William Bittar: Igrejas Católicas Neocoloniais no Rio de Janeiro – 1/2

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A cidade do Rio de Janeiro, devido às suas peculiaridades geográficas e políticas, capital nacional de 1763 até sua transferência para Brasília, abriga um notável conjunto arquitetônico de valores históricos, artísticos e culturais, composto por palácios, apartamentos e templos.

No que diz respeito às igrejas, os exemplos de tipologias estilísticas constituem um conjunto pródigo de outras tendências, traçando a história da arquitetura brasileira desde os tempos coloniais até os dias atuais. Maneirismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Historicismo, Ecletismo, Neocolonialismo, Art Déco, Modernismo e edifícios mais recentes são substituídos.

Por outras razões, há uma predileção pelos templos mais antigos, testemunhas da formação inicial e progressão da cidade, com interiores abundantemente decorados, obra de artistas ou mesmo autores anônimos, representando o esplendor do barroco e do rococó no Rio de Janeiro.

Quanto ao ecletismo, só recentemente foi valorizado e tem sido objeto de alguns artigos e documentação, aparecendo a influência de estilos antigos, como o neogótico, que dão a cidade como exemplo.

Há uma defasagem da época referente ao movimento neocolonial, significativo na arquitetura nacional entre a década de 1910 e a última década de 1940.

Muitos membros da Academia precisam deixá-la de lado ou simplesmente integrá-la, erroneamente, no ecletismo. Talvez seja uma homenagem a alguns profissionais que fizeram parte do IPHAN, como o arquiteto Lúcio Costa, que tinha muitas restrições aos prédios desse repertório. , embora ele próprio tenha sido responsável por alguns projetos deste tipo.

No entanto, a moção foi consolidada, divulgada no Brasil e apresentou princípios expressos em revistas e institutos de arquitetura, tendo como patrocinador e principal incentivador o Dr. José Mariano Filho.

Presente em diversos programas de arquitetura, materializou-se em edifícios notáveis, como a antiga Escola Normal do Distrito Federal, depois o Instituto de Educação, na Rua Mariz e Barros, o Hospital Gaffrée e Guinle, a sede do Clube de Regatas Vasco da Gama, entre outros. Suas pinturas manifestam o próprio apartamento de Mariano Filho, o Solar de Monjope, localizado na Rua Jardim Botânico, demolido pela fúria da hipótese da propriedade genuína no início dos anos 1970, com a complacência de organizações de conservação como o próprio IPHAN.

A moção defendia o uso de referências da arquitetura colonial, mas não apenas de forma decorativa. Nos seus primórdios, registou a importância do clima, da cultura e das influências portuguesas, acabando por acrescentar elementos hispânicos, uma vez que houve uma apreciação pan-americana das mesmas raízes que moldaram a América do Sul.

Quanto à arquitetura devota, eles também são oferecidos em alguns templos católicos da cidade, construídos a partir da década de 1930, que são apresentados aqui cronologicamente em duas partes, para não aborrecer o leitor.

Durante a urbanização que deu origem ao bairro da Urca, empresários culpados doaram um terreno na Avenida Portugal para a estrutura de uma igreja comprometida com Santa Terezinha. Após algumas negociações com a arquidiocese, este templo foi estabelecido no sopé do morro babilônico, na frente de Copacabana e este pequeno pedaço de terra do outro lado do mar para obter uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Brasil.

Curiosamente, este culto nasceu em Nápoles, diante de um símbolo originário do Brasil, a Madonna del Brasile, prevista na igreja de Santo Efrém, à qual inúmeros milagres foram atribuídos.

Em fevereiro de 1840, esta igreja foi afetada por um grande incêndio, mas o símbolo da Virgem saiu quase ileso do acidente, que deixou apenas algumas marcas no rosto do Menino Jesus, nos joelhos da Virgem. Diante do episódio e dos relatos de outros milagres, o papa Gregório XVI propôs à diocese napolitana coroá-la com o nome de Nossa Senhora do Brasil, ainda no início do século XIX.

A igreja da Urca comprometida com esse culto, iniciada em 1930, provavelmente a primeira em território nacional, projetada pelo arquiteto Frederico de Faro Filho, que seguiu a abordagem neocolonial hispano-americana, fomentada através de igrejas coloniais mexicanas, com gigantescos painéis de alvenaria caiada de branco. , poucas aberturas e beirais curtos.

O terreno estreito tem vista para duas ruas e a fachada principal, virada para o mar, na Avenida Portugal, tem uma base em azulejos, com acesso no rés-do-chão a uma sala conhecida como a “cripta” dedicada a Santa Terezinha. Nesta base, há uma escadaria dupla de volutas de influência barroca transparente que atinge o solo onde a nave está localizada. A fachada principal tem uma ornamentação discreta, de influência hispânica, localizada em torno do vão que se estende até o discreto frontão triangular que termina a fachada, que inclui um óculo e um abraço para a iluminação do salão de culto, todos cobertos com argamassa de pó de pedra, ao gosto da alvenaria.

À direita da entrada, ergue-se a torre sineira única, com uma base quadrada, encimada por um corrimão da mesma argamassa, que segura um símbolo da Virgem o carrilhão.

A nave tem paredes lisas, arcos com pergaminhos delicados, animados por interiores coloniais. A ornamentação é assegurada através do conjunto de vitrais nas laterais que proporcionam doçura e ventilação. Na parte de trás da capela-mor há um discreto retábulo escuro com o símbolo do santo padroeiro.

Em 17 de dezembro de 1933, a igreja foi inaugurada pelo cardeal Leme, que se tornou paróquia no ano seguinte.

Vamos subir que um dos templos mais procurados de São Paulo para celebrações, composto pela elite da cidade, também está comprometido com Nossa Senhora do Brasil.

Originalmente projetado pelo arquiteto George Pzryrembel, que participou da exposição da Semana de Arte Moderna de 1922. Preto ou São João del Rey, com algumas inserções historicistas estrangeiras, como a coroação das torres.

No seu interior apresenta uma colagem de referências em ornamentação, tectos decorados, azulejos nas paredes, um coro com um retrato na abóbada que antecede o altar, o que faz uma clara alusão aos retábulos barrocos coloniais.

De volta ao Rio, no centro da capital fluminense, próximo à Praça Tiradentes, a igreja de Nossa Senhora da Lampadosa teve seu templo construído em meados do século XVIII por alguns membros originais da Irmandade do Rosário. que a devoção se originou no culto de um símbolo da Virgem venerado na ilha italiana de Lampedusa, padroeira dos cativos no mar.

Este modesto templo introduzirá o olhar da mente brasileira, testemunhada nos últimos momentos de Tiradentes, antes de sua última marcha para a forca, em seu entorno. O pequeno terreno ainda abrigava um modesto cemitério para os membros desta irmandade.

Ao longo da época imperial, houve muitos ajustes no foral desta Irmandade, que passou a obter personalidades ilustres, como a Baronesa de Rio Bonito, Madame Durocher, culpada de parto na Corte, alguns artistas, devido à proximidade do Teatro São Pedro, como esposa de João Caetano.

Quase dois séculos depois, a imprensa registrou que a construção ainda parecia a mesma, mas em pleno uso. No entanto, no final da década de 1920, a irmandade demoliu-a para atualizá-la com outra, projetada pelos arquitetos Paulo Candiota e Eduardo Sá, que optaram pelo repertório neocolonial luso-brasileiro.

A fachada estreita, que se depara com a Avenida Passos nº 13, apresenta uma sucessão de arcos verticais de desenho pesado, feitos de pó de pedra, animados pelas igrejas conventuais do Nordeste, que contrastam com o fundo branco da alvenaria. Dois oculi simétricos e 3 brechas centrais removem a escuridão da nave. No eixo da composição, na capa, está o símbolo da Virgem e do Menino. Coroando a fachada, no seu eixo, uma torre sineira num nicho sob um pequeno dossel, com a mesma argamassa com a aparência de alvenaria.

No interior, a nave é muito ornamentada, com alguns elementos dourados sobre um fundo branco. O altar-mor inclui um pequeno oratório de madeira escura onde o santo padroeiro está localizado, organizado em um espaço curvilíneo chamado abside.

A nova igreja, que incluía um monumento ao espaço onde os ossos foram descartados do trabalho de reconstrução, foi inaugurada em 1934.

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