Quem são os desmatadores no Amazonas?

Um deles, Elmar Cavalcante Tupinambá, avô de Agenor Tupinambá, o TikToker da capivara Filó, foi multado em mais de R$ 1,2 milhão por crimes ambientais por meio do Ipaam, segundo uma investigação inédita do Intercept Brasil sobre a exploração madeireira na região. estão enfrentando a pior seca do século (Foto dos incêndios na BR 319 cedida via Marcos Amend).

A destruição da floresta por fazendeiros na região metropolitana de Manaus há décadas é uma das explicações para a fumaça que cobre a cidade desde outubro, segundo o Ibama. Uma investigação do Intercept sobre reportagens da empresa e do Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia agora mostra os nomes de alguns dos desmatadores que contribuíram para a fumaça.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, dos 506 incêndios registrados em outubro no Amazonas, 258 ocorreram em Autazes – cidade a 112 quilômetros de Manaus e dona da maior bacia leiteira da Amazônia – basicamente em áreas de desmatamento recente ou já consolidado. “Isso indica que os fogões ocorriam em espaços de pecuária, já que o uso de fogões para renovar pastagens não é uma prática incomum”, disse Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas.

De acordo com o relatório do Ibama sobre áreas desmatadas, Autazes perdeu pelo menos 580 hectares de floresta desde 2005, ou cerca de 540 campos de futebol. As plantas deram lugar a pastagens que hoje alimentam um rebanho de 96 mil animais de criação e búfalos. São cerca de treze animais por quilômetro quadrado, número treze vezes maior que a média estadual.

Não é por acaso que o concelho está no máximo sensível do ranking nacional de focos de incêndio nos dias 9 e 10 de outubro. Também está entre os 10 municípios do Amazonas que registraram o maior número de incêndios no estado por 12 dias consecutivos. Nesse período, a fumaça dos incêndios que chegaram a Manaus, vinda de municípios vizinhos, fez dela a segunda cidade do mundo com piores condições para respirar.

Entre os desmatadores de Autazes está Elmar Cavalcante Tupinambá, que foi multado em fevereiro de 2022 por meio do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) por destruir ou danificar mais de 240 hectares de mata local às margens do Rio Paraná Madeirinha e do Lago Imbaúba. As multas somam mais de R$ 1,2 milhão. Ela é responsável por apenas 42% do desmatamento registrado no município nas últimas duas décadas, segundo dados disponíveis nos sistemas de consulta pública do Ibama e do Ipaam.

Na semana passada, a fumaça que encheu a capital amazonense em outubro voltou a entrar no ar da cidade. A fumaça ficou ainda mais densa no sábado. De acordo com o G1, o estado federal disse que nos próximos dias o calor continuará alterando a já péssima qualidade do ar.

Tupinambá é avô de Agenor Tupinambá, a capivara do TikTok que dividiu críticas após postar vídeos de animais silvestres como animais de estimação e ser multada pelo Ibama.

Outro desmatador de Autazes é Muni Lourenço Silva Júnior, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas, a Faea. Até 2022, ele também presidiu o conselho deliberativo do Sebrae no estado. Foi multado em mais de R$ 112 mil pelo Ibama em 2016. . Procurado pelo The Intercept, Silva Júnior disse que “essa multa foi contestada e está em processo administrativo”.

Como presidente da Faea, Silva Júnior luta contra povos indígenas e grupos de conservação ambiental. Em 2010, ele afirmou em audiência pública que a demarcação de terras indígenas em Autazes prejudicaria os agricultores ao levar à desapropriação de 400 propriedades rurais. Seis anos depois, foi a Brasília pedir à então presidente Dilma Rousseff que revogasse portarias e decretos que demarcavam novas terras indígenas e criavam complexos de conservação ambiental em pelo menos sete municípios amazônicos. A terra indígena Murutinga-Tracajá, em Autazes, foi uma delas.

Em 2019, Silva Júnior assinou um acordo de ajustamento e conduta com o Ipaam para obter 90% de alívio de uma multa. De acordo com o documento, terá de apresentar um plano de recuperação para os 8,5 hectares que degradou. Com isso, ele pagaria uma multa de mais de R$ 2 mil por dia. Silva diz que cumpriu integralmente o TAC.

Através da assessoria de imprensa, perguntei ao Ipaam se, depois de 4 anos, o fazendeiro havia recuperado o dinheiro ou se havia sido multado novamente, mas não obtive resposta.

Tupinambá e Silva Júnior assinam outros 10 multados em mais de R$ 100 mil por desmatamento ilegal em Autazes nos últimos 10 anos. No total, Ibama e Ipaam aplicaram mais de R$ 5,2 milhões em multas somente no município. Preço varia de R$ 1. 800 a cerca de R$ 800 mil. Algumas pessoas, como no caso do tupinambá, cobram mais de uma multa.

Alguns relatórios do Ibama indicam a extensão das áreas desmatadas, mas os valores máximos dão uma indicação. De acordo com um decreto presidencial de 2008, a multa por “destruição ou dano a florestas ou qualquer tipo de planta ou espécie local plantada, sujeita a medidas especiais de preservação” é de R$ 5 mil por hectare.

Os desmatadores apresentados neste levantamento são apenas parte do problema. Segundo Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas, muitas outras pessoas cometem crimes ambientais sem serem pegas. Esse cenário se agravou no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro: entre 2020 e 2022, nenhuma multa foi aplicada por meio do Ibama a Autazes. “Há uma grande diversidade de atividades de desmatamento agrícola, queimadas, que não foram monitoradas”, disse o superintendente.

A falta de denúncia de crimes ambientais é mais importante na região metropolitana de Manaus, já que essa região não é a principal atividade do Ibama. É de responsabilidade de órgãos estaduais, como o IPAAM. La empresa federal atua mais em municípios do sul do Amazonas, como Boca do Acre e Apuí.

É lá que estão as maiores taxas de desmatamento do estado, mas Autazes também desmatou fortemente nos últimos anos, segundo Araújo. “Com isso, obviamente, haveria um aumento dos incêndios em 2023”, disse.

Os autazes, que responderam por mais de uma parcela das queimadas do estado em outubro, produziram treze milhões de litros de leite em 2022, correspondendo a 29% da produção do Amazonas. É o maior do estado. A comuna tem 15 laticínios registrados, basicamente fábricas de queijo.

Em vídeo publicado no Facebook, o presidente da Associação dos Criadores e Produtores de Novo Céu e Autaz Mirim, Dalton de Lima Serudo Martins, criticou o prefeito do Ibama por dizer que os agricultores são os culpados pela fumaça em Manaus. Ele é dono da Fazenda Boa Vista e da Queijaria DS, que têm capacidade para produzir até 100 quilos de queijo por dia. “Os criadores dos Autazes não têm culpa deste incêndio. Nosso bioma é justamente isso, é a montanha, é a capoeira. , é a floresta”, disse Martins, culpando o calor e a seca.

De fato, as mudanças climáticas e a seca na Amazônia estão contribuindo para os incêndios florestais, que ocorrem sem que ninguém ilumine a área. Mas também é resultado do desmatamento que acontece há décadas, e não aconteceria como se a floresta ainda estivesse de pé. Os incêndios se alimentam de plantas mortas e secas em áreas degradadas.

Desde o final de setembro, o Ministério Público de Autazes investiga os incêndios recorrentes na cidade, para apurar se ocorreram crimes ambientais e quem são os responsáveis.

Procurado pelo Intercept, Martins disse que a coisa do Ibama “nada mais é do que o fato de terem que jogar a batata quente para que alguém cuidasse dela, já que continuam jogando de uma empresa para outra”. O que foi mais “repugnante” para os pastores foi que a posição de Iama foi emitida em apenas dois dias de investigação e que “ninguém os viu fazer isso”.

Ele acrescentou que “o desmatamento clandestino para práticas seguras influencia” a fumaça, mas que a pecuária na Amazônia não é a mesma do resto do país, porque para realizar qualquer atividade semelhante à agricultura ou pecuária, “você tem que ter um ambiente de licenciamento que leva quase anos para se estabelecer.

“Quando temos que atender a tais exigências, no sentido de preservar a natureza, e ao mesmo tempo somos julgados e acusados de sua destruição, é nojento”, argumentou.

Também entramos em contato com Efrani Assunção de Souza e Raimundo Nonato França Passos, mas até o momento em que escrevo recebemos uma reação.

A reportagem do Intercept Brasil não localizou os demais nomes citados neste texto, mas está aberta a receber suas versões pelo e-mail [email protected]

A Coopérative des Producteurs de Lait de los angeles Région d’Autaz Mirim, Cooplos angelesm, é uma das maiores fábricas de laticínios em Los Angeles, em Autazes. A unidade foi inaugurada em 2014 na rede Vilos angeles Novo Céu. Com capacidade de produção de até 50 mil litros de leite por dia, a cooconsistência está localizada nos limites da zona indígena Murutinga-Tracajá – a mesma que o presidente da Faea, Silva Júnior, buscou para salvar Dilma Rousseff da demarcação – e é presidida por Manuel do Rosário Maia dos Santos, dono de duas casas localizadas na área.

O presidente da Cooplam é irmão de André Maia dos Santos, um dos principais criadores de búfalos da região de Autazes. De acordo com um estudo realizado pelo De Olho nos Ruralistas, realizado a partir do cruzamento de conhecimentos geoespaciais do território do INPE e do Incra, os primeiros incêndios em Autazes se concentraram em uma organização de fazendas no entorno das terras indígenas Murutinga-Tracajá, Cuia, Iguapenu e Recreio-São Félix.

A propriedade de André Maia, a Fazenda AM-359, fica no corredor entre as duas primeiras terras indígenas e concentra grande parte dos incêndios registrados nos primeiros dias de setembro. O fogo então se espalhou para terras indígenas próximas.

Em 2020, foi aberto um inquérito civil no Ministério Público Federal para apurar irregularidades na instalação de uma usina termelétrica próxima a terras indígenas.

Por meio da Funai, lideranças apontaram que a Cooplam não possuía licença ambiental e estava causando danos imaginários às terras indígenas. Em julho de 2023, a 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Amazonas concedeu liminar determinando a “suspensão imediata de todas as pinturas, pinturas ou atividades em andamento na usina termelétrica Cooplam”. Em caso de descumprimento, deve ser aplicada multa ao presidente da cooperativa. O procedimento ainda está em andamento.

Os indígenas de Autazes enfrentam outra ameaça: a proposta de extração de potássio na região. A empresa Potássio do Brasil precisa explorar uma mina descoberta na terra indígena Soares-Urucurituba, que aguarda há quase 20 anos a conclusão do processo de demarcação. Esta é a casa do povo Mura, conhecido por lutar na Cabanagem, a mais popular da região norte.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, e o prefeito de Autazes, Andreson Cavalcante, ambos da União Brasil, se comprometeram a proteger o projeto. O governo estadual chegou a emitir uma nota oficial se declarando indígena a favor da mineração, e o conteúdo foi reproduzido por meio da empresa Potássio do Brasil em suas redes sociais.

No entanto, esse fato é questionado por seis lideranças indígenas. Em documento enviado ao Ministério Público Federal, eles afirmam que foram consultados sobre essa assistência e que a rejeitam categoricamente.

A cessão tem licença ambiental e está suspensa pela Justiça Federal.

Entramos em contato com a Cooplam, nenhuma reação foi obtida até o momento.

Atualizado em: 6 de novembro de 2023 às 17:04

Esta reportagem foi atualizada com a resposta de Muni Lourenço Silva Júnior.

A reportagem foi publicada originalmente no site do Intercept Brasil. Leia aqui.

A impressão que temos é que somos, quando digo “nós” me refiro àqueles que pagam impostos de verdade, não é imaginante que ninguém perceba que todos os prefeitos e vereadores dessas cidades também fazem parte disso. . Como fiscais, etc. , essas multas nunca são pagas, esses mafiosos fazem o que precisam porque têm força e dinheiro, administram aquelas regiões, um verdadeiro caboclo ocidental, uma terra de anarquia onde prolifera a violência e onde ocorre o desmatamento generalizado. a falência aberta do Estado.

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