Venezuela: O que o Brasil tem a ganhar ou perder com a reconquista com o país de Maduro?

Durante os primeiros governos de Lula, o líder brasileiro tornou-se o então presidente Hugo Chávez.

“O presidente também me confiou o restabelecimento das relações com a Venezuela, o que faremos a partir do dia 1º”, anunciou o atual ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, duas semanas antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). como presidente.

Ele marcou um novo momento nas relações entre os dois países, que estão diplomaticamente separados há apenas cinco anos.

Ao mesmo tempo, ele destacou um dos temas mais criticados da política externa do PT: sua proximidade com o regime bolivariano na Venezuela.

Mas à medida que o país olha para a Venezuela depois de anos de distanciamento, as perguntas que se levantam são: o que o Brasil representa com essa aproximação?E o que você tem a perder?

Especialistas entrevistados pela BBC News Brasil dizem que retomar as relações com a Venezuela pode trazer benefícios econômicos e diplomáticos e problemas de assistência, como a crise migratória que levou milhares de venezuelanos a cruzar a fronteira para o Brasil.

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Crédito, Reuters

Internacional acusa regime de Nicolás Maduro de violar direitos humanos

Por outro lado, dizem que essa aproximação pode acarretar perigos devido à instabilidade política e econômica da Venezuela e aquela gerada pelo acordo do governo Lula com um governo acusado de violar os direitos humanos por meio da comunidade estrangeira.

A história da proximidade entre Brasil e Venezuela nos governos petistas começou com a posse de Lula em seu primeiro mandato, em 2003. Naquela época, o país vizinho governava através de Hugo Chávez.

João Fellet procura como os brasileiros alcançaram o grau de divisão existente.

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Os dois se tornaram interlocutores regulares e o Brasil passou a acentuar sua presença publicitária no exterior.

Em apenas cerca de duas décadas, o equilíbrio da indústria entre os dois países tem sido particularmente favorável para o Brasil.

O conhecimento do governo federal mostra, por exemplo, que entre 2003 e 2022, o Brasil exportou US$ 52,9 bilhões em bens e importou US$ 10,5 bilhões, resultando em um superávit de US$ 42,4 bilhões.

A época em que esse fluxo de indústria era de máxima intensidade ocorreu nos anos em que o país foi governado pelo PT, entre 2003 e 2016.

As exportações brasileiras para a Venezuela subiram de US$ 603 milhões em 2003 para um pico de US$ 5,1 bilhões em 2008, apoiadas pelo governo Lula. Nos anos seguintes, o volume de exportações brasileiras para a Venezuela permaneceu acima de US$ 3,5 bilhões até 2014.

Naquele ano, o Brasil exportou US$ 4,5 bilhões. Com isso, o volume de produtos brasileiros e produtos vendidos para o país vizinho entrou em colapso. Em 2019, foi de US$ 420 milhões e, em 2022, chegou a pouco mais de US$ 1,2 bilhão.

A intensificação dos laços entre os dois países sob governos petistas tem a oposição e políticos como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na mira.

Nas eleições presidenciais de 2022, um dos argumentos mais comuns se opõe a Lula de que a vitória do PT faria o Brasil “se tornar uma Venezuela”, em referência à crise política e econômica que o país vizinho está vivendo.

Outro componente da denúncia dessa proximidade foi que o governo venezuelano tomou uma posição apesar das constantes acusações de que o regime bolivariano era culpado de graves violações dos direitos humanos e falta de respeito às normas democráticas.

Outro ponto citado pelos beligerantes de Lula são as acusações de que os comerciantes brasileiros se aproveitaram de seus contatos com políticos do país e da Venezuela para assinar contratos pagando propinas.

Investigações como a Operação Lava Jato mostraram a ligação entre os líderes das corporações da estrutura primária do país e os agentes políticos, seja do chavismo, que governava o país, seja da oposição, que governava municípios como Chacao, um dos que até compõem a região metropolitana de Caracas.

Os denunciantes da Odebrecht disseram ao governo dos EUA que tinham a decisão de fazê-lo. Autoridades dos EUA pagaram US$ 98 milhões em subornos a agentes venezuelanos para ganhar contratos no país.

Em 2016, com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), a Venezuela sofreu um primeiro arranhão. Maduro chamou o impeachment de Dilma Rousseff de golpe.

Ao mesmo tempo, o cenário político e econômico na Venezuela também se deteriorou, com taxas de inflação altíssimas, o desenvolvimento da pobreza e a realização de protestos e reações violentas através das forças de segurança bolivarianas.

A Encovi sobre as situações de vida dos venezuelanos realizada em 2021 através da Universidade Católica Andrés Bello revelou que 24,8% dos venezuelanos estão em extrema pobreza e que 60% da população vive com insegurança alimentar moderada a grave.

A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 marcou o distanciamento sistemático entre os dois países.

Crédito, EPA

Juan Guaidó tentou ganhar força na Venezuela e ganhou o apoio de governos como os Estados Unidos e o Brasil, mas Nicolás Maduro continua à frente do país.

Em 23 de janeiro de 2019, poucos dias depois de tomar posse, Bolsonaro identificou o líder da oposição de Maduro, Juan Guaidó, como presidente da Venezuela, acompanhando uma moção concertada entre os países do chamado Grupo de Lima, que defendia a substituição do venezuelano. governo.

Em agosto de 2019, Bolsonaro assinou uma ordem proibindo o acesso a altos funcionários do regime venezuelano, impedindo efetivamente o presidente Nicolás Maduro de entrar no Brasil. A portaria só foi revogada no final de 2022.

Em 2020, o brasileiro retirou diplomatas da Venezuela e fechou a embaixada que mantinha em Caracas.

Enquanto isso, milhares de venezuelanos continuavam a entrar no Brasil pela fronteira seca entre os dois países, basicamente pelo estado de Roraima.

Em meses, no entanto, a posição de países como a França e os Estados Unidos em relação à Venezuela mudou, especialmente após a crise de poder gerada pela guerra entre Ucrânia e Rússia.

Em novembro, por exemplo, os EUA O governo dos EUA aliviou as sanções contra a Venezuela, permitindo que as empresas de petróleo dos EUA retornassem ao trabalho no país.

No processo de aproximação citado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, os primeiros passos serão enviar um encarregado de negócios a Caracas, reativar os esforços diplomáticos e, no futuro, nomear um novo embaixador no país. assembleia entre Lula e Nicolás Maduro.

Para Carol Pedroso, médica de relações exteriores e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apesar do contexto complexo, o Brasil tem muito a ganhar com a aproximação com a Venezuela.

Segundo ela, os benefícios são: reabrir canais para possíveis novas crises, cortar os efeitos da crise migratória e aproveitar as oportunidades econômicas.

“Se novos distúrbios surgirem na Venezuela, já teremos canais abertos para ajudar e evitar que a crise chegue ao ponto que já chegou”, disse o professor.

Quanto à crise migratória, o professor diz que restabelecer os laços com a Venezuela pode levar o Brasil a se inscrever na organização de países que já estão correndo para repatriar venezuelanos que migraram para o Brasil.

Ela questiona que, economicamente, há benefícios.

“Embora a Venezuela tenha seus problemas, continua sendo um país economicamente complementar ao Brasil. Isso significa que eles não produzem muito do que produzimos e isso representa uma oportunidade para nós”, diz ele.

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Dolarização da economia da Venezuela reduziu a escassez e aliviou a inflação, dizem especialistas

Oliver Stuenkel, professor de relações exteriores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), argumenta que, do ponto de vista econômico, as oportunidades são menores do que no passado.

“A economia da Venezuela está menor do que antes. Ainda está longe da realidade do início dos anos 2000”, disse.

Mesmo assim, o professor diz que o passo repetido pelo novo Lula é uma aposta para o futuro.

“Aos olhos do governo, essa é uma aposta de longo prazo. É uma moção que aposta em uma recuperação da economia venezuelana a longo prazo maior do que a que vemos hoje”, disse o professor.

Estima-se, por meio da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), ligada às Nações Unidas, que a economia da Venezuela deverá ter crescido 12% até 2022.

Se a previsão se confirmar, esta será a primeira expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país desde a época, entre 2013 e 2014.

Thiago Gehre Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB), lê Brasil-Venezuela há pelo menos 10 anos.

Segundo ele, além dos aspectos econômicos e humanitários, a retomada da discussão com Caracas é uma oportunidade para o Brasil se reposicionar como líder regional na América do Sul e na América Latina.

“O mérito maravilhoso do Brasil neste momento é que ele está mais uma vez retomando uma posição de cuidado e liderança na região. Isso pode ser feito fortalecendo os fóruns que já existem ou até mesmo tomando o lugar de alguns que foram deixados para trás, como a Unasul (União de Nações Sul-Americanas)”, disse.

Galvão acredita que o Brasil tende a tirar vantagens comerciais dessa aproximação com a Venezuela.

“A Venezuela é um grande mercado com receitas de petróleo. Em outras palavras, há dinheiro e a indústria venezuelana é muito incipiente. É que há uma demanda por diversidade de produtos que o Brasil pode vender”, explica.

Apesar de verem os benefícios dessa retomada das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela, especialistas entrevistados pela BBC News Brasil avaliam que há 3 perigos principais nessa nova aproximação entre os dois países: tensões políticas internas, novos calotes e instabilidade política venezuelana.

“Acabamos de sair de uma eleição muito polarizada, na qual se falou muito sobre a ameaça deliberada de ‘venezuelização’. O Brasil ainda está muito polarizado e parte da população brasileira deve resistir a essa aproximação”, disse Carol Pedroso, da Unifesp.

“Há um risco interno. A oposição (ao governo de Lula) criticará qualquer tipo de aproximação e alegará que é um alinhamento ideológico com o regime de Maduro”, disse Stuenkel.

O professor FGV destaca o ponto decisivo dessa fusão: a opção de as corporações brasileiras serem alvo de um calote na Venezuela.

“A Venezuela é uma posição ameaçadora para operar. Há uma ameaça de inadimplência para as corporações que precisam fazer negócios lá. É possível que corporações com conexões políticas possam minimizar essa possibilidade, mas ela existe”, disse Stuenkel.

A inadimplência da Venezuela tem sido uma das questões levantadas por meio da oposição a Lula para criticar a proximidade com o país.

Isso aconteceu porque, pelo menos desde 2020, o Brasil busca obter parte de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para realizar obras de infraestrutura no país. Segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a provisão para dívidas chega a 6 bilhões de reais.

O professor Thiago Gehre Galvão, da UnB, também alerta que essa aproximação dificilmente pode demonstrar o compromisso do novo governo Lula com a defesa da democracia.

“Se você começar a se aprofundar economicamente nesse namoro, haverá uma espécie de névoa em um governo com desordens transparentes com sua própria democracia. E isso vai acontecer em um contexto em que o novo governo foi eleito em um contexto em que até a democracia brasileira foi enfraquecida”, disse Galvão.

“Ele está percebendo o quanto o Brasil vai derreter sua posição sobre a democracia para se aproximar da Venezuela”, disse o professor.

– Este texto publicado em https://www. bbc. com/portuguese/brasil-64193544

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