Estudo destaca que uma em cada sete mulheres, com cerca de 40 anos, já fez aborto no Brasil

Uma em cada sete mulheres, com mais de 40 anos, já fez pelo menos um aborto no Brasil, segundo pesquisa realizada por meio do PNA (Inquérito Nacional sobre o Aborto) em 2021.

Os estudos realizados em novembro de 2021 ouviram 2 mil mulheres em 125 municípios e foram coordenados por meio do antropólogo e professor da Universidade de Brasília, Débora Diniz, do professor convidado da Universidade de Columbia, Marcelo Medeiros, e do professor da Universidade Estadual do Piauí, Alberto Madeiro.

No Brasil, o aborto é legalizado em 3 circunstâncias: gravidez por estupro, se representar ameaça de morte materna, e em casos de anencefalia fetal (falta de formação cerebral fetal).

No entanto, na prática, a situação é absolutamente diferente. A ministra da Mulher, Cida Gonçalves, disse à Agência Brasil “que as mulheres e as mulheres têm encontrado obstáculos ao aborto, nas condições já previstas em lei”.

Para o ministro, o resultado é que “quando o direito ao aborto, por exemplo, é negado a uma vítima de estupro, as evidências indicam que o fará de forma nociva e clandestina”.

Segundo a avaliação de Cida Gonçalves, o Poder Executivo deve garantir que todas as mulheres e mulheres tenham seus direitos garantidos e “que tenham acesso a dados sobre esses direitos e como acessá-los”.

O Ministério da Mulher lembra que em 2013 foi sancionada a Lei do Minuto Seguinte para permitir o atendimento integral e multidisciplinar às vítimas de estupro nas dependências do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Esse serviço é fundamental para a prevenção da gravidez e das infecções sexualmente transmissíveis, entre a assistência física e psicossocial [da vítima]”, disse a ministra Cida Gonçalves.

Os hospitais aprovados pelo SUS, que oferecem serviços de ginecologia e obstetrícia, devem realizar abortos nas instâncias previstas em lei. No entanto, de acordo com o site Mapa do Aborto Legal, apenas 42 hospitais realizaram o procedimento em setembro de 2022.

Em nota oficial enviada à Agência Brasil, o Ministério da Saúde afirma que “está comprometido com a política de atenção integral à saúde da mulher, com vistas à inclusão e discussão sobre o contexto da saúde sexual e reprodutiva; e também a Rede Cegonha, que inclui o atendimento às mulheres em situação de aborto”.

A pesquisa mostra que o perfil dos que abortaram é o mesmo de outras pesquisas: são de todas as idades do ciclo reprodutivo, religiões, educação, raças, classes sociais, prestígio conjugal e regiões do país.

A pesquisadora afirma ainda que “apesar de serem mulheres, que estão em todos os lugares, há uma concentração maior no grupo de máxima vulnerabilidade. São negros, indígenas, vivendo no Norte e Nordeste, menos informados e muito jovens. “

As entrevistadas foram escolhidas aleatoriamente entre mulheres alfabetizadas de 18 a 39 anos, residentes em áreas urbanas. O método de pesquisa utiliza um questionário presencial com questões sociodemográficas, como idade, religião e renda.

Outro questionário com perguntas sobre o aborto preenche-o ela mesma e coloca-o em uma urna selada. Os coordenadores de pesquisa percebem que a estratégia de coleta de dados sensíveis reduz a taxa de respostas falsas, pois preserva o anonimato dos entrevistados.

O estudo indica que mais de uma parte de todas as mulheres que abortaram tinham 19 anos ou mais quando fizeram um aborto pela primeira vez. Desse contingente (menores de 19 anos), 46% eram adolescentes entre 16 e 19 anos e 6% eram mulheres entre 12 e 14 anos de idade.

De acordo com a lei, praticar atos sexuais ou libidinosos com menor de 14 anos é crime de estupro de pessoa vulnerável, consentido ou não, sob pena de prisão de 8 a 15 anos.

Nesta edição, a taxa de aborto mostra um mínimo em relação às duas pesquisas anteriores, realizadas em 2010 e 2016. Em 2021, cerca de 10% das mulheres entrevistadas dizem ter tido pelo menos um aborto na vida, contra 13% em 2016 e 15% em 2010.

A pesquisa concluiu que o declínio pode ser explicado pela tendência crescente para o uso de estratégias contraceptivas reversíveis na América Latina e no Caribe.

Em 2021, 21% das mulheres que abortaram foram submetidas a um procedimento momentâneo, chamado de aborto repetido. Entre elas, as mais comuns são as mulheres negras.

Cerca de 39% das entrevistadas usaram medicação para interromper a gravidez. Pesquisas indicam que o medicamento mais utilizado é o indicado para salvar e tratar a úlcera gástrica. Além disso, 43% das mulheres foram hospitalizadas por aborto completo.

“Nessas situações, temos depoimentos traumáticos de perseguição, intimações policiais, algemados em hospitais”, disse a antropóloga e uma das autoras do estudo, Debora Diniz.

Ela explica que esses casos têm um efeito sobre a aptidão pública devido à ocupação de leitos e à aptidão das mulheres porque, por algum motivo, elas usaram drogas nocivas ou extraviadas, ou simplesmente foram para a clandestinidade em clínicas prejudiciais, ou porque há uma falta de dados sobre como é um aborto.

A pesquisa também indicou que a gravidez acidental não é incomum entre as mulheres no Brasil. Duas em cada 3 mulheres não estavam fazendo planos para engravidar. Débora Diniz propõe a escolarização sexual como componente da solução “para que este último recurso, o aborto, não seja utilizado”.

Em janeiro deste ano, o governo federal derrubou a ordem da Secretaria de Saúde que obrigava o médico a notificar a polícia da justificativa para interromper a gravidez, mesmo nos casos previstos em lei, e que as provas de estupro também fossem retidas.

No mesmo mês, a brasileira se retirou da Declaração do Consenso de Genebra sobre a Saúde da Mulher e o Fortalecimento da Família, assinada em 2020, por entender que ela representava uma posição das nações contra o aborto.

Para Débora Diniz, a investigação da ação que descriminaliza o aborto nas primeiras doze semanas de gestação, perante o Tribunal Federal (STF), é urgente.

“Em uma democracia, os poderes Legislativo e Judiciário têm legitimidade equivalente à violação de um direito básico, como a aptidão física e o fator aborto”, disse.

“Trata-se de parar. Trata-se de tratar e prevenir. É sobre a vida, sobre a dignidade, especialmente dos jovens vulneráveis neste país”, explica o pesquisador.

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