Sua leitura indica o quão especialista você é em um determinado tópico com base na intensidade e contextualização do conteúdo que você está lendo. Nossa equipe de escritores atribui 20, 40, 60, 80 ou cem números a cada conteúdo: quem mais ajuda a perceber a situação existente no país tem mais problemas. Com o tempo, essa pontuação diminui, pois conteúdos mais recentes tendem a ser mais aplicáveis à percepção de notícias. Portanto, sua pontuação nessa fórmula é dinâmica: sobe quando você lê e desce quando você deixa de ser informado. Atualmente, a classificação é feita apenas em conteúdos semelhantes ao do governo federal.
Nos últimos dias, diversos conteúdos publicados nas redes sociais têm relatado sobre estiagem ou desligamento de bombas nos canais que cortam o Rio São Francisco. Muitos deles são arquivos antigos e já foram desmascarados por alguns meios jornalísticos. Outros são originais e mostram que as correntes de transposição trabalham com seções parcial ou totalmente secas.
As recentes publicações e controles de conteúdo são mais uma brecha na guerra pela autoria do livro, que é vendido há décadas como uma panaceia para a escassez de água em áreas atingidas pela seca no nordeste do país. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acusam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tentar sabotar o acabamento de pinturas para perpetuar a indústria da seca. Apoiadores de Lula acusam Bolsonaro de tentar tirar proveito político de um quadro cujo pai é filiado ao PT.
Segundo especialistas consultados pela Gazeta do Povo, Lula e Bolsonaro brigam pela autoria de um erro antigo. Os canais de transposição são, segundo eles, apenas um elefante branco que está longe de resolver o desafio social da escassez de água na região semiliberal do Brasil. região árida.
O conceito de movimentação do Rio São Francisco remonta ao século 19, na época do Império do Brasil, e foi retomado por diversos governos ao longo da história da República. Em 1998, o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) elaborou um projeto de transposição do rio, cuja implantação começou no final do primeiro governo Lula, em 2007.
Desde a década de 1990, o professor doutor João Abner Guimarães Júnior. Professor de Engenharia Hidráulica e Sanitária e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN), ele buscou demonstrar, em conjunto com uma organização de pesquisadores da mesma área, que a transposição do Rio São Francisco foi um erro desde sua concepção. Hoje é considerado justificado pela realidade.
“A realidade mostra o que é a transposição do São Francisco. É uma tarefa inviável, entendeu? Uma atribuição política que tinha uma motivação basicamente político-eleitoral. Já atingiu o seu objectivo. Foi usado e abusado nas eleições de Lula e Dilma. Até Bolsonaro usou e abusou dessa tarefa. O interesse político – que tem sido a coisa mais vital para mim – já sugou o suco da transposição. O que resta? É uma tarefa inatingível. A transposição é uma tarefa inviável. “A transposição é um absurdo. Serão cobrados mais de R$ 1 bilhão por ano”, disse.
O grande desafio no semiárido, segundo ele, é a infraestrutura para fornecer água à população. Para esse desafio, a elegância política brasileira nem sequer começou a propor soluções. O fator urbano de abastecimento de água para a população do semiárido – municípios áridos – tem sido precedente e antecedeu os projetos de transposição fluvial, porém nunca foi abordado.
Abner acredita que é previsível que comecem a aparecer fotografias de trechos não utilizados das cadeias de transposição: nenhuma rede pública ou empresa terá que pagar pela manutenção desses canais sem um plano transparente de como eles atenderão a população.
“É uma taxa de manutenção muito alta, que os estados não precisam pagar. A princípio, disseram que essa vaga seria preenchida por meio do setor urbano. Mas o setor urbano ainda nem sequer foi consultado sobre se o fará ou não. “Estamos dispostos a pagar por essa água. A inviabilidade econômica aparece. Dissemo-lo em 2004, mas ainda existe uma rede de segurança que impede que seja tornado público. Enquanto as pinturas continuam, elas não conseguem parar”, diz.
Segundo ele, os canais de concreto, expostos ao sol no interior do Nordeste, tendem a se deteriorar rapidamente. Como resultado, a manutenção será cara, seja nos casos em que a água é bombeada e flui pelos canais, o que reduzirá a erosão do concreto, mas exigirá o máximo consumo de energia e em condições em que os canais permanecerão secos.
Para Eduardo Lima de Matos, doutorando em andamento na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e ex-secretário da Universidade de Aracaju, há um “grande erro de projeto” nas pinturas de transposição do São Francisco.
“A prioridade não é social, não é acessar outras pessoas sem água. Levar água para outras pessoas é, digamos, a propaganda do projeto, mas não a essência”, critica. “É claro que algumas aldeias que estão em áreas secas, como Campina Grande, precisavam de uma transposição a tempo. Mas estamos falando de dois canais gigantes de mais de 700 quilômetros”, acrescenta.
Matos acredita que o investimento necessário para estabelecer uma infraestrutura de distribuição de água seria agora mais ou menos equivalente ao da transposição – que ultrapassa os 15 bilhões de reais – mas afirma, assim como Abner, que nunca houve um plano real para isso.
No entanto, os dois especialistas não concordam sobre as verdadeiras motivações para essa transposição. Para Matos, o repasse serve basicamente para financiar a produção agrícola para exportação. “Essa água de transposição é destinada ao cultivo de frutas irrigadas, é destinada à exportação. Exportamos água do São Francisco com um valor muito alto pago pelo sistema”, diz.
Para Abner, o objetivo é “pintar por pintar”: os verdadeiros interessados são a indústria estrutural e os demagogos políticos. São quadros que interessam ao setor estrutural, com excelente coordenação dentro do governo, e que conseguem reunir muitos políticos. Essa é a lógica da indústria da seca.
João Abner conta que, quando Bolsonaro assumiu o poder, ele e outros especialistas no controle dos recursos hídricos tinham expectativas e apresentaram uma proposta com regras para a distribuição de água para municípios do semiárido, pensando especificamente em ajudar a resolver o desafio da humanidade. .
No início do governo, em 2019, Gustavo Canuto, então ministro do Desenvolvimento Regional, foi receptivo a novas ideias. Mas, aos poucos, a proposta de concluir a transposição do modelo da indústria da seca passou a ser vista como eleitoralmente vital para Bolsonaro. Rogério Marinho, que substituiu Canuto no início de 2020, apresentou a comissão para destacar a execução das obras de transposição do São Francisco e vendê-la como uma conquista do governo Bolsonaro.
A transposição do Rio São Francisco é dividida em dois eixos principais: o eixo leste, com 217 km de extensão, que atravessa os municípios da Paraíba e Pernambuco, e o eixo norte, com 260 km de extensão, que atravessa os municípios do Ceará e Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Mais de 95% dos dois eixos em um cargo tinham suas estruturas físicas em posição quando Bolsonaro assumiu o cargo, mas seu governo terminou o trabalho, que está em andamento desde 2007.
Além disso, o governo Bolsonaro também realizou obras no trecho Agreste de 71 km, que leva água do Eixo Leste para mais municípios pernambucanos, e iniciou a pintura do trecho de 115 km do Apodi, que leva água do Eixo Norte até o Rio Grande. Os dois poderes eram componentes do projeto original, mas haviam sido iniciados por meio dos governos petistas.
No final do governo Bolsonaro, e especialmente na época das eleições, a aceleração de quadros e o leilão de setores vitais foram explorados durante a campanha do ex-presidente. Ao longo da gestão petista, foram reiteradas promessas de completar os quadros. mas nunca as cumpriu, e Bolsonaro tomou a decisão de atribuir-lhes mérito político.
Em 2009, como mostra reportagem da Folha de S. Paulo, Lula prometeu concluir os eixos do Norte até 2012; em 2013, segundo reportagem do Correio Braziliense, Dilma disse que completaria as tabelas de transposição do São Francisco em 2015; Em 2015, segundo o portal G1, Dilma prometeu concluir os quadros em 2016.
Embora tenha sido efetivo em suas realizações, Bolsonaro manteve os projetos como foram concebidos na era FHC. Para Abner, o ex-presidente perdeu uma oportunidade de reorientar o controle hídrico na região Nordeste e ajudar a acabar com a lógica do setor de secas. Se o objetivo deles era explorar eleitoralmente a transposição, isso também não funcionou.
“Nas aldeias por onde passou a água da transposição, onde foi inaugurada a transposição, a derrota popular foi grande. Não há resultado eleitoral”, disse.
Embora critique o trabalho de transposição, Abner é fatalista sobre o desafio dos mananciais no semiárido. Veja a opção para resolver o desafio de outras maneiras.
Para ele, é obrigatório setorizar o controle hídrico no Nordeste, em vez de realizar obras primárias. Além disso, querem incentivar a participação do capital pessoal, numa espécie de “choque liberal” do abastecimento de água no Nordeste. região semiárida, através da promoção de alianças público-pessoais. Isso terá que ser combinado, segundo ele, com um plano que integre os níveis federal, estadual e municipal de governo.
“Seria uma verdadeira revolução nessa área. Mas teria que ser privatizado. A indústria da seca é uma doença do estado brasileiro. E, enquanto não reduzirmos o papel do Estado brasileiro nesse setor hídrico, provavelmente não vamos nos livrar da indústria da seca”, disse.
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