’64 Coup d’état: Loss and Damage lança luz sobre os dias que antecederam o golpe de 1964. Intitulada Futuro Interrompido, a primeira temporada da série resgatou os embates em torno das propostas do ex-presidente João Goulart que serviriam de motivo de união. e ruptura do processo democrático. Em seis episódios, o audiodocumentário revisita os antigos arquivos, ouve os personagens que viveram esse momento crítico e leva o ouvinte a refletir sobre a missão nacional interrompida pelo golpe de Estado que salvará Jango de cumprir sua preferência por enfrentar a crônica social. distúrbios que têm afetado o país.
O ápice do momento crítico que levaria à deposição de Jango, a histórica reunião de mais 200 mil pessoas na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, unificou os movimentos rural, sindical e estudantil.
“E lá estávamos nós entre as pessoas desfraldando panfletos, gritando palavras de ordem, esse tipo de coisa. Eu tinha 20 anos. Esperávamos dar força ao governo de João Goulart para que ele pudesse implementar reformas fundamentais, especialmente a reforma agrária. Iara Cruz, jornalista e diretora da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
“Participei do comício. Eu sou um estudante. Na verdade, sou membro da União Metropolitana dos Estudantes, que é ligada à UNE”, explica Iara.
Nele, o ex-presidente apresentou as reformas estruturais fundamentais, um conjunto de medidas que visam buscar substituir os antigos problemas sociais do país. Em 1964, o Brasil tinha 80 milhões de habitantes. Quatro em cada dez pessoas viviam em áreas rurais. 40% também eram analfabetos, sem direito a voto. Poucos dias após o ato da Central do Brasil, em 31 de março, cerca de seis mil soldados de infantaria comandados pelo general Olímpio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora, Minas Gerais, e marcharam pela atual BR 040, em direção ao Rio de Janeiro, em oposição. para derrubar o presidente João Goulart.
Cerca de 36 horas depois desse levante, uma consulta ao Congresso Nacional tentou dar ao golpe um ar de legalidade. Como Jango não foi acusado dos crimes previstos na Constituição vigente à época, a manobra para alegar que havia deixado o país sem a autorização do Parlamento, o que também não correspondia aos fatos.
Em 2013, o Congresso Nacional cancelou essa sessão. É um ato simbólico endossar o episódio de 1964 como um golpe de Estado.
“Acho que 1964 interrompeu um processo nacional, não tenho dúvida disso. “Essa é a visão de Mariluce Moura, referência do jornalismo científico no Brasil atual, presa e torturada pela ditadura.
O segundo episódio da série de podcasts Golpe de 64: Perdidas y Daño será transmitido no dia 11 de abril no site da Radioagência Nacional e nas plataformas de áudio. Os demais episódios vão ao ar semanalmente, às quintas-feiras.
ABERTURA DA ? PISTA
VALÉRIA REZENDE: A gente atuava em todos os lugares. . .
MARILUCE MOURA: Nós, os alunos, também fomos para outras equipes mais carentes com alfabetização.
CARLOS MOURA: Teríamos menos desigualdade. Haveria muita concentração de renda.
IARA CRUZ: Você tem essas cidades infladas hoje
JOÃO ROBERTO MARTINS: Seria outro Brasil se não fosse o golpe.
MARILUCE MOURA: Vai acontecer, não sei o quê. A gente se comunica muito, né?Porque era o que esperávamos e tudo para.
ROTA ?
Eliane: Sucedería. Me gostaria, não sei o quê. . . Haveria, haveria, haveria. . . Na gramática, esse tempo verbal que parece uma promessa não cumprida é o Futuro do Passado. Um longo período que não funcionou. Permaneceu na vida após a morte sem nunca conseguir chegar ao presente.
MARILICE: Em 1964 interrompi um processo nacional, não tenho dúvida disso.
SUMAIA: 1964 interrompeu um processo nacional. . . Desde que começamos a ler e entrevistar outras pessoas sobre os 60 anos do golpe que submeteu o Brasil a 21 anos de ditadura militar, esse conceito de ruptura está presente.
Eliane: E com isso, muitas perguntas: qual tarefa estava em andamento e foi interrompida?Quem nunca buscou essa atribuição para uma realidade?E o que foi construído em seu lugar? Quanto tempo ela chegou ao fim antes de seu tempo?Meu chamado é Éliane Gonçalves. . .
SUMAIA: Meu chamado é Sumaia Villela. Agora vamos analisar para responder a essas perguntas.
ABERTURA DE ? TELHAS
ELIANE : Primeira Temporada : Long Run Interrupted
ÁUDIO AMBIENTE DA SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL QUE AFASTOU JOÃO GOULART DA PRESIDÊNCIA EM 1964 ?
SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL: A presença conta com a presença de 152 deputados e 26 senadores. Assim, são 178 parlamentares na Casa.
ELIANE: 178 deputados. Incluindo senadores e membros da Câmara dos Comuns, o Congresso Nacional tinha 634 deputados. Por outras palavras, o referendo convocado em 1 de Abril de 1964 não reuniu sequer um terço do Parlamento. Brasília estava sitiada. Estradas e o aeroporto foram fechados na quarta-feira.
SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL: As câmaras habituais do Congresso Nacional foram convocadas para prestar consulta, para que esta presidência possa fazer uma comunicação. . .
SUMAIA: Já é madrugada de 2 de abril. É o senador Auro de Moura Andrade, presidente do Senado, adversário do presidente da República, João Goulart, e filho de um camponês do país. . .
SOM ACIMA ? – Tião Carreiro e Pardinho – Rei do Gado
ELIANE: Matriz. . há até gosto pela viola para comunicar sobre o pai de Auro. . .
SUMAIA: Bem. . . Foi o filho do rei dos animais de fazenda que liderou uma consulta tumultuada, e com uma nota inteligente.
SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL: [campanha] Peço licença ao nobre deputado. Peço perdão. . . Permito ao nobre deputado que apresente um ponto de ordem que não se relaciona com a ordem do dia da Assembleia.
grita ao fundo que ser fascista ou comunista
ELIANE: As birras não foram uma coincidência. Na época, um golpe de Estado estava literalmente ocorrendo.
EFEITO SONORO ?
ELIANE: Em 31 de março, cerca de 6 mil soldados, comandados pelo general Olímpio Mourão Filho, haviam deixado Juiz de Fora, na região de Minas, e marchavam pela atual BR 040 em direção ao Rio de Janeiro, como parte de uma campanha para derrubar o presidente João Goulart.
SUMAIA: Essa consulta ao Congresso Nacional, pouco mais de 36 horas após o levante, tentou dar um ar de legalidade ao golpe. Como Jango não foi acusado dos crimes de dever previstos na Constituição vigente na época, a manobra de fingir que estava ausente do país sem a autorização do Parlamento.
Eliane: O que não tinha acontecido. O primeiro secretário do Congresso, o líder do governo, Adalberto Sena, do PTB. Ele chegou a ler uma mensagem do ministro-chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, para avisar que o presidente no Brasil já está se organizando para resistir.
SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL: O Presidente da República me pediu que informasse a Sua Excelência que, diante dos acontecimentos nacionais das últimas horas, para manter afastado o mandato que lhe foi confiado pelo povo, tomando a decisão de investi-lo à frente do Poder Executivo, tem que ir ao Rio Grande do Sul. onde se revela à frente das tropas legalistas do exército e em pleno exercício dos poderes constitucionais com seu ministério.
SUMAIA: Morreu e, com um grito, Auro Moura decretou que a presidência da República estava vaga.
SESSÃO DO CONGRESSO NACIONAL: O Presidente da República deixou a sede do governo. Deixou o país sem cérebro!
Eu grito: É verdade!
Em um momento gravíssimo da vida brasileira. Porque é que o Chefe de Estado deve permanecer à frente do seu Governo?Ele deixou o governo!
Gritar ao fundo: não é verdade
Essa acefalia, essa acefalia, constitui a necessidade de o Congresso Nacional, como poder civil, tomar as medidas cabíveis nos termos da Constituição brasileira, para reparar a autoridade do governo e os estilos de vida do governo nesta Pátria convulsiva!Não podemos permitir que o Brasil fique sem governo, abandonado!
Gritos e vaias
Somos culpados do resto do Brasil, dos outros, mande!Reivindico a vaga da Presidência da República!
Gritos e vaias – Presidente Jango!- Um vigarista!
ROTA ?
ELIANE: Em 2013, o Congresso Nacional cancelou essa sessão. Um ato simbólico para demonstrar que o chamado do que aconteceu em 1964 é, de fato, um golpe de Estado. O que não pode ser desfeito é o tempo que passou. . .
SUMAIA: Já se passaram 60 anos desde que esses eventos entraram para a história. Foi a causa de um protesto que tomou forma nas ruas, nos jornais, na rádio, nas galerias, nas sessões plenárias, nos discursos, nas despesas e, sim. , em corações e mentes. Uma disputa sobre a qual o Brasil construiria a partir daí.
ROTA ?
SUMAIA: Voltemos a pouco mais de 15 dias antes do golpe. . .
EFEITO SONORO DE RETROCESSO ?
O SOM AMBIENTE DO RALLY CENTRAL DO BRASIL
ELIANE: Rio de Janeiro, 13 de março de 1964, uma sexta-feira. Treze. . .
DECLARAÇÃO DE JANGO: Estou me dirigindo a todos os brasileiros, não só àqueles que conseguiram se matricular nas escolas. . .
SUMAIA: Trata-se de João Belchior Marques Goulart. Chamado de político João Goulart. O Jango. Gaúcho de São Borja, filho de fazendeiro, pecuarista. Mas, discípulo de Getúlio Vargas e filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, fez carreira aliando-se ao setor sindical industrial.
ELIANE: Quando ainda era presidente, Jango conversou com cerca de 200 mil pessoas na Central do Brasil, um gigantesco posto de exercícios no centro do Rio de Janeiro.
DECLARAÇÃO DE JANGO: Eu também enfrento os milhões de nossos irmãos e irmãs que dão ao Brasil mais do que recebem e que pagam com sofrimento, miséria, privação pelo direito de serem brasileiros e de pintar do amanhecer ao anoitecer pela grandeza deste país. . .
A multidão grita
SUMAIA: A arquibancada era mais baixa que a cabeça da torcida. Jango apertou a mão de quem se aproximou com facilidade. Com ele estavam a primeira-dama, Thereza Goulart, o deputado Leonel Brizola, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, José Serra, na época presidente da União Nacional dos Estudantes, UNE, vários ministros e outros políticos da base do governo.
JANGO STATEMENT: Ele chegou a proclamar que os trabalhadores brancos. . . [cortar] que essa concentração. . .
Eliane: É um áudio antigo. Gravado em fita rolo a carretel, algo que muitos ouvintes talvez não imaginassem do que se trata. . . Enfim, é antigo e a gravação tem algumas falhas. . .
Pronúncia de JANGO: Cajado branco já foi até proclamado. . . [corte] que essa concentração seria um ato ofensivo [corte] à democracia. É como se, no Brasil, o pessoal, a reação, continuasse sendo o dono da democracia, o dono das praças e das ruas.
SUMAIA: Como se a reação possuísse democracia. . . Esse é o ataque de Jango à oposição. Elas se repetem o tempo todo no discurso.
DECLARAÇÃO JANGO: Para eles, os trabalhadores, a democracia não é o regime da liberdade, do encontro com os outros. O que eles precisam é de uma democracia do outro mudo, do outro sufocado em seus desejos.
ELIANE: Em várias ocasiões, João Goulart fala em democracia e defende tudo o que é redundante, ou seja, que para ter democracia é preciso participação popular. Isso não é exagero. A imprensa diária permitiu que os partidos beligerantes do governo insinuassem que Jango tentaria um golpe de Estado.
JORNAIS DA ÉPOCA
DILSON SANTA FÉ: O Jornal – 6 de março de 1964
Líderes da oposição temem que o presidente João Goulart, após um ataque a si mesmo na manifestação do dia 13 na Guanabara, sob o pretexto de vingança, decrete estado de sítio.
LUCIANO BARROSO: Jornal do Brasil – 8 de março de 1964
Os deputados da Frente Parlamentar Nacionalista começaram a se preocupar, especificamente, com uma ofensiva extralegal do presidente da República, por meio de uma emenda constitucional absolutamente absurda.
SONS AMBIENTES DO RALLY CENTRAL DO BRASIL ?
SUMAIA: Os cartazes expostos na plateia do Rally mostravam sinais do que outras pessoas esperavam. . .
VOZES LENDO OS CARTAZES:
“Outros pedem reformas”
“Agrícola, Urbano, Eleitoral, Fiscal, Acadêmico e Bancário”
“Abaixo as propriedades e os trusts”
“É hora de ter um monopólio global: todo o petróleo para a Petrobras”
“O Brasil não é o jardim do Kennedy! Nosso país tem soberania. “
“Por lei ou pela força”
“Essas outras pessoas de quem sou escravo não serão mais escravas de ninguém”
DICA ? DISSE, POR JACKSON DO PANDEIRO
SOM DE RALLY ?
IARA: Essa manifestação foi organizada através do Comando Geral dos Trabalhadores e da UNE.
Eliane: Essa é a Iara Cruz. Today é jornalista e diretora da ABI, a Associação Brasileira de Imprensa.
IARA: Eu vi o rali. Eu sou um estudante. Sou membro da União Estudantil Metropolitana, que era notoriamente ligada à UNE.
CAMPANHA DE CHAMADA: Estudantes, jovens é a esperança de um Brasil. Participe do Comício da Reforma com Jango. . .
ELIANE: Os movimentos sociais organizaram a manifestação e os jingles, como o ouvido na voz imposta do apresentador da Rádio Nacional no Rio de Janeiro, ajudaram a convocar os estudantes, os trabalhadores, os militares. . .
CAMPANHA DE CONVOCAÇÃO DE COMÍCIO: Fique atento às palavras de Roberto Morena, secretário da Comissão Permanente das Organizações Sindicais do Estado da Guanabara: O décimo terceiro de março terá que ser celebrado para todos os brasileiros, especialmente para a classe comum, para os camponeses, para os estudantes, para os intelectuais, para todos os patriotas democráticos, o início de uma campanha séria e profunda, para que possamos trazer à tona as reformas que são tão necessárias para o nosso país.
CAMPANHA DE COMÍCIO: Mais proprietários, mais consumidores, mais alimentos, mais justiça social. A reforma agrária vai trazer tudo isso para o povo brasileiro. Participe do Comício da Reforma com Jango, na sexta-feira, 13, às 17h30, na Central do Brasil.
IARA: E nós estávamos lá no meio das pessoas distribuindo panfletos, gritando palavras de ordem, esse tipo de coisa. Eu já tinha 20 anos. Esperávamos que o governo de João Goulart implementasse reformas fundamentais.
SUMAIA: Iara nos ajudou a ir direto ao ponto. Reformas estruturais de base. Um conjunto de medidas para enfrentar os problemas estruturais do Brasil. Na época, foram descontadas quase 80 milhões de pessoas, algumas das quais viviam em áreas rurais. A taxa de analfabetismo era de 40%. Na verdade, essas outras pessoas não tinham direito a voto.
ELIANE: Falando de forma improvisada, Jango explicou, em 65 minutos, as principais propostas dessas reformas. A mais alardeada delas é a reforma agrária.
SUMAIA: Antes de subir ao palco, Jango assinou um decreto designando como de interesse social as terras beneficiadas pelo saneamento e barragens da União, às margens das rodovias e ferrovias federais, que, dependendo de seu porte e função social, seriam desapropriadas.
PRONUNCIAMENTO DE JANGO: A reforma agrária é o capricho de um governo, de uma pessoa ou de um programa partidário. A reforma agrária é produto de uma necessidade premente de todos os povos do mundo. . .
ELIANE: A reforma eleitoral, na prática, deu aos analfabetos o direito ao voto.
DEPOIMENTO DE JANGO: Matrix. . . Porque é uma exigência da nossa progressão e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, a reforma ampla que permite que todos os brasileiros com mais de 18 anos participem de forma semelhante na decisão de seu destino. . .
SUMAIA: Na área da escolarização, já está em curso um ambicioso programa nacional de alfabetização. Os ajustes no ensino superior são anunciados hoje.
DECLARAÇÃO JANGO: Essa mensagem também inclui a reforma universitária, que os acadêmicos brasileiros estão exigindo.
ELIANE: A reforma urbana controlou a especulação imobiliária, criando regras sobre os preços dos aluguéis. . .
DECLARAÇÃO DE JANGO: Este é o decreto que eliminará o valor exorbitante e abominável dos apartamentos vazios.
SUMAIA: Na frente econômica, Jango assinou um decreto no mesmo dia para apreender, ou seja, nacionalizar, refinarias de petróleo em solo brasileiro, a fim de aproveitar as vantagens da Petrobras.
PRONÚNCIA DE JANGO: A partir desse momento, Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazônia e Destilaria Rio Grandense pertencem ao povo, porque pertencem ao patrimônio.
ELIANE: As reformas tributária, bancária e administrativa também estiveram na pauta. Mas, para garantir tudo isso, é necessária uma reforma constitucional.
Não tenho medo de ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, proclamar e continuar proclamando em todos os cantos do País a necessidade, trabalhadores, de rever a atual Constituição de nossa República, que já não responde às necessidades dos outros ou às necessidades de progresso desta Nação.
MÚSICA: ? VILLE VIDE, NA VOZ DE ELIZETH CARDOSO
SUMAIA: As propostas deram esperança a outros jovens como Carlos Moura. Na época, ele era um advogado recém-formado.
CARLOS MOURA: Tive a oportunidade de ver a área em frente à Central do Brasil, completa, completa, completa, completa de outras pessoas que vieram aqui aplaudir o presidente João Goulart. Eu, 24 anos, defendi os camponeses e fiz campanha pela reforma agrária. É um chamado pelo qual muitos brasileiros ainda lutam hoje.
ELIANE: É falando sobre essas proposições que historiadores como Daniel Aarão, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acabam reconjugando esse tempo verbal melancólico, o longo prazo do passado.
DANIEL AARÃO: Eu aprecio muito esse programa das chamadas reformas de base. Às vezes, era muito subestimado pelos acadêmicos. Consideram-na uma tarefa muito retórica, com conteúdo vago. Penso o contrário: o programa básico de reformas, se implementado, remodelaria profundamente o país. Era tarefa de um Brasil eleger aquele que, afinal, prevaleceu sob a ditadura. Possibilitaria também a construção de um país mais justo, mais unido e mais democrático.
SUMAIA: É claro que essas reformas não agradariam a todos. Mas, para o historiador Rodrigo Patto, da Universidade Federal de Minas Gerais, é preciso algo mais para unificar a oposição.
RODRIGO POTTO: A ideia de desgastar certas reformas sociais afetou algumas equipes conservadoras, algumas equipes de direita, e mobilizou essas equipes contrárias a algumas das reformas de base. Mas o que estou dizendo, e venho dizendo isso há 20 anos, é que o detalhe que uniu todas as equipes golpistas não foi a oposição às reformas em si. O que uniu essas equipes foi a oposição às equipes de esquerda, ao governo de João Goulart e aos movimentos sociais liderados pelo partido progressista. acampamento.
SUMAIA: A evidência de que as reformas tiveram efeito popular está guardada em uma gaveta há anos. Uma pesquisa do Ibope, realizada poucos dias antes do golpe, mostrou que cerca de 70% dos entrevistados aprovavam as propostas. A pesquisa foi realizada junto à população de São Paulo e encomendada por meio da Fecomércio, que reúne os sindicatos patronais dos setores industrial e de facilities. No entanto, esses estudos só foram tornados públicos 40 anos depois.
Eliane: Apesar disso, muitas outras pessoas apoiaram o golpe. Veja novamente Daniel Aarão, historiador da UFRJ, que fala dessa contradição gritante.
DANIEL AARÃO: Porque do ponto de vista da direita, há a capacidade de mobilizar os outros para dizer a eles que o que estávamos discutindo não era a ordem brasileira, mas a civilização cristã. E depois incutiram preocupação com o comunismo, inculcaram. . . . E as forças progressistas não souberam se proteger da maneira mais produtiva.
Eliane: E aqueles que procuraram deixar tudo para trás como se estivessem chamando um fantasma que, naquele momento, estava assombrando parte do mundo.
MÚSICA COMUNISTA INTERNACIONAL ?
SUMAIA: É um tempo de Guerra Fria, o global dividido em dois. De um lado, o États-Unis. De o outro, a antiga União Soviética. E o comunismo, o maior inimigo do Ocidente.
JOÃO ROBERTO MARTINS: Isso está profundamente ligado apenas ao departamento do global em dois componentes, o componente capitalista e o componente comunista. . .
ELIANE: É João Roberto Martins, professor de história da Universidade Federal de São Carlos, que fala sobre o militarismo no Brasil.
JOÃO ROBERTO MARTINS: Matriz. . . mas também é semelhante ao fato de que, desde a fundação da Escola Superior de Guerra, a doutrina da segurança nacional entrou no Brasil com uma força maravilhosa e declarou que a grande luta que dividiu o mundo, a luta da civilização cristã contra o comunismo.
JORGE ARAÚJO: Eu comia quando era criança. Eu comia quando era criança. Era o que dizia minha mãe. Como o comunista, comia as crianças.
SUMAIA: O fotógrafo Jorge Araújo tinha 15 anos em 1964 e não esqueceu o que significava qualquer sinal de proximidade com a fórmula política bolchevique.
JORGE ARAÚJO: Isso foi pregado a todas as crianças. E um dia eu disse a ela que eu era comunista, ela me bateu na boca e minha mãe nunca tinha me tocado. ” Filho, não diga isso”.
Eliane: Você conhece as Fake News? Eles não foram inventados pelo tio de Zap. Mas será que eu queria? Mais uma vez, Rodrigo Patto.
RODRIGO PATTO: Eles não teriam conseguido derrubar João Goulart e dar o golpe assim se o tom predominante tivesse sido “Abaixo as reformas”. O tom predominante era “abaixo o comunismo, abaixo a subversão, abaixo a desordem”. “Eles estão unidos, raramente muito, de agricultores reacionários a figuras da classe média urbana que não se opunham à distribuição de terras.
SUMAIA: É nesse contexto mais complexo que as reformas de base foram inseridas. E não podemos obter ajuda dos EUA para o golpe.
ELIANE: E houve ação direta. Primeiro, com a diplomacia. O caso da Aliança para o Progresso, um acordo de cooperação celebrado na América Latina, com um agfinisha que até se assemelhava a reformas fundamentais: reforma agrária, industrialização, fim do analfabetismo. . . Mas a prática era baseada no bem-estar:
MARILUCE MOURA: Eu desmaiei comida, mais comumente leite em pó – leite terrível, cara, eu nem diluí no café [risos]
SUMAIA: Mariluce Moura foi presa e torturada pela ditadura. Hoje, ele é uma das principais figuras do jornalismo científico no Brasil. Mas, em 1960, um adolescente de classe média baixa de Santa Luzia do Lobato, subúrbio de Salvador.
MARILUCE MOURA: Distribuí cestas básicas para a população de baixa renda. Foi uma pintura intensa feita nas periferias urbanas do Brasil.
EFEITO SONORO DE UM JATO MILITAR
ELIANE: E quando ocorreu o golpe, havia até navios e aviões que poderiam sair dos Estados Unidos para o Brasil, em caso de resistência. Operação Irmão Sam.
SUMAIA: Os EUA também influenciaram o componente militar. O componente, claro, que deu o golpe. Mas, segundo o professor João Roberto Martins, ainda havia um exército progressista no Brasil na época.
JOÃO ROBERTO MARTINS: Há um departamento profundo dentro do Exército. O que mais tarde seria chamado de Cruzada Democrática, que levou ao golpe. Para eles, o maior desafio do avanço global do comunismo. Então, naturalmente, eles eram a favor de uma aliança com os Estados Unidos e também eram a favor da entrada de capital estrangeiro, digamos, para o que chamavam de promoção do desenvolvimento nacional. Mas há outra ala, que desapareceu, porque reprimiu duramente o golpe depois, e hoje não há uma ala progressista no exército, onde havia até um ou dois oficiais comunistas, mas em geral a ala nacionalista a favor da autodefesa. Participou ativamente da campanha Petróleo é Nosso, pela criação da Petrobras, e fez parte do maravilhoso movimento popular nacionalista que existiu até o golpe de Estado e foi derrotado pelo golpe de Estado.
Eliane: Havia um exército progressista até entre os generais, mas o cenário se espalhou mesmo entre os de baixa patente. Com baixos salários, condições precárias de funcionamento e sem direito a voto, tornaram-se insubordinados. E o envolvimento de Jango nessa organização ajudou a impulsionar o golpe.
SUMAIA: E falando em exército e comunismo, aqui temos que dizer que havia, sim, comunistas que apoiavam as reformas de base. Um exemplo que une esses dois mundos é Luiz Carlos Prestes, a figura quase mítica da história brasileira que pressionou o governo Goulart. da esquerda. Mas esse fato está longe de indicar que há uma grande influência dos comunistas no governo.
ELIANE: Como aponta Rodrigo Patto: Goulart nunca foi comunista.
RODRIGO PATTO: João Goulart, político trabalhista, da escola Getúlio Vargas, que é a favor da distribuição de um pouco de renda, da melhoria dos salários, dos direitos dos trabalhadores. . .
SUMAIA: Patto continua a comunicar sobre o perfil de Janpass em nosso próximo episódio. Será hora de voltar um pouco mais para lembrar: o golpe de Estado começou em 13 de março, no comício da Central do Brasil, e as reformas de base eram novas.
ELIANE: E se a esquerda se une nas ruas para proteger o projeto, a direita reage e conta como linha de frente da mobilização popular conservadora.
TRECHO DA CONVOCAÇÃO DA MARCHA: Mulheres de São Paulo, de todas as religiões e nacionalidades, são convidadas a participar da Marcha da Família com Deus pela Liberdade
SUMAIA: É o golpe de Estado que disputa a preferência.
ROTA ?
ELIANE: Futuro Soterrado é a primeira temporada do podcast Perdas e Danos. É produzido pela Radioagência Nacional, veículo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
SUMAIA: Hoje um lançamento especial, para comemorar a data do golpe. Para os próximos episódios, nosso encontro está agendado todas as quintas-feiras. O momento sai no dia 11 de abril.
ELIANE: Então salve nosso perfil e não use a ferramenta de pontuação da plataforma se você gostou do que ouviu até agora. Está nos ajudando a ter sucesso em mais pessoas.
SUMAIA: Este podcast é criado e narrado por Eliane Gonçalves e Sumaia Villela. A programação da primeira temporada foi desenhada por Eliane. Sumaia concebeu a segunda temporada.
ELIANE: Nossa colaboração continua em todas as etapas do projeto: pesquisa antiga, produção, entrevistas, roteiro, edição e pós-produção em geral.
SUMAIA: Contamos com a valiosa e cativante participação de Fran de Paula no projeto. Faz produção, entrevistas, holofotes, etc. Estamos juntos, Fran, muito obrigado.
ELIANE: A edição, edição e distribuição nas plataformas são através de Beatriz Arcoverde. Ela também é nossa patrocinadora oficial dos sonhos. Obrigada Bía.
SUMAIA: A identidade sonora do podcast e o desenho de som do episódio foram criados através de Jailton Sodré, a partir de composições graciosamente através do nosso colega Nelson Lin.
ELIANE: O visual e a identidade são desenhados por Caroline Ramos.
SUMAIA: Dilson Santa Fé e Luciano Barroso contam recortes de jornais da época. Os cartazes são lidos por Sayonara Moreno, Guilherme Strozi, Carol Barreto, Lucas Pordeus León, Gésio Passos e Daniel Ito.
ELIANE: A edição libriana do episódio, transmitida no YouTube, feita através da equipe da EBC.
SUMAIA: Utilizamos documentos antigos do acervo da EBC, do Arquivo Nacional e do Senado Federal. Utilizamos trechos de músicas de Tião Carreiro e Pardinho, Gonzaguinha, Jackson do Pandeiro e Baden Powell e Lula Freire na voz de Elizeth Cardoso, todos para fins jornalísticos.
ELIANE: Agradecemos a Bia Aparecida, Lucas Krauss, Denise Assis, Carlos Santana, Sandra Arueira, Jorge Ferreira, Piero Leirner, Paulo Pinto, Nelson Lin, Elaine Cruz e Mara Régia pelos contatos, dados e apoio geral.
SUMAIA: E acima de tudo, obrigado por nos ouvir até agora. Se você pudesse tirar um tempo para nos dizer o que achou do podcast, nós agradeceríamos.
ELIANE: Por favor, deixe uma mensagem no Ouviria@ebc. com. br ou no site ebc. com. br/ouvidoria. Você pode protestar ligando para Libras no telefone (61) 99862-1971.
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Jailton Sodré
Quer saber mais sobre isso? Conheça Caminhos da Reportagem, produzido pela TV Brasil e série de entrevistas da Agência Brasil.
No dia em que o golpe comemora seu aniversário, a Radioagência Nacional lança Futuro Interrompido, primeira temporada do podcast Golpe de 1964: Perte et daños.
Moro é alvo de dois movimentos que recentemente foram tratados em conjunto por meio do Tribunal Eleitoral do Paraná: um pelo PL e outro pelo PT, além do PCdoB e do PV. A sigla acusa o primeiro de julgar abuso de poder econômico, orçamento turbulento e uso vaidoso da mídia na pré-campanha presidencial.
Não é fácil para os trabalhadores ter alterações salariais que reflitam a inflação dos últimos anos, que varia entre os 22 e os 34 por cento, uma reestruturação das carreiras e a revogação de regulamentos aprovados por governos passados.
O festival acontece na comunidade do Bixiga, em São Paulo, todos os finais de semana de agosto; E é lembrado pela farta comida típica italiana vendida nas barracas.
Organizada por meio de organizações que lutam por memória, fatos e justiça, a ocasião “60 Anos de Golpe: A Ditadura Nunca Mais” reuniu partidos políticos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil.
A Enel, em São Paulo, é alvo de processos judiciais por falhas no serviço da fonte de energia elétrica. O procedimento pode, inclusive, levar ao cancelamento da concessão da Enel.