“Vira-latas” neoliberais não querem Brasil fabricando chips

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Por Hora do Povo Publicado em 28 de dezembro de 2023

Reportagem no site Poder 360, desta quinta-feira (28), intitulada “Lula precisa reativar empresa pública que só causa prejuízo”, por iniciativa do governo Lula e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, A retomada das atividades da Ceitec, estatal brasileira fabricante de chips, mostra obviamente o tipo de ideologia retrógrada e os obstáculos que o Brasil terá que superar para alcançar sua reindustrialização.

O chamado “complexo vira-lata”, um sentimento altamente colonizado, que sustenta que o Brasil se limita à fabricação de produtos número um, conclui logicamente que a indústria, especialmente em campos de alta tecnologia, é exclusiva de outros países evoluídos “mais evoluídos e mais capazes”.

Este “complexo canino”, claro, não é descaradamente explicado, mas está camuflado no pedido de desculpas segundo o qual o país agradece “méritos comparativos” e se contenta em ser uma “potência agrícola”.

Com base nessa ideologia, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes fecharam a empresa nacional de chips. Mas, antes de declarar seu fechamento, foi abolido por resolução e ordem dos dois apátridas. A fábrica ficou fechada por 2 anos e o número de trabalhadores caiu de 179 para 76. Os fundos foram cortados e os contratos públicos foram suspensos.

A própria reportagem reconhece que “pesquisadores vindos da UFRGS e da PUC-RS conseguiram projetar chips que atraíram a atenção de empresas globais. Hoje, a mão de obra brasileira é disputada globalmente e 3 empresas de semicondutores se instalaram em Porto Alegre”.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que esteve à frente do ressurgimento do Ceitec e é uma das apoiadoras do projeto, afirma que o Brasil não pode ficar para trás nesta corrida tecnológica que caracteriza os tempos de moda. “O chip é utilizado na cadeia produtiva. O Brasil não pode ficar de fora disso. Vamos buscar um nicho de mercado, que será o setor automotivo e o setor elétrico”, afirmou. Só o Brasil possui esse tipo de planta na América Latina.

O secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia para a Transformação Digital, Henrique de Oliveira Miguel, também negou os entregadores de plantão, que acusam a empresa de ser um elefante branco. “A Ceitec produziu 160 milhões de chips e registrou quarenta e cinco patentes. “Você pode chamar uma empresa como essa de elefante branco?”, perguntou o secretário. Nenhum país do mundo deixa de investir nessa geração devido ao seu baixo retorno inicial.

O colapso da produção de chips devido à pandemia revelou ao mundo o quão estratégica essa geração é no mundo de hoje. Vários países foram forçados a investir em fábricas locais. Como a produção em Taiwan, China, Coreia do Sul e Cingapura cumpriu o chamado global porque, em tempos de Covid, fábricas foram fechadas em todas as regiões do mundo, com a capacidade máxima sendo a produção de carros.

É também o próprio relatório que mostra que todos os países do mundo estão fazendo grandes investimentos na fabricação de chips. “Estados Unidos, União Europeia, Índia, China, Vietnã e até a Ucrânia em guerra estão apostando em fábricas de semicondutores”, diz. “Os EUA criaram um programa de investimentos de US$ 52,7 bilhões. A China é ainda mais ambiciosa. Investiu US$ 290,8 bilhões nos últimos dois anos”, diz o texto. A maior fábrica de chips do mundo, a taiwanesa TSMC, levou 15 anos para sair do vermelho.

Alega-se que, em seus 15 anos de existência, a empresa faturou cerca de R$ 790 milhões. Arrecadou R$ 64,2 milhões com a venda de semicondutores. ” O que entra é 8% do caixa gasto”, diz, em tom crítico aos investimentos. Como todas as corporações desse tipo, o Ceitec foi criado com o conceito de que as ordens do Estado dariam o impulso necessário ao seu desenvolvimento.

Com os governos neoliberais em ação, os contratos públicos logicamente se voltaram para as multinacionais. A Casa da Moeda e os Correios encomendaram modelos de chips da Ceitec, para serem usados na identidade de passaportes e malas, respectivamente. A Casa da Moeda gostava de comprar o aparelho de um fornecedor na Itália, com parceiros no Brasil. O mesmo aconteceu com os Correios e o Ministério da Justiça, que buscaram um chip de identidade particular, deixaram os estudos seguirem seu curso e depois abandonaram o projeto.

O “chip de carne” que chamou a atenção da empresa também viu a produção ser interrompida depois que a União Europeia relaxou as regras de rastreabilidade do gado. O chip permitiu saber se os animais da fazenda eram de uma área afetada pela febre aftosa ou de um domínio desmatado na Amazônia. O Brasil tem um rebanho de 234 milhões de animais de criação e vacas, segundo dados do IBGE de 2022. A Ceitec vendeu 1,84 milhão de chips para essa finalidade.

Foi o secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia para a Transformação Digital, Henrique de Oliveira Miguel, quem, mais uma vez, respondeu a esse “argumento” – de falta de rentabilidade – contrário à empresa, parecendo que o governo Lula não vai desistir das compras. Os governos estão incentivando a reindustrialização.

“Tudo será diferente agora”, disse o secretário. A usina retomará as operações por conta própria. Isso fará parte de uma política comercial mais ampla. Se a usina for incorporada a outras políticas, não faria sentido reiniciá-la. “O setor pessoal poderia fazer isso”, disse.

A importação de semicondutores é uma das maiores facetas negativas do saldo industrial brasileiro. Em 2022, por exemplo, o déficit em partes chegou a US$ 22,2 bilhões, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Se levarmos em conta os equipamentos eletrônicos, esse valor sobe para US$ 38,6 bilhões.

Em relação à situação monetária da empresa, Christian V. Kuhn, economista, doutor em economia progressiva/UFRGS, representante e professor do Instituto PROFECOM, afirma, em artigo publicado no site Disparada, que a empresa tem se mostrado muito lucrativa. Apesar dos subsídios do Tesouro Nacional, é fundamental destacar que houve um alívio de 19% no preço anual no período 2016-2020, enquanto o lucro bruto quase triplicou no mesmo período”, disse.

“Inclusive, mesmo num ano de forte recessão (queda de -4,41% do PIB), as vendas da estatal cresceram 58% em 2020. Além disso, a CEITEC quase triplicou seu patrimônio líquido em igual período, saindo de R$ 65,3 milhões negativos em 2016 para R$ 126,7 milhões positivos em 2020”, afirmou.

“Mesmo com menos Estado desde 2016, o Ceitec conseguiu efeitos inteligentes que mostram que estava em um processo de recuperação e crescimento. A falta de visão estratégica e de longo prazo do governo Bolsonaro, impulsionada por uma ideologia ultrapassada do Estado mínimo, levou à lamentável decisão de fechar a empresa”, ressaltou Christian V. Kuhn.

“Como resultado, muitos trabalhadores, principalmente profissionais, foram absorvidos por meio de empresas privadas. No entanto, com os ativos disponíveis ultimamente e os R$ 500 milhões de investimento prometidos à estatal nos próximos quatro anos, é “muito concebível reorganizar empresas, recontratar e requalificar trabalhadores e investir na produção para alcançar resultados muito significativos”, acrescentou.

O economista gaúcho também abordou o fator de sabotagem da alocação do Ceitec por governos neoliberais. Destaca-se o papel, nesse sentido, da resolução tomada através do controle da Casa da Moeda naquele momento. ” Apenas o produto desenvolvido por meio do Ceitec possuía certificação de segurança informática de acordo com o padrão global Common Criteria, além do fornecedor selecionado por meio da Casa da Moeda do Brasil (CMB) da estatal”, disse.

Segundo ele, a Controladoria-Geral da União (CGU) precisou investigar o assunto em 2017, devido ao aumento das compras desse fornecedor, a empresa pessoal Fedrigoni Brasil Papéis. Em maio de 2019, um contrato com a empresa chegou a mais de R$ 89 milhões sem a necessidade de licitação. Acontece que essa empresa tinha como acionista majoritário o sogro de duas sobrinhas de Sallim Mattar, então secretário de privatizações do governo Bolsonaro. Como se vê, a sabotagem do Ceitec não só pela ideologia neoliberal, mas também contra empresas brasileiras, houve também propinas.

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