Celular na escola: usar ou usar? Esse é o desafio resolvido através do Rio de Janeiro

09/02/2024 – 8h00

A conexão do aluno deve ser com a escola e não com o celular. Esse é o lema da Prefeitura do Rio de Janeiro para o início do ano letivo na rede municipal. O início do ano letivo traz uma novidade: o uso do celular é proibido. Desde agosto do ano passado, os alunos só podem usar os aparelhos durante o recreio. Mas, agora, um decreto do prefeito Eduardo Paes ampliou essa proibição: celulares são proibidos durante o horário escolar, recreio e fora da sala de aula em caso de explicação do professor e trabalho individual ou organizacional. Os smartphones merecem ser guardados em uma mochila ou bolsa, desligados ou silenciosamente.

Até mesmo vibrações são permitidas. Exceções são feitas para casos específicos, como bolsistas com deficiência ou em condições de força maior – como doença.

A medida entra em vigor em março e, neste mês de fevereiro, será usada para conscientizar. O período será utilizado para adaptação dos adolescentes em atendimento institucional e familiar.

Os pais aprovaram a intervenção. Não à toa, a consulta pública realizada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio, entre dezembro e janeiro, recebeu 10.437 contribuições, sendo 83% favoráveis à proibição. Os números agradaram a gestão de Paes, que endossa: “Escola é lugar de disciplina e, sobretudo, aprendizagem, de convívio social e troca entre nossas crianças.”

“O uso excessivo de aparelhos eletrônicos atrapalha a concentração e interfere diretamente no aprendizado. É como se o aluno saísse da sala de aula toda vez que vê uma notificação”, afirma Renan Ferreirinha, secretário municipal de educação do Rio de Janeiro.

Para ele, o jovem não consegue prestar atenção e aprender de forma plena diante do acessório tecnológico. Menosprezar ou fingir que essa questão não existe estava fora de cogitação. “Escola é lugar de interagir com amigos e ficar ao telefone atrapalha a convivência social, deixa a criança isolada em sua própria tela.”

O regime do “telemóvel zero” é uma realidade que já se observa em países como França, Holanda, Inglaterra, Portugal, Austrália e Estados Unidos, seguindo os padrões da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que tem alertado para o número excessivo de telemóveis. Uso de smartphones nas escolas.

No seu Relatório de Monitorização Global da Educação 2023, sobre o tema “Tecnologia na educação: uma ferramenta para quem?”, a ONU insiste na necessidade de uma “visão centrada no ser humano” e alerta para os efeitos negativos na aprendizagem.

Outros estudos também mostram que os celulares estão ligados a casos de ansiedade e depressão. “A ingestão descontrolada pode levar a distúrbios de condicionamento físico, como um vício patológico conhecido como nomofobia, que interfere nos sentimentos e na capacidade de resolver os transtornos de forma autônoma”, observa Mariana Poggiali, pediatra da Rede Mater Dei de Saúde.

Esse conhecimento embasou a decisão de Paes, com a aprovação de educadores de todo o Brasil. O debate é a favor da busca de um maior ensino. Inicialmente, uma das dicas é a concentração.

“Sem o celular, os alunos podem se concentrar melhor nas categorias e atividades escolares, no seu desempenho educacional”, afirma Daiane Lacerda, assessora nacional de proteção e salvaguarda da ONG Visão Mundial Brasil. “Há também a questão da menor exposição aos conteúdos, mesmo em um curto espaço de tempo”, acrescenta o especialista da entidade, que desenvolve projetos voltados para a cobertura de jovens e adolescentes.

O cerco ao dispositivo se espalha. Num movimento similar, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou alterações no seu programa de restrição.

Há um ano, aplicativos e plataformas não educacionais já estavam banidos das salas de aula. A partir de agora, a medida vale para ambientes administrativos, o que significa que nem alunos nem professores poderão acessar redes sociais, por exemplo.

“O objetivo é otimizar o uso das infraestruturas tecnológicas para a progressão pedagógica dos alunos”, informa a Secretaria.

Para os educadores, a interação é uma das rotinas offline.

• “O celular ‘rouba’ a atenção e a concentração dos jovens”, diz Marcos Alves, professor de controle público da Faculdade Paulistana de Educação. Para ele, a falta de socialização priva os adolescentes de uma era de construção e fortalecimento de sua identidade.

“À primeira vista, proibir é radical e até contrário à fibra da nova história, mas é um ato civilizatório”, acrescenta a educadora do Colégio Prígule, em São Paulo. Com 25 anos de experiência em sala de aula, ela destaca que há um consenso entre pais e professores: “ensinar é, de certa forma, orientar, dar parâmetros e permitir o crescimento social, emocional e profissional”.

Em entrevista à ISTOÉ, duas famílias paulistas apoiaram a ação do Rio de Janeiro, sugerindo que essa decisão sirva de referência para os gestores.

“A maneira mais simples é proibir. E o círculo familiar quer ajudar nesse processo. Não é só responsabilidade da escola. No final do dia, os adolescentes saem do espaço com o celular”, diz a coordenadora pedagógica Ana María Bellangero, mãe. por Davi Bellangero, de 12 anos.

• “Concordo com a parte de deixar na mochila por motivos como ‘cola’ e ter concentração na aula. Mas no recreio poderia usar, pois o aluno tem direito a um tempo de descanso”, argumenta o adolescente.

“O aluno tem muito tempo para usar o aparelho para fins recreativos ou como meio de comunicação fora da escola”, diz Eymi Carla Mamani, mãe de Isabella Nunes, de 10 anos. Ela ressalta que o detalhe tecnológico interfere nos anos muito importantes do ensino fundamental: “Às vezes, os alunos não prestam atenção no conteúdo que possivelmente apareceria no exame do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)”.

• Seguindo essa lógica, outro exemplo vem do Colégio Presbiteriano Mackenzie: as categorias do nono ano terão uma área reservada onde todos deverão deixar o smartphone antes de iniciar a aula. ” Ao que parece, a maioria gostou da ideia “Eles percebem isso” Eles querem ajuda para se desconectarem das telas por um tempo”, afirma Ricardo Cassab, diretor da instituição. “Parece que será um sucesso: o aluno, a família, a escola e, consequentemente, a sociedade sairão ganhando”.

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