro Único (cadastro de famílias brasileiras de baixa renda que dão acesso a benefícios como o Auxílio Brasil), somando 7 mil em situação de extrema pobreza.

Hoje, em Oliveira, há 47 mil famílias cadastradas em adoção e 18 mil famílias em situação de extrema pobreza.

“Isso tem um apelo maior para o Cras, Creas, acolhimento, assistência à população em situação de rua e, além de ter uma ampliação dos objetivos de serviço e cofinanciamento, continuamos a ter descontos nos recursos, em um contexto muito grande”, explica o gestor.

Segundo ele, os municípios ultimamente concentram 90% de tudo o que se investe na assistência social, cenário que pode ser confuso devido à perda do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, que foi resolvido através do governo federal. governo como uma forma de reduzir a inflação na véspera das eleições de outubro.

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima a perda de lucros dos municípios com a medida em 22 bilhões de reais, com efeitos sobre as despesas com escolaridade e aptidão.

Oliveira diz, no entanto, que apenas a falta de recursos explica as filas nos portões do Cras, como a que Janaína encontrou em Brasília, no dia em que o parceiro de Iomar morreu após dez horas de espera e 8 dias de tentativas fracassadas. para baixar um benefício.

Segundo o funcionário, com a mudança do Bolsa Família para o Auxílio Brasil, o procedimento de atualização do Cadastro Único mudou. Anteriormente, os municípios tinham 60 dias para investigar as famílias, realizar uma busca ativa e notificar o governo federal de casos em que os familiares não podem ser descobertos para atualizar o registro, resultando na obtenção de benefícios sendo bloqueados até que alguém do ambiente familiar fosse ao encaminhamento do Cras.

“Hoje, o governo bloqueia todo mundo [com cadastro passado] e muitas outras pessoas só sabem que estão bloqueadas quando vão ao banco para retirar o Auxílio Brasil. Dá para acreditar que em um mês, 3 famílias ficam presas em Foz do Iguaçu?— como já essas 3. 000 famílias passam sem demora para o Cras. Isso vai gerar uma fila”, explica Oliveira.

Soma-se a dificuldade de ampliar o número de funcionários do serviço, devido à restrição de recursos, nesse contexto de aumento da demanda, também estimulado pelo Auxílio Brasil, que acumula até R$ 600 até dezembro e pelo prédio na alocação de combustível.

“Antes, quando o governo federal fazia os ajustes, interagia com os municípios. Eu tinha um plano total. Hoje, estados e municípios são informados dos ajustes por meio dos jornais”, disse o líder.

Após a morte de Janaína no Cras Paranoá, em Brasília, o governo do Distrito Federal anunciou uma aliança com os bombeiros do Exército do DF para ampliar a socialização e aliviar a espera por atenção nos Cras, na capital do país.

A Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes) respondeu a um pedido de posicionamento sobre o tema feito pela BBC News Brasil.

Iomar espera que a morte de seu parceiro sirva de despertar para que ele mude a fórmula de bem-estar do Brasil.

“O bem-estar em nosso país, sinto muito, mas é decadente, é vergonhoso. Não para os profissionais de saúde, mas para a fórmula e seus governantes. É um incentivo para a cauda, para o descuido, para a desumanidade”, diz Iomar.

“Queremos uma mudança radical. Quero que meu grito seja ouvido: não deixe Janaínas morrer por ajuda para ter um pouco de dignidade. Isso é o que eu espero: que sua morte não foi em vão. Espero que haja mudanças.

– Este texto foi originalmente publicado em https://www. bbc. com/portuguese/brasil-62815251

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