Violência contra jornalistas na Amazônia, diz relatório

Nesta terça-feira, o Instituto Vladimir Herzog divulgou o relatório “Fronteiras da Informação”, que traça um quadro de ataques e intimidações contra comunicadores e caçadores de notícias. No símbolo acima, caçadores de notícias participam de convenção de governos e lideranças indígenas em Boa Vista, Roraima (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real).

Manaus (AM) – Nos últimos dez anos, a Amazônia Legal registrou 230 casos de violência contra jornalistas. É como se nesse período, de janeiro a janeiro, houvesse pelo menos duas gravações desse tipo de agressão. Na prática, essa é uma forma de intimidação aos comunicadores da região quando abrangem, entre outros temas, garimpo ilegal, extração de madeira, expansão agrícola descontrolada, tráfico de drogas e crimes de feminicídio e violência de gênero.

Veja o caso da política midiática sobre o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (YTI) de Roraima. A crise humanitária já era evidente quando uma comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou em Boa Vista e no próprio Tiy para ajudar as populações indígenas. Quando chegam ao estado, percebem uma complexa conspiração que atinge tanto o campo político quanto o econômico. Acabar com a mineração de ouro não seria tão simples, pois, na realidade, esse cenário ainda persiste.

“Lidar com esse fator é complicado, pois um componente gigante da economia do estado gira em torno do setor de mineração. Percebemos que as outras pessoas ao nosso redor, diariamente, estão direta ou indiretamente ligadas a alguém que pratica essa atividade criminosa”, disse o jornalista Felipe Medeiros, que faz reportagens multimídia independentes para agências e jornais e colabora com a Amazônia. O garimpo ilegal de ouro já ganhou declarações públicas do governador Antônio Denarium (PP).

Medeiros é um dos profissionais de comunicação abordados no documento Fronteiras da Informação – Reportagem sobre Jornalismo e Violência na Amazônia, produzido pelo Instituto Vladimir Herzog e que será apresentado em evento aberto nesta terça-feira (23), na Universidade Federal. O estudo, que é um retrato do cenário dos jornalistas na Amazônia, registra e mapeia o cenário dos jornalistas e comunicadores, atestando que a região vive uma onda de conflitos e crimes que afetam diretamente a mídia. Profissionais.

O colaborador da Amazônia Real é obrigado a adotar medidas de segurança após a tragédia Yanomami. Sua política de mídia, focada na mineração ilegal e no desmatamento no extremo norte do país, aborda questões sensíveis que tendem a causar agitação. Emily Costa, que colaborou com a Amazônia Real e trabalhou para outros veículos de comunicação, foi obrigada a deixar Roraima por se sentir exposta e desprotegida.

Não é surpresa que essa situação de violência e ameaças não tenha mudado drasticamente desde o brutal assassinato do indígena Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, em 2022, na região indígena Vale do Javari, no Amazonas. Exemplos não faltam para demonstrar o espírito conflituoso de quem pratica jornalismo na região amazônica, segundo reportagem do Fronteiras da Informação. Em 11 de novembro de 2022, a sede do jornal Rondônia ao Vivo foi metralhada.

Jornalistas, lideranças e outros ativistas ambientais acabam sofrendo as consequências, como evidenciado por conflitos mais recentes, como o do Txai Suruí, que cercou agricultores em maio do ano passado. Ainda em 2023, o comunicador Darlon Neres denunciou a extração ilegal de madeira em Lago Grande, Santarém (PA), e a obrigatoriedade de deixar a Amazônia.

Entre os estados da Amazônia Legal, o Pará se destaca como o mais violento, com 89 dos 230 casos registrados nos últimos dez anos. Está bem à frente do Amazonas (com 38 casos), Mato Grosso (31) e Rondônia (20). ). Outro dado impressionante é o número de ações movidas contra os bloodhounds em 2022, ano das últimas eleições no Brasil. Foram 249 processos, 14% a mais do que em 2018. In nesse sentido, o Amazonas é o campeão com 268 processos, seguido por Mato Grosso (129), Rondônia (128), Maranhão (107) e Pará (102).

No relatório sobre a Amazônia Legal, o Instituto Vladimir Herzog apresenta recomendações ao Estado brasileiro e dicas de proteção para os profissionais de comunicação. De acordo com Giuliano Galli, coordenador de jornalismo e liberdade de expressão do instituto, a atividade dos bloodhounds na região norte é permeada principalmente por diversos assuntos, alguns diretos e outros indiretos.

O enfraquecimento das políticas de cobertura ambiental no governo de Jair Bolsonaro (PL) não só tem dificultado a fiscalização dos agentes públicos, acrescenta Galli, como tem gerado “gravíssimos problemas sociais e econômicos, que exigem uma atuação plena e rápida sobre o componente do Estado brasileiro”.

Em janeiro, o Instituto Vladimir Herzog publicou o Relatório sobre a Violência contra Jornalistas e a Liberdade de Imprensa no Brasil, denunciando a destruição planejada de símbolos de jornalistas aos olhos do público. “O ciclo de Bolsonaro como presidente da República, uma era em que a violência contra jornalistas é institucionalizada, através da presidência da República, com a prática sistemática de desacreditar a imprensa e atacar seus profissionais”, disseram Samira de Castro, presidente do instituto, e Maria José Braga na ocasião. Secretário de Relações Internacionais e Editor do Relatório.

O relatório de janeiro deu algum alento aos profissionais de imprensa da região norte. No ano passado, a região voltou a ser a menos violenta para jornalistas. Foram 19 episódios de violência, parte dos 38 casos ocorridos no ano passado. É o estado mais violento da região, com 10 casos, 11 a menos do que os registrados em 2022.

Produzido anualmente a partir do conhecimento acumulado pela Fenaj e sindicatos de jornalistas nos Estados Unidos, o relatório compila processos judiciais de vítimas de violência ou de outros jornalistas. Além disso, são coletados dados publicados por meio da mídia.

Uma das deficiências do documento é a subnotificação, já que nem todos os casos são registrados, seja porque os profissionais têm medo de denunciar à prefeitura ou porque não conhecem os canais para fazer essas denúncias, segundo Maria José Braga, presidente da Fenaj.

A jornalista Elaíze Farias, cofundadora da Amazônia Real, que tem sido alvo de diversas ameaças desde que ajudou a criar a empresa, em 2013, observa que os bloodhounds são vulneráveis na região amazônica. Essa vulnerabilidade é agravada pela geografia do terreno. o que exige longas viagens por espaços com pouca ou nenhuma estrutura estatal.

“As equipes criminosas se espalharam, são descobertas nas fronteiras e principalmente nos espaços onde se encontram quilombolas, outros indígenas e cidadãos locais. Ao longo do rio Amazonas, no rio Solimões. . . Chama-se narcogarimpo”, disse Elaíze à jornalista Ariene Susuí, do grupo Wapichana, que entrevistou quatro profissionais da Amazon para a reportagem de Vladimir Herzog. Na entrevista, Elaíze revelou que já havia deixado de realizar algumas pesquisas por questões de segurança e pelo aumento dos riscos que a investigação exigiria, especialmente porque os profissionais da Amazônia Real pintam e moram na área.

O cúmulo da falta de confiança na região levou a jornalista a tomar algumas decisões expressas e obrigatórias para garantir sua proteção. “Existe o tráfico urbano de drogas, que a gente vê aqui no contexto de Manaus, que está muito bem abastecido em todos os bairros, há pelo menos dez anos. Acontece que essa presença está aumentando, de acordo com estudos em andamento. Equipes criminosas se espalharam e agora estão sendo descobertas nas fronteiras, principalmente nas regiões quilombolas, indígenas e ribeirinhas”, disse.

Elaíze destaca a importância e a necessidade de adoção de medidas para proteger a política jornalística na Amazônia, como o desenvolvimento de roteiros com locais de atendimento emergencial.

Os casos de restrição à liberdade de imprensa e de circulação de pessoas aumentaram 92,31% no ano passado, segundo a Fenaj. O número de movimentações ou investigações registradas em 2022 aumentou de treze para 25 em 2023. A violência contra sindicatos industriais e seus sindicalistas industriais aumentou de 3 para 11 casos.

Em 2015, em reportagem sobre a falta de água na cidade de Manaus, Elaíze Farias ameaçou acionar a Justiça por meio da empresa responsável pelo abastecimento das famílias. “Eles nos enviaram uma nota extrajudicial, ameaçando nos processar. Naquela época a gente nem tinha advogado, quem nos ajudava era um advogado voluntário. Nós desafiamos e até escrevemos um artigo sobre isso, mas eles nunca avançaram no processo”, disse.

Em 2021, parte de uma reportagem denunciando a troca de vacinas por ouro em Roraima, investigada pela Amazônia Real, em colaboração com a Repórter Brasil, foi retirada do ar por resolução da 2ª Vara Cível de Boa Vista. A resolução recaiu sobre o texto publicado pela Repórter Brasil, que colocou uma faixa preta nos trechos censurados. O relatório foi submetido à censura judicial por 20 dias, até que a resolução fosse suspensa.

“‘Compro tudo’: ouro Yanomami é vendido livremente na Rua do Ouro, em Boa Vista”, relataram as jornalistas Maria Fernanda Ribeiro e Clara Britto sobre o envolvimento de um garçom da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) vacinado contra a covid. – 19 entre os Yanomami. O garçom surpreendeu com a notícia do comércio de ouro na capital, Boa Vista.

Elaíze Farias lembra que pelo menos outras 3 reportagens da Amazônia Real estão sendo processadas e outra está fora do ar por ordem judicial. “Somos mídia independente e o artigo que publicamos está correto, não tem nada de errado, até porque deram assim. “”É tão grande que até a mídia nacional noticiou, eles simplesmente nos processaram”, disse ele. O relatório, que foi censurado em outubro de 2022, afirma que “o iate Amazon Immersion sem permissão”.

O jornalista reflete sobre o território ocupado pelo jornalismo na Amazônia e lembra que a região enfrenta um processo incessante de colonização. Normalmente, grandes interesses econômicos estão por trás disso, com o apoio, omissão ou incentivo de autoridades públicas, governos e políticos locais e regionais. Queremos ampliar nossa visão sobre o que é legal e o que é ilegal, porque até o que é legal é resultado de procedimentos ilegais”, disse.

Após quatro anos marcados por ataques a jornalistas, o governo Lula criou o Observatório Nacional da Violência contra Jornalistas, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Exigência antiga da categoria, não basta ter um canal confiável para registrar denúncias. Segundo Rogério Christofoletti, representante da Universidade Federal de Santa Catarina no Observatório, é fundamental que crimes dessa natureza sejam federalizados. A explicação é óbvia: os detetives ficam desprotegidos se continuarem investigando em suas localidades.

Para garantir a defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, a empresa de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real não obtém recursos públicos, nem recursos de pessoas jurídicas ou jurídicas envolvidas em crimes ambientais, trabalho forçado, violações de direitos humanos e violência contra a mulher. É uma questão de coerência. As doações dos leitores são muito importantes para que possamos produzir mais reportagens sobre a verdade da Amazônia. Agradecemos o apoio de todos. Doe aqui.

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