Historiador e professor da UFRJ
Percebemos que o governo Lula precisa avançar em problemas de interesse nacional, como o combate à fome ou ao desemprego e a (re)industrialização do país. E assim, escapar do estigma de ser o governo que sobreviveu ao golpe. . Por essa razão, evita-se a participação em investigações válidas sobre atos golpistas, antes e depois de 01/08/2023. No entanto, quando o governo age em oposição à oportunidade exclusiva de “reescrever” o “manual” do Exército e da política no Brasil, de abolir a “doutrina Telela” (as Forças Armadas como “poder moderador” e a “missão” de combater o “inimigo interno”) sinto que o momento histórico se perdeu.
A consolidação da democracia no Brasil é um programa tão vital quanto a fome e o desemprego. Sem democracia, a erradicação dos postos de comando das elites antipopulares será muito improvável e seremos um país de fome cíclica e República de privilégios. Combater golpistas em seus nichos é uma enorme falta de sabedoria em nossa história. E, em última análise, não proceder a um confronto didático com a direita vai contra o fortalecimento da própria democracia entre nós.
O núcleo político do governo, os órgãos de rede e inteligência, além do Ministério da Defesa, estão funcionando com um “mau diagnóstico” sobre a natureza da crise existente no Brasil, o momento nacional e o global da extrema direita e do fascismo. A Abin e o GSI mostraram-se incompetentes para construir um diagnóstico correto das instituições brasileiras e da dimensão do golpe no interior do Estado. Tal fragilidade deu a acadêmicos e alguns jornalistas investigativos a tarefa de expor a vasta conspiração envolvendo políticos, juízes e militares contrários à República.
Convivemos com confissões e acusações de “Deus vai dar”, os quadros incansáveis da PF, parece um cenário de “medos” e alertas em busca de acusações – que seriam o fio condutor das investigações caso a Abin e o ISG cumprissem suas missões institucionais. Ao contrário, vemos que tais organizações constituem nichos privilegiados para os golpistas, um centro de estrutura de “narrativas” que buscam apagar o 8 de janeiro, seus antecedentes e suas consequências.
Ao contrário do núcleo político e pródigo do governo, a Secretaria de Justiça, o Ministério Público e o STF continuam com as investigações. O diagnóstico da crise institucional permanece precário para o núcleo político, que insiste que:
1. La eleição de Lula e a inelegibilidade de Bolsonaro testemunham o fim da crise política e institucional;
2. O bolsonarismo, juntando-se à fórmula judicial e nos quartéis, em refluxo, confundindo o caráter e os recursos profundos dos movimentos sociais de direita;
3. Nunca entenderam, precisamente por isso, o conceito de “insurreição fascista”, tal como estabelecido com a “Marcha sobre Roma”, de 1922, e a sua repetição mediática e reticular, em Kiev, em 2014, em La Paz, em 2019, ou no Capitólio, em 2021;
4. Ao contrário de Lula da Silva, eles veem o fascismo no Brasil como metáfora e hipérbole, agarrando-se à compreensão cinematográfica do fenômeno do “fascismo histórico”, sem atentar para os movimentos globais de emergência do novo (neo)fascismo;
5. Que toda força política seja exercida dentro do Congresso Nacional, desvalorizando a presença de outras em praças, ruas, universidades e sindicatos industriais como um topoi da Resistência;
6. Perceberam o procedimento de unificação das Diretas brasileiras por meio da hegemonia fascista;
7. Olham para a oposição fascista com a mesma lente de antes da oposição do PSDB (quase) morta, sem conhecer o “descalabro” do Centro Histórico da Política Republicana;
8. Planejam se mobilizar porque percebem o caráter “massificado” do fascismo (grande burguesia, funcionários civis e militares, classes rentistas, lumpemproletariado em busca de um líder substituto, mitos e mistificações, falsa psicologia). ) grupos populares, trabalhadores, para se manifestarem nas ruas, praças, universidades e sindicatos industriais contrários ao golpe (tivemos até uma manifestação popular condenando o golpe);
9. La busca por uma base de governo leva a negociações que podem ser melhor explicadas e equilibradas por meio da mobilização popular;
10. “Salve” Lula, o maravilhoso comunicador da esquerda, em suas relações com a classe dominante;
11. No bolsonarismo, forma de neofascismo, distingue-se do conservadorismo inato da sociedade brasileira, racista, deprimente e patriarcal, que só combate os personagens de “Bolsonaro” e os chamados “patriotas” que, presos em bandeiras, destruíram os estabelecimentos da República, deixando de lado o núcleo duro do bolsonarismo na política, no judiciário e nos ministérios, agregar o Ministério da Defesa, aos golpistas militares;
12. Por fim, estamos determinados a “deixar em paz” os núcleos radicais das Forças Armadas, a “virar a página” da história.
Perde-se, assim, a crença na intensidade e nas raízes do golpe de Estado nas instituições da República e na cultura política brasileira, suas raízes antigas, na escravidão e no patrimonialismo, seus métodos violentos, buscando “virar a página” de uma história.
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