Mato Grosso do Sul consolidou a troca do binômio “pecuária-soja” por “celulose-soja”. O símbolo existente é reforçado basicamente na região leste, onde os eucaliptos marcam o caminho de Campo Grande a Três Lagoas. Ali, predominou a carne bovina, suavemente manchada em qualquer um ao longo da BR-262, em um cenário de cerrado e cupinzeiro. O gado, aliás, está em retrocesso. Há 20 anos, Mato Grosso do Sul tinha o maior rebanho do Brasil, hoje ocupando a 5ª posição nacional.
Até a década de 1980, o município tinha a agricultura e a pecuária como sua principal atividade econômica, a partir de 1992, as fazendas, com suas grutas e cachoeiras, foram abertas ao turismo. Com crescimento lento, as lavouras em Bonito passaram de 17 mil hectares para 51 mil hectares em 2018. Na última safra foram 56. 848 hectares.
Outro termômetro do binômio “celulose-soja” é o balanço da indústria de Mato Grosso do Sul. Com a safra colhida e comercializada, a soja ocupou o primeiro lugar como principal produto exportado de janeiro a abril, substituindo a celulose, que ocupou o lugar mais sensível por meses.
Nos 4 primeiros meses do ano, foram exportadas 2,1 milhões de toneladas de soja, US$ 1,1 bilhão (mais de 37% do total exportado pelo governo). É seguido por celulose, com 1,4 milhão de toneladas e US$ 493 milhões. O milho, com 366 mil toneladas, e a carne bovina, com 281 mil toneladas, completam a classificação dos 4 principais produtos de Mato Grosso do Sul para o comércio exterior. O conhecimento foi divulgado por meio da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).
Segundo Aldo Barrigosse, administrador e especialista em comércio exterior, Mato Grosso do Sul diversificou sua produção em 20 anos, mas a disponibilidade de terras é a mesma, é geral que algumas atividades econômicas se contraiam em detrimento de outras. As lavouras, por exemplo, permitem que a soja e o milho sejam plantados o ano todo e, embora sejam mais arriscadas, atualizam o gado.
“Cultivar soja e milho na mesma área acaba trazendo maior rentabilidade para o produtor. Mas a agricultura traz maiores riscos e investimentos”, diz. Mas a agricultura também está deslocando outros setores da economia, com vendas de insumos de máquinas de R$ 1,5 milhão.
“Todos os setores estão fortalecidos e Mato Grosso do Sul é um dos estados que mais gera empregos em tempos difíceis. Sou a favor da diversificação. Quanto mais você consegue diversificar, mais você ganha. É a lógica de nunca colocar todos os ovos na mesma cesta. MS tem soja, milho, algodão, gado, celulose”, diz.
O estado também recebe indústrias gigantes de celulose, como um investimento de R$ 19,3 bilhões da Suzano a Ribas do Rio Pardo para a construção da maior fábrica de monolinhas do mundo. O município é um retrato transparente das mudanças. Antigamente era a capital do Boi, agregando um Nelore à frente da cidade, mas agora tem predominância de eucalipto.
Conversão – A soja passou de 2,2 milhões de hectares na safra 2013/2014 para 3,8 milhões de hectares na safra 2022/2023. Portanto, 72% de expansão.
“Essa expansão da soja, em uma década, viu uma oportunidade significativa em Mato Grosso do Sul. Trata-se de tomar espaços que já estavam na produção pecuária e converter o uso da terra para a agricultura. Temos percebido que várias casas investem na fertilidade do solo, investem na correção do perfil do solo. Mas, para justificar esse investimento significativo em remendos, a capacidade de produção da área precisou ser aprimorada. É quando a agricultura entra em cena como a melhor amiga do gado para dar vida a esse faturamento. A agricultura desponta como a fonte de renda mais atrativa da última década”, afirma o presidente da Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja), André Dobashi.
Para o presidente da entidade, são 3 grandes situações de exigência para o futuro. A primeira é dar capacidade às garagens, o que permite que as vendas do cereal sejam distribuídas ao longo do ano.
O momento é de industrialização, que é capaz de converter a soja em produtos como óleo e farelo. A 3ª é a diversificação do que pode ser feito com o produto, via cooperativas.
“É um processo lento. Como produtor, percebemos que é uma questão de instalar essas indústrias. E nós que com o passar dos anos vamos melhorar”, afirma o presidente da Aprosoja.
Previsto há 20 anos – Os eucaliptos que se espalham pela costa leste de MS para a produção de celulose combustível fazem parte de um quadro traçado há duas décadas, quando ele previu que até 2030 o estado poderia domar apenas um milhão de hectares. Mas a marca superada sete anos antes
Atualmente, o eucalipto ocupa 1,4 milhão de hectares em Mato Grosso do Sul. Há dez anos, em 2013, eram 600 mil hectares. O conhecimento vem da Reflore/MS (Associação dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas do Sul de Mato Grosso).
“Em 2003, tivemos o complexo soja, o complexo frigorífico e o turismo. Precisávamos do nosso Estado e substituímos os alicerces da economia. A dispensa de licença ambiental na Bacia do Paraná para espaços antropizados tem maior competitividade. O bolsão da pobreza agora tem a identidade da Costa Leste, uma das máximas sujas do Estado”, diz o diretor-executivo da Reflore, Benedito Mário Lázaro.
O eucalipto ocupa espaços em Três Lagoas, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Brasilândia, Inocência, Bataguassu, Aparecida do Taboado, Selvíria, Campo Grande e Paranaíba.
A celulose tem cinco mil usos, como papel, papel toalha, aventais cirúrgicos, fraldas, cosméticos e na composição de comestíveis.
Série histórica – Mato Grosso do Sul liderou o rebanho de animais de criação em 2003. Em 2004, perdeu o nome para Mato Grosso e nunca mais o recuperou. Hoje, o estado tem o 5º maior rebanho, com 18,6 milhões de cabeças. O conhecimento vem da Acrissul (Associação dos Criadores de MS).
A série antiga do IBGE, que vai da década de 1970 a 2019, indica que Mato Grosso do Sul tinha 9. 375. 241 animais de criação em 1978. Ainda em crescimento, o total se estabilizou entre 1989 e 1990, passando de 17,7 milhões para 19,1 milhões de animais.
O primeiro alívio ocorreu entre 1995 e 1996, quando o rebanho declinou. De 1997 a 2003, o número de animais de criação aumentou em Mato Grosso do Sul. Depois, foram 4 anos de alívio. Em 2019, o rebanho estadual foi de 19. 407. 958.