“Fiquei chocada com a extrema pobreza deles”, disse Alice Wairimu Nderitu, subsecretária-geral da ONU e assessora especial para a Prevenção do Genocídio, no palco Guarani-Kaiowá após visitar a rede em Amambai, a 360 km de Campo Grande.
Ele fez isso nesta sexta-feira (12), em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, onde apresentou um relatório final sobre suas viagens ao Brasil, para investigar comunidades e povos ameaçados de genocídio.
No relatório, o subsecretário apontou que Mato Grosso do Sul vive um cenário conflituoso, onde a disputa territorial entre indígenas e camponeses se deve à falta de demarcação de terras indígenas.
“Os ataques violentos contra os demais povos Guarani Kaiowá são emblemáticos de casos de uso excessivo da força pelos órgãos de segurança contra civis desarmados, levando a assassinatos, prisões e detenções arbitrárias e causando sérios danos físicos e intelectuais à população. , contrariando os artigos da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio de 1948”, explica Alice Nderitu.
Outro aspecto levantado pelo subsecretário foi a falta de acesso a serviços básicos, devido ao despejo de indígenas de suas terras. Ele ressalta que as expulsões de indígenas de suas antigas terras têm sido realizadas ao máximo de forma “violenta”.
Alice também se surpreendeu ao ver a maior taxa de suicídio entre os jovens Guarani-Kaiowá e intoxicação pelo uso de agrotóxicos. “Ganhei vários relatos e depoimentos sobre o remédio humilhante e degradante dos Guarani Kaiowá, levando a uma construção forte. em suicídios entre jovens dessa comunidade”, disse.
Visita – Durante sua escala no Mato Grosso do Sul, realizada de 8 a 10 de abril, Alice Nderitu em Campo Grande, Dourados e Amambai, onde parou na comunidade de Guapo’y.
Em Campo Grande, o subsecretário ouviu entidades gerais e organizações de direitos indígenas sobre a violência contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul. Alice se reuniu com o governador Eduardo Riedel (PSDB).
No município de Amambai, Alice com os Guarani-Kaiowá da aldeia Guapo’y, onde pôde conversar com as lideranças da rede e os mais velhos. “Fiquei pessoalmente comovido com o depoimento de um casal de idosos de 104 e 96 anos, respectivamente. Esse casal de idosos passou a vida lutando pelo direito à terra em Mato Grosso do Sul, sem sucesso. Perderam toda a família, filhos, netos e bisnetos nessa luta”.
Em Dourados, município a 233 km da capital, o subsecretário da ONU também se reuniu com acadêmicos e pesquisadores da UFGD (Universidade Federal de Dourados). grupos indígenas”, explica Alice.
Recomendações – Na coletiva, Alice disse que as visitas foram feitas a 3 localidades: Roraima, para investigar o cenário do povo Yanomami; Rio de Janeiro, para avaliar casos de violência policial contra a população negra nas favelas; e no Mato Grosso do Sul, ao palco do povo Guarani-Kaiowá.
No entanto, ela reiterou que seu papel como Assessora Especial da ONU para a Prevenção do Genocídio não é caracterizar a natureza dos crimes cometidos ou se o crime de genocídio foi ou não cometido no Brasil, mas avaliar se há indícios de genocídio. .
“Somente um tribunal judicial competente (nacional ou internacional) pode determinar se genocídio, crimes de guerra ou crimes contra a humanidade (crimes de atrocidade) foram cometidos”, acrescentou.
Sobre o caso dos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, Alice insistiu que a demarcação de terras indígenas é “urgente”, devido à violência que vem ocorrendo há anos na região e à expectativa de que os anciãos indígenas de outros povos retornem às suas terras natais. “Eles pediram a demarcação de suas terras pelo menos antes de morrerem. A complexa época exige ainda mais urgência na demarcação de terras para essa rede em Mato Grosso do Sul e no Brasil. “