Por que o governo Bolsonaro está sendo investigado por suposto genocídio contra Yanomami

PF vai investigar se houve omissão de agentes públicos no território Yanomami sob governo Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de uma investigação por meio do governo de Jair Bolsonaro (PL) pela suposta prática de genocídio do povo indígena Yanomami. O pedido foi assinado por meio do ministro Luis Roberto Barroso nesta segunda-feira (30).

Os nomes dos investigados não foram revelados porque o procedimento é realizado em sigilo.

As investigações serão realizadas por meio da Procuradoria-Geral da República (PGR), do Ministério Público Militar, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal.

De acordo com o despacho de Barroso, os órgãos devem investigar “a participação imaginável do governo de Jair Bolsonaro na prática, em tese, dos crimes de genocídio, desobediência, violação do sigilo da justiça e crimes ambientais semelhantes à vida”. , adequação e proteção de diversas comunidades indígenas”.

O ministro determinou o envio de documentos ao governo que, segundo ele, “sugerem um símbolo de absoluta falta de confiança dos povos indígenas envolvidos, bem como a ocorrência de movimentos ou omissões, parciais ou totais, do governo federal, agravando essa situação”.

No gabinete, Barroso citou como exemplo a publicação, por meio do então ministro da Justiça, Anderson Torres, no Diário Oficial da Federação, da data e hora de uma operação secreta de oposição à mineração ilegal no território Yanomami, que teria alertado os invasores e dificultado a ação.

Para o ministro ideal, os fatos “ilustram uma situação gravíssima e preocupante, bem como a suposta prática de crimes, com a participação das mais altas autoridades federais”.

A investigação solicitada por Barroso amplia as investigações iniciadas pela Polícia Federal, que na semana passada anunciou uma investigação sobre se houve crime de genocídio e falta de ajuda aos outros Yanomami por meio do governo Bolsonaro.

A investigação foi iniciada após um pedido de Flávio Dino, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, um dos membros da delegação que visitou a terra indígena em 21 de janeiro.

João Fellet procura como os brasileiros alcançaram o grau de divisão existente.

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Dois outros processos judiciais estão sendo avaliados recentemente no Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, Holanda. Nestes, a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Comissão Arns argumentam que o ex-presidente cometeu crimes de genocídio na pandemia de covid-19 e na forma como controlou a cobertura dos povos indígenas nos últimos 4 anos.

Questionado por meio da reportagem, Bolsonaro não comentou o assunto. Mais cedo, Bolsonaro escreveu em um aplicativo de mensagens que a denúncia da crise Yanomami é “uma farsa da esquerda” e argumentou que seu governo dará atenção especial aos territórios indígenas.

Quais são os argumentos para acusações tão graves? E o que mais disse Bolsonaro?

Juristas entrevistados por meio da BBC News Brasil ressaltam que há elementos suficientes para abrir uma investigação, mas que é obrigatório localizar provas e indícios para fazer julgamentos imagináveis no futuro. Em segundo lugar, eles percebem como, em sua opinião, questões como incitação à mineração, investigações de desvio de drogas e avisos ignorados pelo governo podem ser abordados.

De acordo com o Tribunal Penal Internacional, o genocídio é caracterizado pela “intenção expressa de destruir, no todo ou em parte, uma organização nacional, étnica, racial ou devota, pela morte de seus membros por outros meios, a fim de causar situações graves de vida física ou intelectual a uma organização, mais susceptíveis de causar destruição física total ou parcial, impor medidas para salvar seus nascimentos ou transferir à força jovens de uma organização para outra”.

A advogada Sylvia Steiner, a única brasileira a ter sido julgada na Justiça de Haia entre 2003 e 2012, explica que “genocídio não é assassinato qualquer”.

“Terá que haver um alvo para destruir uma organização por causa de sua nacionalidade, etnia, raça ou religião”, disse ele.

Ele também enfatiza que há uma diferença entre genocídio e crimes contra a humanidade.

“Crimes contra a humanidade são aqueles cometidos no âmbito de uma política ou organização do Estado que ataca a população civil. Eles vêm com assassinato, violência sexual, deportação forçada, perseguição, extermínio, escravidão. . . “, enumera.

“Neste caso, não há um propósito específico, ou seja, o fim transparente de uma organização por razões como nacionalidade, etnia, raça, religião”, acrescenta.

Crédito, Getty Images

Localizado em Haia, o Tribunal Penal Internacional julga genocídio e crimes contra a humanidade

Advogado Belisário dos Santos Junior da Comissão Internacional de Juristas que o Brasil tem uma lei sobre genocídio desde 1956.

“É aprovado sob o governo de Juscelino Kubistchek, que reconhece não apenas a ação direta, mas também a incitação ao genocídio”, disse ele.

A lei brasileira também pune qualquer pessoa que “incite direta e publicamente alguém a cometer qualquer um dos crimes” semelhantes ao genocídio.

Mas, o que as investigações podem pesar contra o governo Bolsonaro?

O relatório Yanomami Sob Ataque, em abril de 2022, através da Hutukara Associação Yanomami e da Associação Wanasseduume Ye’kwana, com assistência técnica do Instituto Socioambiental, faz um inventário da extração ilegal de ouro e outros minerais nesta região, que inclui a maior reserva indígena do país. .

“Sabemos que o desafio da mineração ilegal é novo na TIY [terra indígena Yanomami]. No entanto, sua magnitude e intensidade aumentaram de forma impressionante nos últimos cinco anos. O conhecimento do MapBiomas indica que, a partir de 2016, a curva de destruição da mineração tomou uma trajetória ascendente. e, desde então, vem acumulando taxas cada vez maiores. Nos cálculos da plataforma, de 2016 a 2020, a mineração para TIY ultrapassa nada menos que 3. 350%”, diz o texto.

O levantamento das associações mostra que, em outubro de 2018, o total destruído pela mineração chegou a pouco mais de 1. 200 hectares. “Desde então, o impacto mais do que dobrou, atingindo um total de 3. 272 hectares em dezembro de 2021”, continua a publicação.

Crédito, Getty Images

Mineração e falta de público ameaçam povos indígenas, diz Tribunal Internacional

Durante os quatro anos de sua presidência, Bolsonaro tem falado continuamente sobre mineração em terras indígenas; O governo chegou a propor um projeto de lei que tornaria a prática imaginável no âmbito da lei.

Em março de 2022, por exemplo, ele disse que “os índios precisam da internet, precisam explorar legalmente suas terras, apenas para a agricultura, mas também para a mineração”.

“A Amazônia é uma região muito grande. Em Roraima há uma tabela periódica subterrânea”, acrescentou.

Santos Junior, que é da Comissão Arns, entende que há vários exemplos do incentivo de Bolsonaro à mineração.

“Os Garimpeiros estão tomando conta das áreas, derrubando a floresta, invadindo academias de ginástica fundamentais. . . Aqueles que são precisamente aqueles que inspiram a mineração e o desmatamento, aqueles que não estão oferecendo as condições para a sobrevivência dos povos e etnias”, disse ele.

O Ministério Público Federal realizou operações para investigar o desvio de drogas no território Yanomami.

Segundo o órgão, apenas 30% dos mais de 90 tipos de medicamentos que foram entregues foram entregues em 2022.

Os promotores dizem que o desvio de vírus de computador (que trata infestações de vírus de computador) impediu o tratamento adequado para 10. 000 das 13. 000 crianças que vivem na área.

Há processos judiciais sobre a interrupção do fornecimento de alimentos.

Alisson Marugal, promotor de Justiça em Roraima, disse que o Ministério da Saúde cortou o fornecimento de alimentos a outros indígenas em postos de ginástica estaduais em 2020, sem explicação.

Toda a situação dos casos e mortes por desnutrição e malária levou o Ministério da Saúde a declarar emergência física no território Yanomami no dia 21 de janeiro.

Entre as ações emergenciais, o governo anunciou o envio de profissionais de ginástica e a criação de hospitais em dinheiro para os doentes.

De acordo com o secretário do Ministério da Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba, mais de mil pessoas já foram resgatadas em condições de extrema vulnerabilidade na região.

Crédito, Ricardo Stuckert/RP

Lula diz que visitar território Yanomami é ‘desumano’

Por fim, diversos nacionais e estrangeiros chamaram a atenção para o que aconteceu com os Yanomami nos últimos meses e anos.

Em nota, a Apib disse que a invasão de garimpos ilegais em terras indígenas Yanomami foi denunciada pelo menos 21 vezes aos órgãos judiciais e governamentais do governo Bolsonaro.

Uma petição também protocolada no Supremo Tribunal Federal em maio do ano passado sobre o assunto. Nele, Apib e outros pedem que o governo aja para envolver a invasão de garimpeiros em terras onde vivem os Yanomami e outros povos, como os Munduruku.

Em 1º de julho de 2022, a Corte Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma decisão exigindo uma reação do Brasil para “proteger a vida, a integridade e a aptidão dos membros dos povos indígenas Yanomami, Ye’kwana e Munduruku”.

A comissão que avaliou o caso descreveu o cenário dos americanos dessas 3 populações como “de gravidade e urgência excessivas”.

Entre as medidas tomadas pelo país, o tribunal sob pressão quer “proteger eficazmente a vida, a integridade pessoal, a adequação e o acesso a alimentos e água potável” destes povos.

O tribunal pediu ao Estado brasileiro um relatório com um resumo das medidas que foram tomadas para combater o cenário até 20 de setembro de 2022. Depois disso, novas atualizações sobre o caso serão enviadas a cada três meses.

A BBC News Brasil entrou em contato com a Corte Interamericana de Direitos Humanos para saber se o país cumpre as medidas.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa disse que “até hoje, aguarda-se uma reação do Estado brasileiro”.

Para Santos Junior, “o ex-presidente, por causa de suas obsessões [minerárias], acaba por estar à altura das demandas de quem corre riscos”. Disse ele.

“Os demais indígenas foram sufocados de tal forma que as mortes e o socorro da organização correspondem, na minha opinião, à qualificação de genocídio pelos movimentos ou movimentos do então presidente da República”, acrescenta o advogado.

Sylvia Steiner, especialista em direito, acredita que a abertura de uma investigação serve exatamente para conduzir investigações e coletar evidências de crimes imagináveis cometidos.

“Por enquanto, não há fatos a provar. Há indícios de genocídio. E isso é complicado, porque você tem que descobrir que havia um objetivo de varrer os Yanomami da face da terra”, disse ele.

Segundo o jurista, outra opção é investigar crimes imagináveis contra a humanidade, e não genocídio.

“Vemos que há um plano, uma política de Estado contrária aos Yanomami, mas sobre as terras que eles ocupam e seu interesse em se apropriar da riqueza que existe lá. Yanomami. Yanomami por causa de sua etnia”, disse ele.

“Às vezes, essa política de Estado leva ao extermínio do grupo. Então, possivelmente, estaríamos diante de um crime contra a humanidade de extermínio ou perseguição”, acrescentou.

Steiner chama a atenção para o fato de que a legislação brasileira não abrange crimes contra a humanidade. Neste caso, a investigação imaginável e um próximo julgamento contam com a ação do Tribunal Penal Internacional.

O especialista sublinha que tais julgamentos em Haia, de potenciais autores, podem levar a penas até 30 anos ou prisão perpétua em casos extremos.

Crédito, correspondente de Andressa Anholete/Getty Images

Comunidades que fazem parte da Reserva Yanomami enfrentam uma crise humanitária cuja principal causa é a expansão da mineração ilegal

Steiner argumenta que o conceito de genocídio e crimes contra a humanidade é o assunto de muito entre os estudiosos do direito.

“Um lado sente que, depois de tanto tempo desde que o conceito foi explicado na década de 1940, há uma necessidade de uma compreensão mais ampla do que é genocídio. Argumentam que o global substituiu e que a interpretação desse crime merece ser mais flexível”, disse.

“Eu sou um dos que aderem à letra da lei. Então, para mim, terá que ser mostrado que houve de fato uma tentativa genocida, o objetivo de destruir toda ou parte dessa comunidade, seja por razões de religião, etnia, raça ou nacionalidade”.

“Além disso, possivelmente estaríamos diante de um crime contra a humanidade, que é igualmente grave”, acrescentou.

Segundo o especialista, o conceito de crimes contra a humanidade é novo – foi ratificado mundialmente desde o Estatuto de Roma de 2002 – e, portanto, ainda gera confusão.

“Esse conjunto de regras está acima dos regulamentos do país e proíbe uma diversidade de comportamentos que colocam em risco a paz e a humanidade de comunidades inteiras”, diz Steiner.

“Quando tivermos escândalos lamentáveis e desastres humanitários, teremos que aproveitar este momento para avançar ética e eticamente. Que o cenário existente desperte os povos e os países para os anseios especiais dos povos indígenas. Está na hora”, concluiu.

A BBC News Brasil tentou tocar Bolsonaro por meio de assessores, ex-ministros, outras pessoas próximas a ele, da comunicação do Partido Liberal e por meio das redes sociais para que ele pudesse se posicionar sobre todos os assuntos e acusações. Nenhuma reação obtida no momento da publicação deste relatório.

Assim que a emergência física foi revelada nos últimos dias, o ex-presidente postou mensagens no aplicativo de mensagens Telegram.

Ele chamou a denúncia da crise Yanomami de “farsa esquerdista” e disse que seu governo realizou 20 movimentos de condicionamento entre 2020 e 2022 que especializaram a atenção em territórios indígenas, especialmente em lugares remotos e de acesso limitado.

Segundo o ex-presidente, mais de 449 mil indígenas foram beneficiados, aos quais 60 mil foram atendidos. Ainda na mensagem, ele disse que o governo federal enviou 971,2 mil medicamentos e 586,2 mil equipamentos de proteção privados, totalizando 1,5 milhão de peças. enviado para essas operações.

– Este texto publicado em https://www. bbc. com/portuguese/brasil-64417930

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