Particularidade: Quase parte do esgoto brasileiro é despejado no meio ambiente sem tratamento

Investigação

Do editor*

Publicado em 09/02/2023 às 09:00 horas.

Apenas 51,2% da água consumida no Brasil recebe tratamento sanitário adequado. O restante, quase parte do volume total, é descartado na natureza como águas residuais.

Isso significa que, todos os dias, mais de 5 mil piscinas olímpicas cheias de lixo sanitário são despejadas nos rios e mares do país, poluindo praias, poluindo espaços urbanos e causando doenças na população.

Isso é demonstrado por meio do conhecimento do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) do governo federal, coletado por meio do Instituto Tracta Brasil. Desde 2021, a organização mantém em seu site um “medidor de esgoto”, ferramenta alimentada pelo taxímetro que atualiza a quantidade de resíduos não tratados no Brasil.

Desde o início do ano até quinta-feira (24) um volume de esgoto de 1. 257. 238 piscinas olímpicas foi despejado na natureza.

Segundo o SNIS, há 92 milhões de pessoas no país que não estão conectadas às redes de esgoto, ou cerca de 42% da população. No entanto, em alguns casos, a falta de tratamento não é um problema de falta de coleta.

O município de Juiz de Fora (MG) é um exemplo claro dessa situação. Quase toda a população da cidade (94,7%) tem acesso ao serviço, mas apenas 5,9% do esgoto produzido é bem gerenciado.

Na prática, isso significa que a grande maioria das famílias está ligada a instalações sanitárias, mas os resíduos são descartados na área urbana, ou seja, despejados em outros lugares.

“Há muitas aldeias que reúnem tudo e processam quase nada”, diz Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil.

Segundo ela, existe o risco de o volume total de esgoto tratado ser superestimado. Na verdade, há muita infiltração de chuva nas redes, então a quantidade de água que chega às estações não se refere apenas ao que foi alimentado nas casas.

Para Gesner Oliveira, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e ex-presidente da Sabesp, a situação sanitária no Brasil apresenta mais deficiências do que o esperado para um país emergente.

“No nosso ponto de desenvolvimento já temos uma vantagem maior. Estamos muito atrasados”, diz.

Além de ser uma questão de saúde pública, Pretto ressalta que a falta de tratamento de esgoto compromete toda a base necessária para o crescimento do país.

“Sem saneamento, outras pessoas adoecem, então vemos uma queda na produtividade – sejam crianças na escola ou adultos na foto – o que significa que a fonte de geração de renda para essas outras pessoas também está aquém do desejado”, diz.

Assim como outros indicadores, a qualidade do saneamento varia significativamente em todo o país. A realidade nos estados do Norte do país, por exemplo, é muito pior do que no Sudeste.

Na região Norte, apenas 60% da população tem acesso à água e 14% se beneficia da coleta e tratamento de esgoto. Na região sudeste, 91,5% têm serviço de água e 81% têm serviço de coleta.

Segundo Pretto, o rombo regional é semelhante ao volume de recursos destinados ao setor. Enquanto no Norte o investimento anual consistente com o capita é de R$ 50, no Sudeste é quase o dobro: R$ 95.

As desigualdades são ainda mais acentuadas no nível municipal. A cidade de São Paulo, por exemplo, investe R$ 182 por habitante. Rio Branco, no Acre, investe R$ 2.

O raio-X do saneamento fundamental indica que o Brasil terá um caminho complicado rumo às metas de universalização.

O marco legal do saneamento estabelece que, até 2033, todos os municípios brasileiros devem atender 99% da população com instalações de água potável e pelo menos 90% da população com instalações de coleta de esgoto e saneamento.

Faltando uma década, algumas regiões estão longe de atingir sua meta. Em Rondônia, por exemplo, apenas 6% da população precisa ir à coleta. Cenário semelhante é observado nos estados do Acre e Amazonas.

Segundo Pretto, para atingir os objetivos traçados, será necessário mudar radicalmente o modelo de controle existente. “Investimos mais que o dobro dos valores existentes”, diz Pretto.

Atualmente, o investimento médio em saneamento no Brasil é de R$ 20 bilhões por ano, e o plano elaborado pelo Ministério das Cidades indica uma necessidade de R$ 44,8 bilhões.

“As metas são ambiciosas, mas não se trata de férias em Marte”, diz Oliveira, lembrando que é possível dobrar os investimentos. “As condições para isso estão dadas, mas vai exigir um alto nível de prioridade do setor público. Há apetite por parte do setor pessoal.

Atrair mais investimentos em saneamento é um dos objetivos do marco legal. Segundo Pretto, a lei buscou inspirar uma nova burocracia de financiamento, sem necessariamente favorecer a iniciativa pessoal em detrimento do serviço público.

“Não há solução melhor para o público ou para o privado. Há a capacidade de investimento e o grau de poder do caso. Hoje temos estatais muito inteligentes no Brasil, mas outras precisam ser financiadas pelos estados por causa da impotência delas”, diz.

Ele cita o exemplo de uma empresa municipal onde trabalhou, em Joinvile (SC), cujo plano diretor visa alcançar a universalização até 2047. Com a aprovação do marco, o prazo precisou ser antecipado para 2033, e a empresa — que se manteve aberta — buscou investimentos estrangeiros para cumprir a meta.

“Outras empresas não tinham a mesma capacidade monetária para captar esses recursos. Às vezes minha dívida chega ao limite, com um componente da minha fonte de renda comprometido através da conta [salário], luz. . .

Essas empresas tiveram que buscar outras soluções, seja uma PPP [parceria público-privada] ou uma concessão global para garantir a universalização dos serviços”, explica o presidente do Trata Brasil.

Segundo Oliveira, a precariedade do saneamento no Brasil pode ser atribuída a diversas causas. O primeiro é o velho esquecimento do assunto.

“Isso vem acompanhado de uma desvalorização, um desprezo pelo público e uma supervalorização do pessoal”, diz.

A razão que ele levanta se assemelha a uma “economia política perversa do saneamento”. Além da ideia de que a estrutura das tubulações subterrâneas gera votos, o especialista ressalta que grande parte da população reconhece o desafio e, por isso, qualifica o poder público para suas melhorias.

“Não percebemos a gravidade da falta desses serviços. Não há ligação entre falta de saneamento e saúde precária, entre deslizamentos e falta de infraestrutura de drenagem. . . Isso significa que há muitos dividendos políticos para investir”, diz.

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