RESENHA: Thiago Carpini e o portal

Você está na edição Brasil. Para as edições de outras regiões, clique aqui.

O portal em movimento foi originalmente uma ferramenta da NCAA (o acordo que rege o esporte escolar nos Estados Unidos) para facilitar o processo de estudantes-atletas que queriam se reposicionar nas faculdades. Um gigantesco banco de dados online que permite o procedimento de “contratação” de jogadores de outros esportes para se posicionarem de forma mais eficaz e transparente. Quando foi lançado, em 2018, seus criadores talvez não imaginassem que o futebol brasileiro já havia idealizado um mecanismo semelhante, voltado a colocar treinadores de volta no mercado, obedecendo às forças que normalmente regem a disrupção de elencos nos clubes do país.

Além de todo o conteúdo da ESPN, com o Combo você obtém o melhor entretenimento produtivo das franquias mais amadas da Star e da Disney. Assine já!

O portal de mudanças nacionais é como um elevador com portas dos dois lados, uma com acesso ao clube e outra com vista para a rua, onde um treinador prestes a ser liberado passa seus últimos dias no cargo. É uma espécie de vazio profissional, uma zona de quarentena, reservada a treinadores cujo prestígio laboral é, voluntariamente, frágil. Quando um técnico passa pela porta, a porta dos fundos se fecha e a abertura da porta da frente, que provoca o disparo, torna-se questão de tempo. Não há o que fazer. São pouquíssimos os casos de treinadores que viram a porta dos fundos aberta novamente, quase devido a uma combinação específica de fatores: 1) nenhuma substituição viável foi encontrada e 2) a funcionalidade do equipamento avançou drasticamente enquanto o profissional estava no portal.

Thiago Carpini está parado desde o campeonato estadual, quando o São Paulo iniciou uma trajetória descendente que não foi resolvida após o início da Copa Libertadores e do Campeonato Brasileiro. A arquibancada real já deu seu veredito, assim como a arquibancada virtual. A ajuda dos jogadores ajuda a mantê-lo no lugar, o que geralmente só atrasa a abertura da segunda porta. Quando a equipe tem que salvar o emprego do treinador, a decisão de demiti-lo já foi tomada. Demoram a anunciá-lo, geralmente depois de um resultado frustrante, quando os chapéus mais sensatos aparecem com expressões de consternação e dizem que foram forçados a fazer o que não esperavam. Obviamente, qualquer um precisa disso.

Na semana passada, Julio Casares atualizou a gestão de Carpini no portal com palavras oficiais, antes da vitória por 2 a 0 sobre o Cobresal: “A notícia de hoje é que o Carpini é o treinador do São Paulo, com o nosso e dos atletas”. A tradução é que a porta da rua ainda não se abriu, cenário que permanece insubstituível após a derrota contra o Fortaleza. Se o presidente do clube aborda a morte de Carpini em boletins diários, como faria com um paciente em terapia intensiva, é escandaloso que o cenário possa mudar a qualquer momento. Conta-se que o treinador – mais um que não conseguiu vencer o Fortaleza enquanto esteve em São Paulo, como aconteceu com Rogério Ceni e Dorival Júnior – já detectou outro hábito de seus superiores, minimizando-o com o chamado “tratamento silencioso”, que demonstra o perfeito isolamento acústico do portão móvel.

Como já aconteceu e acontecerá com a grande maioria de seus companheiros, Carpini está sozinho no portal. As pessoas que o contrataram há menos de 20 jogos evitam atacá-lo, sabendo que devem fazer companhia a ele, não por solidariedade. É assim que funciona a fórmula que apresenta os treinadores de futebol como os únicos culpados pelo que corre mal. Mais cedo ou mais tarde, a porta do momento se abrirá, devolvendo-o ao mercado de trabalho como um coach mais experiente, mais familiarizado com “os processos”. e ciente de que passar pelo portal de mudanças é o destino inevitável de quem opta por treinar no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *