A libertação reuniu representantes de todas as regiões do Estado, oferecendo uma oportunidade para a africanidade no protagonismo social do Tocantins.
Com a tarefa de construir escolas públicas antirracistas no Tocantins, o Governo do Estado lançou, nesta quinta-feira, 13, a comissão “Poder Afro para combater o racismo nas escolas públicas”. Mais de R$ 20 milhões de recursos do erário público foram investidos na escolarização de trabalhadores e tecidos estruturados para mais de 60 mil escolares nas melhores escolas do Tocantins.
O projeto, desenvolvido por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), foi apresentado por meio do diretor do departamento, professor Fábio Vaz. A meta é alcançar 60 mil alunos e 5,4 mil professores em 325 escolas de primeiro grau, nos 139 municípios do Tocantins.
“O Poder Afro é uma reação do governo estadual ao chamado da Rede Negra e criado com o propósito de transformar espaços escolares em ambientes de combate ao racismo e valorização da história e cultura negra. Temos um governador negro que trabalhou para tornar o Tocantins um estado antirracista. Pela primeira vez temos uma Secretaria de Estado de Povos Indígenas e Tradicionais e hoje apresentamos o Poder Afro, esse programa pioneiro que revolucionou a escolarização no Tocantins”, disse Fábio Vaz.
Com o lançamento do projeto, também começa a formação dos profissionais da educação. Dois dias de aulas acontecerão em Palmas para os trabalhadores das treze Superintendências Regionais de Educação (SRE) do Tocantins. O material estruturado do Minha África Brasileira, que apoia o projeto, já foi distribuído para todos os grupos temporários da rede pública, para que possam iniciar as atividades no atual semestre letivo.
“Esse tecido estruturado será trabalhado por nossos profissionais capacitados no combate ao racismo. Temos o Poder Afro com o ensino médio e precisamos crescer no ano que vem para a escola número um, porque o Tocantins hoje começa uma política de continuidade. com o empoderamento dos nossos profissionais e acadêmicos e isso exige mudanças profundas e sistêmicas, com ações concretas e permanentes”, disse o secretário de Educação.
Treinamento de servidores
Para a educadora Elizabete da Paz Moreira, esse movimento total de conscientização antirracista nos ambientes escolares busca influenciar na valorização da africanidade e no protagonismo social.
“Sou professora, mulher negra, e acredito que o Poder Afro promove a popularidade da comunidade negra, destacando a importância milenar do povo negro para o tecido do nosso país, a beleza negra da identidade negra e subsidiando os profissionais com o ensino. materiais e educação para serem agentes de transformação em nossas escolas”, confidencia a coordenadora do setor de história da Escola Nacional de Tempo Integral Regina Siqueira Campos, em Nova Rosalândia.
Da região sudeste, onde estão localizados alguns quilombolas da rede pública, o professor Reinaldo Mendes de Jesus, técnico em ciências humanas da SRE de Dianópolis, também acredita que o Poder Afro marca uma nova era na escolarização e na história do Tocantins. .
“Recebo com muita alegria essa tarefa, porque o racismo nos assombra e é urgente combatê-lo nas escolas. É conscientizar a população e, quando virar política de Estado, as nossas esperanças se renovam, porque é algo concreto e um processo contínuo”, ressaltou.
Currículo e reconhecimento
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 76,6% da população do Tocantins se declara negra ou mestiça, colocando o estado na nona posição no ranking brasileiro. Nesse cenário, o Poder Afro busca e sistematiza o respeito à identidade. diferenças no contexto escolar.
“Após 21 anos de leis que garantem a formação da cultura e da história afro-brasileira nas escolas, esse continua sendo um desafio para muitos estados. No Tocantins, além de respeitar a lei na implementação do programa e a tarefa político-pedagógica planejada de valorizar a diversidade étnico-racial, estamos criando o Poder Afro e fortalecendo ainda mais a rede negra do Tocantins dentro e fora das nossas escolas”, disse.
Outra ação importante do governo estadual para a cultura e história afro-brasileira é a inclusão do eixo africanidade na segunda edição do Prêmio Escola que Transforma. A iniciativa vai premiar escolas, profissionais e acadêmicos que se destacam por suas práticas formativas e distribuir prêmios de R$ 2 milhões.
“Além de vender e destacar as obras vencedoras, queremos que o eixo africanidade seja replicado em todas as escolas públicas. Somos uma nova geração consciente, autônoma e que valoriza a diversidade”, completou Fábio Vaz.
Painel de Educação Antirracismo
A programação de dois dias do Poder Afro também contou com o painel de educação antirracista, moderado pela superintendente de Políticas Educacionais da Seduc, Márcia Brasileiro, e que reuniu personalidades negras do Tocantins que atuam na conscientização e combate ao racismo no estado. , também com a participação especial do historiador Natanael dos Santos.
Editor e pesquisador no campo da historiografia africana desde 1987, Natanael, que também é coordenador da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, falou sobre a importância do negro na estrutura da história do país. “O fim da escravidão tem apenas 150 anos, mas a escravidão deixou 4 séculos de injustiça. Nossa luta é pela sabedoria de nossas raízes e pela popularidade da riqueza dos povos negros para gerar empoderamento para que o racismo possa ser combatido em todos os tempos da sociedade. , a começar pelas nossas escolas”, disse.
A diretora de Educação Básica da Seduc, Celestina Maria de Souza, destacou a relevância das políticas escolares para o enfrentamento do preconceito racial. “Sou negra e não digo isso porque está na moda, mas porque hoje me reconheço, mas foi assim. “Não é assim. Meu pai era negro moreno, morreu analfabeto, mas foi só quando me tornei mãe que tomei consciência de me posicionar como mulher negra, como educadora, como pesquisadora e, por consequência, de educação pública. Agradeço a Deus por essa oportunidade de ajudar a construir uma sociedade que reconheça a beleza e a riqueza da nossa diversidade”, disse.
A jornalista Maju Cotrim, pesquisadora e líder do ativismo negro no Tocantins, falou sobre a relevância dos movimentos do governo estadual na luta contra o racismo e na valorização da comunidade negra. A Seduc está fazendo história ao abrir as portas das escolas para o combate ao racismo ao instituir 365 dias de conscientização negra nas escolas do Tocantins, e somente na semana de 20 de novembro. O Poder Afro veio para empoderar a comunidade estudantil negra, com valorização e respeito às trajetórias negras, ampliando a autoestima. dos estudantes, dos trabalhadores e da luta contra o racismo”, disse.
O professor Kaled Sulaiman, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), também compartilhou suas experiências, práticas estudantis e estudos no sudeste do Tocantins. Cheguei ao Tocantins em 2008, em Arraias, cidade onde vive cerca de 90% da população é negra. E comecei minha aventura a partir dessa atitude de conhecer e entender a escolarização quilombola, que tem a forma de ativismo. Nesse movimento praticamos que a sabedoria é baseada em práticas e oralidades. Temos muitos confrontos em combate. ” contra o racismo estrutural e a Universidade Federal do Tocantins e a Seduc são parceiras no processo de escolarização das escolas quilombolas, pensando o currículo nessa atitude antirracista, levando em conta o saber plural construído, as peculiaridades e especificidades”, ressaltou.