Há quase um ano que estão previstas ocasiões em França, abertas à participação dos cidadãos e dos conselhos de empresa, que merecem dar origem a propostas que garantam a independência e a qualidade dos dados produzidos no país.
Segundo o jornal Libération, que dedica seu dossel ao assunto, esse gosto de ocasião é “tipicamente francês”. Quando Macron concebeu este projeto, considerado muito importante para a energia da democracia, o chefe de Estado simplesmente não acreditava que o debate seria colocado num contexto sensível.
Nos últimos meses, uma das pessoas mais ricas da França, o industrial Vincent Bolloré, adicionou o semanário JDD (Journal du Dimanche) aos seus investimentos em comunicação e nomeou o jornalista e ativista de extrema direita Geoffroy Lejeune como editor. Indignados com esta nomeação, que compromete a independência de um meio de comunicação popular de 75 anos, os jornalistas do JDD entraram em greve por seis semanas. Apesar das repercussões da medida, o bilionário conservador não subsidiou e o JDD tem uma voz de extrema direita na França, como relatórios tendenciosos sobre imigrantes e questões de proteção pública já mostraram. Bolloré já havia comprado no passado dois canais de televisão que haviam perdido sua independência: Canal e CNews.
Outro caso vergonhoso relacionado à liberdade de imprensa tem a ver com o próprio governo. No final de setembro, uma conhecida jornalista investigativa, Ariane Lavrilleux, do site de notícias online Disclose, foi detida por 48 horas depois de revelar que a França havia enviado informações de inteligência ao Egito, que acabou “sequestrado” por meio dos egípcios. Graças ao conhecimento fornecido pelos serviços de inteligência franceses, o exército egípcio bombardeou “centros de oposição”, causando até a morte de civis.
Após a publicação da reportagem, a presença do jornalista foi interrompida por agentes do serviço secreto francês, que pegaram documentos na tentativa de descobrir a fonte da informação. Até o momento, um soldado foi preso. O caso, visto como uma afronta à liberdade de imprensa e à cobertura jurídica de fontes jornalísticas, certamente fará parte do debate nacional.
Apesar das considerações válidas sobre a proliferação de fake news e as consequências do uso da inteligência sintética na profissão, a preocupação dos jornalistas é que o debate promovido por Macron acabe sendo manipulado por grupos de interesse e leve a ataques à liberdade e à proteção da imprensa. . Fontes.