O ex-governador do Acre Tião VianaMatriz nesta quinta-feira 27, carta aberta endereçada ao atual governador Gladson Cameli. No documento, no Portal do Rosas, Tião reflete sobre o tráfico de drogas no Acre e na Amazônia.
Nas últimas 24 horas, o Acre viveu momentos de grande tensão por conta da rebelião, com reféns, feridos e cinco mortos, na segurança máxima do estelionatário Antônio Amaro. O cenário desencadeou uma série de discussões políticas sobre a expansão das organizações golpistas no estado, desafio que também enfrentou por meio da gestão do ex-governador petista.
Veja a íntegra da carta:
“Governador Gladson,
Sem os culpados, me sinto compelido a dar uma contribuição a esse breve espelho, apesar do tráfico de drogas no Acre e na Amazônia.
Espero que isso seja útil.
Governador, nosso querido Acre já é um adolescente colombiano nos anos 80, não tem volta, a não ser que o governo federal entenda que isso está destruindo gerações e vai piorar.
Os Estados falharam, são inadequados para lidar com a força monetária do narcotráfico. Quase tudo é controle.
Há presença de um Estado paralelo em quase todos os lugares, gerando empregos como aviões e pagando mais de R$ 3 mil por mês, para jovens acima de 14,15 anos, o que, para um trabalho fundamental e minimamente digno, levaria cerca de 6 anos.
Industrialização, bioeconomia, consciência socioambiental, fraternidade, transformação dos conteúdos pedagógicos das escolas e universidades abrindo uma nova era, transformação cultural. . . Tudo em crise na Amazônia.
Temos alertado continuamente o governo federal sobre a fertilização dessa tragédia que se agravou quando, em 2010, as invasões do Morro do Alemão e de outras no Rio de Janeiro levaram à busca de vários líderes das principais facções por novos territórios na Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste.
A intimidade territorial com os maiores países produtores de cocaína nos faz ver Acre, Rondônia e Amazonas como passagem para “tropas de mulas”, das quais apreendemos 1%.
Denunciamos, inúmeras vezes, que o golpe já foi construído. Assessoramos o Acre, e conseguimos, para facilitar a criação da fórmula nacional de segurança pública e do fundo nacional de segurança pública para todo o Brasil, como a fórmula nacional de aptidão física, a fórmula escola.
Em outubro de 2017, como governador do Acre, articulamos e conseguimos reunir todos os governadores do Brasil, além de vários ministros de Estado, para falar sobre o gravíssimo fator de segurança e trânsito em nossas fronteiras.
Dessa assembleia nasceu a “Carta do Acre”, indicando os meios para encontrar respostas para um problema tão grave.
A vista, no entanto, terrível. Infelizmente, a cooperação efetiva entre os países sul-americanos, as ações de inteligência incorporadas, a não verbalização liderada pelo governo federal, a não prioridade do tema, abrem oportunidades para essa epidemia incontrolável do narcotráfico.
Essa epidemia já está instalada entre os irmãos indígenas e povos clássicos – rios e matas do interior, desde Foz do Breu, rio Amônia, Badejo, Mirim, Moa, Azul do Paraná dos Mouras, Tarauacá, Murilo, Envira, Iaco, até as cachoeiras inglesas no rio Acre.
Dói que a “geração Z” na Amazônia seja o zumbi (não os Palmares).
E, infelizmente, o pequeno debate maniqueísta foge da máxima das emergências de hoje: UNIÃO E CORRESPONSABILIDADE INTERGERACIONAL.
“O ovo de cobra é disruptivo. “
Embora eu não esteja mais no ativismo partidário, sendo a quarta geração do Acres, a terra que me deu vida, família, amigos e ideais, me solidarizo com a causa de um Acre satisfeito.
Com respeito,
Tio Viana
27 de julho de 2023″
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