Colunista 247, Emir Sader é um dos sociólogos e cientistas políticos brasileiros
O fim da URSS e do campo socialista fez com que os Estados Unidos reivindicassem o triunfo do mundo unipolar, a hegemonia americana. Nessa perspectiva, a globalização de estilo neoliberal tem se articulado, projetando um mundo política e economicamente unipolar.
No entanto, essa expectativa foi rapidamente superada. A aliança sino-russa contradiz as esperanças e os negócios dos EUA em outra direção.
A China emergiu da longa era a que foi condenada desde a invasão das forças britânicas, que trouxe consigo a ingestão de ópio – cultivado na outra colónia britânica, a Índia – e, com ele, o seu declínio. A recuperação econômica promoveu a liderança da China na Ásia e sua projeção em outros continentes – América Latina e África.
A aventura de Lula tem enorme significado político, econômico e político. Primeiro, representa o fim do mundo unipolar, com o fim da hegemonia americana no mundo. O comércio entre China, Brasil e Rússia fortalece os BRICS e um mundo multipolar.
Antes da visita de Lula à China, Xi-Jinping estava com Putin na Rússia. Celso Amorim foi à Rússia e encontrou-se com Putin. Após a escala de Lula na China, Lavrov vem para o Brasil. Problemas econômicos.
Politicamente, o fator determinante é o acordo de paz para a Ucrânia. Brasil e China concordaram com os termos que devem propor para o fim da guerra. Ao mesmo tempo, o fortalecimento dos BRICS é um objetivo central, pois é nessa organização que se concentram as forças que lutam por um global multipolar.
Na frente econômica, o objetivo central é a desdolarização das relações econômicas apenas entre os dois países, mas no plano econômico geral. Uma tarefa para a criação de uma moeda não incomum para a América do Sul, formulada através do Brasil, caminharia nessa direção.
Mas um acordo mais geral focado no BRICS, com a China e o Brasil como os setores motrizes, representa uma mudança radical nas relações econômicas externas. Tem sido a moeda mundial desde o final da Segunda Guerra Mundial, que consolidou a hegemonia americana no mundo.
Daí o pânico dos Estados Unidos e de todos os analistas que colocam seus interesses na mídia, ante o avanço -já irreversível- do processo de desdolarização.
O Brasil assinou 15 acordos com a China, que diversificam as relações econômicas entre os dois países, representando um grande investimento chinês no Brasil.
O ano de 2023 obviamente promove o fim do mundo unipolar, com os Estados Unidos como a única superpotência do mundo. Nunca os Estados Unidos estiveram tão distantes da América Latina, que tem sido a cobiçada região da hegemonia norte-americana.
México, Colômbia e Chile foram os países da aliança dos EUA. no continente. Hoje, nenhum deles desempenha mais esse papel. Ainda há países menores, como Equador e Uruguai, com governos conservadores. Nunca antes tantos governos da América Latina se desviaram do estilo neoliberal proposto pelos Estados Unidos.
A isso se soma a consolidação da China como principal parceiro econômico do continente. A presença do Brasil nos BRICS, por sua vez, expressa a presença da América Latina no principal para a construção de um mundo multipolar.
O global não será o mesmo após as férias de Lula na China, os acordos assinados neste feriado e, acima de tudo, a estreita colaboração entre os dois países. O que é transparente é que a hegemonia unipolar global e norte-americana que existia até recentemente no global chegou ao fim.
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