Para historiadores, 7 de setembro é dia de refletir sobre a história do Brasil

BRASIL – Em 2023, o Brasil completará 201 anos de independência, comemorados em 7 de setembro. Essa data, segundo historiadores ouvidos pela Agência Brasil, é um momento de reflexão na história do país e daqueles que ainda estão excluídos dessa história e o que querem fazer para reduzir as desigualdades. Passados dois séculos, podemos dizer que o Brasil é independente?Como serão as comemorações desta data para que sejam mais plurais e diversas?

“Esta é uma revisão forte que queremos fazer. Durante muito tempo, a atitude crítica limitou-se a criticar, por exemplo, a figura de Dom Pedro I, estando ele doente ou não. É o mínimo que podemos fazer. Falar apenas de Dom Pedro não resolve o desafio da independência do Brasil de um ponto de vista mais crítico”, disse a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Essa história é contada no livro eletrônico de 1822, através de Laurentino Gomes. Dom Pedro I teria sentido dores abdominais, devido à ingestão de água contaminada ou alimentos estragados. O grito de independência às margens do Ipiranga, que inclusive se repete no hino nacional brasileiro, teria sido apenas simbólico.

“É preciso perceber os outros sujeitos que participaram. As mulheres que lutaram nos campos de batalha em outras regiões do Brasil, a diversidade das sociedades indígenas, a adesão ao processo de independência, a participação da população negra. É preciso tirar a independência do que era, um processo polifônico”, completa Lopes.

Povos indígenas e independência

Segundo a historiadora e professora Marize Guarani, uma das fundadoras da Aldeia Maracanã indígena, o 7 de setembro com a carta de uma pátria é, na verdade, para os povos indígenas, a consolidação de um procedimento de exclusão, silêncio e genocídio. desde 1500, com a chegada dos portugueses. Esse procedimento continua até hoje, segundo o historiador.

“Nessa era total vamos ver como os povos indígenas são negados, vai ser construída uma narrativa de que não temos nada a oferecer, que não gostamos de trabalho, que há terra demais para poucos índios. Quando falamos de povos indígenas, eles dizem que são selvagens, mas isso só se refere àqueles que vivem na selva. E nem é assim, hoje 60% da população indígena vive em cidades, ou seja, foram expulsos de seus territórios e continuam sendo sistematicamente expulsos desse território esse procedimento total da história do Brasil. “

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 1. 693. 535 indígenas no país, o que representa 0,83% da população total. Estima-se que, antes da chegada dos portugueses, havia mais de 1. 400 outras pessoas e milhões de habitantes.

Ao longo da história, segundo Marize Guaraní, foi construída uma narrativa segundo a qual os povos indígenas “se opõem ao progresso” e, por isso, mais recentemente, durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985, com a interiorização, foram expulsos do país. povos indígenas de seus territórios”. Havia um discurso de que éramos um impedimento para o progresso, porque eles viam a floresta como qualquer coisa que não era progresso. Mas me diga uma coisa: como você pode viver em um mundo sem florestas?É o maior gerador de chuvas.

O modo de vida indígena clássico se opõe à fórmula capitalista na qual estamos inseridos, por isso essa fórmula é tão perseguida, como sustenta o Guarani. ” A terra era produzida comunitariamente, seu sustento derivava da terra, de forma não incomum e comunal. Todos nós, coletivamente, plantamos, colhemos, produzimos coletivamente, não havia ninguém que fosse mais do que o outro, não havia ninguém que comesse mais do que o outro, e isso continua a existir dentro dos povos. Ainda acho que o Estado negou qualquer forma coletiva, qualquer forma de produção de ideias, da nossa religiosidade, justamente porque elas entram em conflito com essa sociedade capitalista. “

Celebrações e eventos

A historiadora Wlamyra Albuquerque, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que as comemorações da independência fazem parte de uma espécie de ritual de constituição do Estado nacional. “Ele quer um quadro administrativo, quer um quadro militar e quer uma história. De seu nascimento, ele deseja uma mitologia da Carta do Estado Nacional. Todo país liberal nascido nos séculos XVIII e XIX constrói um mito sobre seus fundamentos. “

No entanto, segundo Wlamyra Albuquerque, os desfiles não são a única forma de celebração. É fundamental olhar para as comemorações do 2 de Julho, veremos que há uma forma de civilidade popular em que essa força de guerra, essa força do exército, não ocupa a centralidade das celebrações. Acredito que o Estado brasileiro terá que assumir a tarefa de celebrar esse pertencimento nacional, de celebrar a nossa brasilidade, em que esses estabelecimentos militares não estão no meio dos festejos, e é aí que é obrigatório reconsiderar essa forma de 7 de setembro com manifestações populares. Participação, [olhando] para as demandas das populações indígenas, as demandas das populações negras e deficientes, das populações quilombolas, para que elas estejam no meio desse processo de constituição. essa singularidade que é o Brasil”.

O dia 2 de julho, evocado por Wlamyra Albuquerque, é a festa de aniversário da independência da Bahia. Esta data marca a expulsão, realizada em 1823, das tropas portuguesas que ainda resistiam à independência declarada no ano passado, numa moção que contou com a participação popular. A restante autoridade lusitana foi expulsa do poder. Por exemplo, a festa de aniversário é mais popular do que os desfiles do exército.

Outra ação vital desta data é o Grito dos Excluídos e Excluídos, manifestação que desde 1995 reúne movimentos e equipes sociais que não se sentem representados através dos desfiles ou da história hegemônica da independência do Brasil. A proposta nasceu de uma assembleia para avaliar o desenvolvimento da II Semana Social Brasileira, promovida por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A data de 7 de setembro foi escolhida para celebrar o Grito com o objetivo de oferecer um contraponto ao Grito de Independência, proclamado pelo príncipe D. Pedro I, em 1822.

O Grito dos Excluídos e dos Excluídos tem como objetivo “levar pelas ruas e praças os gritos escondidos e abafados, silenciosos e abafados que se erguem dos campos, porões e periferias da sociedade. Trata-se de revelar, a pleno sol e perante a opinião pública, a dor e o sofrimento que governos e governos tendem a varrer para debaixo do tapete. Trazer à tona as mazelas e correntes profundas que assolam o cotidiano da população de baixa renda”, diz o site do movimento.

O Brasil é independente?

Apesar das críticas, segundo Wlamyra Albuquerque, a data é vital para reflexão. “Pare para refletir e falar sobre o que somos para nós mesmos e para o mundo. É uma questão que ficará em aberto: o que é independência?O que é liberdade? Essas questões permanecerão em aberto porque a história é dinâmica e vivemos em uma configuração global muito diferente e sem precedentes daquela que todos conhecemos. Outras gerações não conheceram uma sociedade em que tenha ocorrido a substituição de blocos políticos e econômicos. de uma forma tão brutal”, disse.

A historiadora Adriana Barreto, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), acrescenta: “Todas essas celebrações são invenções culturais, elaboradas conscientemente ao longo do tempo”, diz, acrescentando: “O que quero dizer com isso?Assim como essas celebrações são inventadas para atender a certas demandas da sociedade, em algum momento elas também podem ser substituídas e reinventadas se um componente gigante da população não estiver mais representado nelas. “

Quando perguntados se somos um país incontável, os historiadores discordam. Marize Guarani diz que ainda estamos longe disso. Destaca a perspectiva produtiva e artística do Brasil e tudo o que o país acaba desperdiçando quando busca apenas se integrar a uma ordem capitalista que não visa seu desenvolvimento. ” Digo que esse procedimento de invasão e colonização continua até hoje. Comunicamos “São contas, mas que contas estamos comunicando?Temos trocas globais de estoque, é verdade. Eles precisam que o Brasil seja um país monocultural, destruíram suas terras e não precisam mais destruí-las, então destroem outras pessoas”, disse.

Barreto insiste que o Brasil é independente: “Claro, totalmente!Além disso, acho que assumir nossa condição é um passo muito importante para, quanto às pessoas, separadamente, olharem para a vida após a morte sem romantizá-la. Não podemos virar as páginas da história com pressa. Porque esse além, em toda a sua complexidade, nos constitui como sociedade e conhecê-lo bem, identificando os nomes e movimentos de americanos e grupos, é um passo fundamental – via dever – para ter a possibilidade de construir um futuro bem. “

(98) 99209-2383

imirante@mirante. com. br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *