Nas Sagradas Escrituras diz-se que este homem ressuscitou do pó da terra e voltará. No Rio Verde de Mato Grosso, a 203 km de Campo Grande, é graças à terra que outras pessoas ganham a vida, em um contexto diferente daquele da forte economia agrícola de Mato Grosso do Sul.
Na localidade, a fabricação de cerâmicas derivadas da argila descoberta em jazidas locais é como um “sopro divino” para a economia da cidade, que gera uma fonte de renda e materiais para as indústrias de Mato Grosso do Sul.
As paredes de barro do Rio Verde impressionam pelo comprimento das cortinas que se estabeleceram neste solo há cerca de 400 milhões de anos e pelos tesouros terrestres que contam a pré-história de Mato Grosso do Sul.
Se voltarmos ao pó da terra, Rio Verde também é onde trabalhamos. É esse “legado” da era geológica devoniana que serve de cortina bruta para as indústrias cerâmicas da cidade, que produzem milhões de telhas e tijolos cada. todos os meses para impulsionar a construção civil, do interior à capital de Mato Grosso do Sul.
Os locais da cidade escondem autênticos tesouros da terra. São fósseis – restos de animais ou plantas preservados em rochas – e icnofósseis – linhas da passagem de um organismo por uma superfície, como pegadas, tocas e pegadas alimentares. Esses elementos, inclusive, comprovam que Mato Grosso do Sul já esteve submerso em um oceano.
Segundo a pós-doutoranda em geociências e coordenadora do GeoPaLab (Laboratório de Geologia e Paleontologia) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), professora Edna Maria Facincani, os organismos pré-históricos desapareceram há milhões de anos, deixando aquelas pequenas linhas de sua passagem pela Terra.
“Eles são registrados aqui como fósseis nessa assembleia sedimentar que é basicamente chamada de xisto. Para a economia da região do Rio Verde, isso é muito vital, pois formam a base para a fabricação de cerâmicas, para a produção de tijolos e telhas. Isso é muito importante também em termos de fonte de renda na região”, disse.
Não é à toa que a cidade é um polo cerâmico do Centro-Oeste. A qualidade da argila descoberta nos depósitos da localidade é identificada por suas características físico-químicas que dão origem a um produto de qualidade razoável, agregando cor vermelha. cerâmica, considerada uma das mais produtivas da região brasileira.
Além disso, a argila emergiu próxima ao solo, de modo que sua extração requer pouca transferência do aterro.
Dessa forma, o produto adquire o status de ouro, algo que atraiu muitas corporações décadas atrás, chegando a 15 na década de 1970. O número de indústrias diminuiu ao longo dos anos, mas a perda de capacidade de produção devido ao uso da tecnologia.
Se há 40 anos a produção era de 3 milhões de peças, hoje a cidade produz 15 milhões com uma dezena de “fornos”, como também são chamadas as cerâmicas. Isso representa um aumento de cinco vezes na capacidade de produção sem perda de qualidade e sustentabilidade.
Atualmente, mais de mil pessoas são contratadas diretamente ou nessa indústria em Rio Verde do MT, segundo Natel Moraes, presidente do Sindicer/MS (Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Mato Grosso do Sul).
“Nosso barro é muito inteligente e, graças a isso, muitas corporações de fora se instalaram e [a cidade] tem um grande centro. Esse número diminuiu ao longo dos anos, mas a geração e a produção aumentaram. Nos familiarizamos com a matéria-prima”, explica.
O vice-presidente regional da FIEMS (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Luiz Cláudio Sabedotti Fornari, lembra que o estado até meados da década de 1990 era muito dependente da produção de telhas e tijolos em São Paulo.
A situação mudou quando os empresários procuraram uma cidade próxima a Campo Grande que pudesse fornecer uma argila inteligente capaz de competir em qualidade com a produção do estado vizinho, principalmente para atender a demanda da capital, em pleno desenvolvimento. No início dos anos 2000, ceramistas do MS se uniram para estudar tecnologias que pudessem ser usadas apenas com argila de Mato Grosso do Sul.
“Quando chegamos nessa formação conhecida como Ponta Grossa, instalamos a indústria aqui. Foi até difícil dominar esse barro, que tem outra qualidade, e o São Paulo continuou servindo até que os comerciantes conseguiram dominar e superar a qualidade do São Paulo. Agora, a maior parte das porções que abastecem Campo Grande vem de Rio Verde, MT e, posteriormente, de algumas outras cidades, como Coxim e Três Lagoas”, explica Luiz Claudio.
A FIEMS e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) têm sido excelentes apoiadores desse movimento, incentivando os industriais a se familiarizarem com os equipamentos desenvolvidos na Europa, como Espanha e Itália.
“Foram tempos difíceis. Mas dessa dor surgiu a tecnologia. Uma estratégia de queima muito utilizada no Brasil evoluiu aqui em Rio Verde depois que empresários se uniram e pesquisaram outras estratégias para o preparo do barro. Isso levou a muito desenvolvimento”, diz o diretor.
Qualquer avanço e aproveitamento das jazidas de argila deve ser feito de forma sustentável, com aprovações ambientais e habilitado através de órgãos federais. Todas as empresas terão que baixar a autorização da ANM (Agência Nacional de Minas), negociar com o dono da mina (se for um terceiro) e baixar as licenças municipais. Em seguida, é obrigatório entrar no processo de licenciamento ambiental no Imasul (Instituto Ambiental de Mato Grosso do Sul).
Amauri Olartechea, chefe do setor de recursos humanos da Cerâmica Cotto Figueira, explica que a cerâmica possui uma série de autorizações que permitem a exploração de jazidas de forma sustentável.
“Estamos atualizando o dispositivo à medida que o tanque progride. Retiramos a argila e depois carregamos material, um aterro para alimentar aquele solo e assim ele vem com vegetação, pastagem e outros para reparar a recuperação do domínio onde a utilizamos”, explicou. Explica.
Como exemplo, ele cita um domínio usado anos atrás que foi vendido para a indústria de pescados e adquiriu uma nova função social, empregando outras pessoas em alguma outra indústria.
“Esse domínio foi utilizado e começou a ser explorado com aquários, dando o dever e devolvendo o uso social desse domínio para a nossa comunidade”, diz.
As palavras-chave da indústria cerâmica, sustentabilidade e segurança, são componentes da equação que tem apoiado a modernização dessa produção para além da tecnologia, segundo o diretor regional da federação comercial, Luiz Cláudio.
Os avanços das últimas quatro décadas foram acompanhados por preocupações com as emissões de carbono, o processo de combustão e a filtragem de chaminés que aquecem as salas a temperaturas de até mil graus Celsius.
Ele dá um exemplo: a lenha é triturada, ou seja, em pequenos pedaços, e colocada em máquinas equipadas com sensores de temperatura, que conhecem cada uma das etapas do procedimento e ligam e desligam automaticamente.
Portanto, o que antes era suor, calor e peso para a equipe, agora é automatizado para gerar proteção e energia sem que o funcionário precise tocar na madeira ou na máquina.
Outra atualização foca na origem dessa madeira utilizada em fornos cerâmicos.
“A fórmula de combustão usa lenha incomum para combustão automática com cavacos de madeira de eucalipto. É lenha plantada ou de produção própria. Quero queimar lenha para substituir a madeira, não podemos queimar mais lenha nativa”, explica.
A doutora em Engenharia Civil María Angélica Covelo Silva, no e-book “Cerâmica vermelha: desempenho, sustentabilidade e produtividade”, explica como a cerâmica se mantém sustentável após sair da fábrica.
Os elementos fabricados com estas cortinas têm uma longa vida útil graças ao seu desempenho térmico, acústico e de resistência ao fogo. Assim, por exemplo, o conforto térmico reduz a necessidade de usar ar-condicionado ou outros aparelhos com alto consumo de energia.
Além disso, o pesquisador acrescenta que a evolução da produção cerâmica ao longo dos séculos foi baseada em 4 eixos. O mesmo caminho seguiu pela indústria de Mato Grosso do Sul:
O processo de produção de tijolos consiste em várias etapas dentro de uma fábrica de tijolos: a extração da argila, que é então combinada e triturada.
Esse pano é então levado para a cerâmica, onde é umedecido para destacar a modelagem, e depois passa por um processo de secagem. Por fim, o tijolo é assado em fornos para finalmente chegar ao ponto ideal a ser utilizado. na estrutura de paredes, casas e edifícios.
Algumas partes do procedimento são automatizadas por máquinas, mas outras requerem humanos. Na Cerâmica Campo Grande há 11 anos, o diretor Marcos de Araújo Lima conta que pintava em um supermercado. No entanto, já é a tarefa mais longa de sua vida profissional. Ele elogia a situação atual da indústria cerâmica para o setor publicitário.
“Acho que uma das coisas que me fez ficar aqui ao máximo depois de correr em outros lugares foi a flexibilidade de horários e compromissos entre os trabalhadores e o chefe. São outras pessoas que ajudam muito os trabalhadores”, diz.
O salário também é outra questão levantada pelo trabalhador, que trabalha 6 horas por dia. “Acho que o salário é bom. Considerando a cidade, está até um pouco acima da média”, acrescenta.
Além disso, o patrimônio familiar também é fornecido na indústria cerâmica do Rio Verde de Mato Grosso. Amauri Olartechea explica como a raça é passada de geração em geração.
“Durante esses 40 anos tivemos uma sucessão familiar. Muitos trabalhadores estão aposentados e já têm seus filhos trabalhando conosco”, conclui.
Da barro aos tijolos, das mãos que fazem os tijolos às que constroem as paredes e tetos. A indústria cerâmica de Rio Verde gera lucros para a cidade e para o estado, além de proporcionar fonte de lucro e empregos para milhares de moradores.
ÀRio Verde, da terra nasce o sonho de uma casa, de um telhado onde dormir e sonhar, antes que tudo vire pó.