Atualmente, o Rio Acre registra graus abaixo dos graus gerais para o período. Especialistas explicam os motivos do baixo nível da água.
Pouco mais de dois meses após o Rio Acre, em Rio Branco (AC), atingir o segundo ponto mais alto da história e afetar mais de 70 mil pessoas com enchentes devastadoras, a nascente chegou a 2,52 metros em maio, o menor ponto do mês nos últimos cinco anos. O cenário alerta para a opção de uma estiagem que, segundo especialistas, pode ser esperada e mais comum no curto prazo.
Desde o início deste mês, o principal afluente do estado está abaixo de quatro metros e o governo está preocupado com a possibilidade de uma seca severa em 2024. No dia 30 de maio, a Defesa Civil Municipal marcou 2,52 metros, mais de 15 metros abaixo do nível registrado. no dia 6 de março deste ano, quando a nascente atingiu 17,89 metros e constituiu a maior enchente desde 2015 em Rio Branco.
Para entender o processo de mudanças climáticas que afetam o principal rio do Acre, é necessário entender os seguintes fatores:
Essas questões contribuem para a escassez de chuvas na região. Isso contrasta com o cenário do início do ano, quando a primavera transbordou e o total de chuvas chegou a 438 milímetros.
Antecipando-se a esse fenômeno de estiagem, possivelmente haveria uma ameaça máxima de escassez na capital e até mesmo a opção do Rio Acre “morrer”. Em setembro de 2023, foi declarado estado de emergência em espaços com falta de água. cenário identificado por meio do governo federal nos 22 municípios.
Ao mesmo tempo, cerca de 40% da produção no meio rural foi afetada e o Estado obteve mais de R$ 8 milhões em ajuda para mitigar os efeitos da estiagem.
Ao longo do mês de abril, o ponto do Rio Acre caiu abaixo de sete metros na capital, o ponto mais alto registrado no dia 14, quando atingiu 6,42 metros. Em maio, a nascente passou a medir 4,89 metros e não ultrapassou essa marca até agora. Até o momento, a média antiga para o mês é de 5,63 metros. Além disso, apenas dois dias, nos dias 4 e 5 de maio, chove significativamente.
O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que a vazão do Rio Acre é menor do que no mesmo período de 2023, o que pode ser apenas um sinal de uma seca intensa em 2024. Segundo ele, o Estado está se preparando para o contingenciamento. planos para mitigar os efeitos de uma seca prolongada imaginável.
“Este ano já pedimos a todos os coordenadores municipais os seus planos de emergência contra os incêndios florestais, visando esta seca mais prolongada caso ocorra, para que possamos perceber quais os movimentos que os municípios estão a tomar e vão tomar durante este período”, explicou.
Essa projeção de seca também é prevista pelo professor Foster Brown, pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac) e doutor em ciências ambientais. Ele lembrou que a seca excessiva que atingiu o Acre em 2023 sob a influência do atual ciclo do El Niño.
Tradicionalmente, o fenômeno El Niño ocorre entre períodos de dois a sete anos, causando secas no norte e nordeste do país -e chuvas abaixo da média-, especialmente nas regiões equatoriais máximas; além de causar chuvas excessivas no sudeste e sul do país, como o do Rio Grande do Sul.
Brown também afirma que o aumento das emissões de gases de efeito estufa está envolvido, fazendo com que a temperatura da Terra aumente e acelerando o aquecimento global. Esse desafio ambiental leva a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas.
“Temos o El Niño chegando ao fim, mas também o acúmulo de gases de efeito estufa, que já estão aumentando a temperatura. O meio ambiente tem mais energia, seja por provocar chuvas, como no Rio Grande do Sul, seja por evaporar água, como é o caso da nossa região. Então estamos em uma situação de preocupação, porque o rio é um indicador da água que temos em toda a bacia”, disse.
Também é importante ressaltar que as chuvas na região terão que estar dentro dos limites gerais para que o rio flua em geral, o que não é o caso do Rio Acre. Somente neste mês, até o dia 24 de maio, choveu apenas 54,1 milímetros na capital, contra 108 milímetros.
Saulo Aires de Souza, especialista em regulação de recursos hídricos e saneamento básico da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), explicou que o meio ambiente funciona como um reservatório.
Devido ao aquecimento global, que aumenta a temperatura na Terra, esses “reservatórios” acumulam capacidade de armazenamento de vapor d’água. Quando estão cheias, ocorre o fenômeno da chuva, que neste caso é mais intensa na forma de trovoadas.
No entanto, Souza alerta que, em períodos de pouca pluviosidade, o solo não consegue limpar essa água e ocorre escoamento superficial, o que pode causar alagamentos em áreas urbanas. Sem armazenar essa água no lençol freático, que funciona como um reservatório no solo, não há como “recarregar” o Rio Acre em tempos de estiagem.
“Por outro lado, a água não infiltra e, em determinado ponto, a contribuição do lençol freático começa a diminuir, e o rio fica mais vulnerável quando é submetido a períodos mais secos, porque o componente da água que tem que se infiltrar e, em épocas secas, alimenta os rios, não se infiltra, ele flui”, diz. Essa irregularidade na quantidade de chuvas aumenta a frequência de secas e inundações. Sistemas de grande escala, como o El Niño, acabam servindo como “catalisadores”, acelerando esses eventos climáticos e influenciando as mudanças climáticas.
Àrio Branco, da Defesa Civil Municipal, mostrou que, devido a essa opção de seca “precoce”, um plano emergencial em caso de falta de água está em condições de ser implementado. No entanto, os principais pontos das medidas que fazem parte do plano ainda não foram divulgados.
O ano em que o chafariz apresentou a menor marca antiga foi em setembro de 2022, quando atingiu 1,25 metro. Naquele ano, a ponta do rio já estava abaixo de 4 metros em maio.
O mesmo cenário foi observado em 2016, ano em que ocorreu a segunda pior estiagem. Em maio do mesmo ano, a ponta do rio chegou a 3,75 metros e em 17 de setembro atingiu o ponto mais baixo da história na época: 1,30 metro.
“Este ano, [temos o ponto] muito menos para a temporada. A expectativa é que, se chover nos próximos dias, tenhamos um colapso das águas. Este mês choveu pouco”, explicou o coordenador da organização, tenente-coronel José Glácio Marques de Souza.
O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto do Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, disse que, embora o Rio Acre deva assinar uma cota menor do que em 2022, o município corre para garantir que a água seja de 1,5 quilômetro por segundo, para não comprometer o abastecimento da cidade.
“Até 2024, embora todas as previsões apontem para uma das secas mais severas dos últimos anos, o Saerb promete manter sua nascente no Rio Branco, em caso de colapso geral do Rio Acre. “Adicionado. .
Essa falta de regularidade nas chuvas faz com que o processo de evaporação e precipitação da água também seja afetado. O investigador da ANA adiantou que estudos realizados pela empresa mostram que, numa situação estimada para 2040, foi alcançada uma redução média de 40% na disponibilidade hídrica. identificou, basicamente, na bacia amazônica, e que o número de dias secos mais que dobraria.
“Isso implica em condições em que, além da quantidade geral de água que temos, que será reduzida, parte dessa redução será devido a essas secas, ou seja, quando há condições de chuva muito abaixo da média. E o que estimamos é que será cada vez mais frequente”, acrescentou, segundo Souza, um estudo é necessário para avaliar o grau de intermitência do manancial, já que o que determina a “morte” de um rio é o aumento da temperatura. perenes (rios que “correm” o ano todo) a intermitentes (rios que secam completamente durante um determinado período).
No caso do Rio Acre, dependendo da perspectiva, há uma ameaça de que esses graus de intermitência se acumulem. Ou seja, o número de vezes que o rio pode ter condições de seca pode ser maior.
“Não há evidências de cenários que possam acontecer, mas isso não significa que possa não acontecer. Eu diria que é muito cedo para falar sobre esse grau de intermitência, o que não significa que não tenhamos problemas muito sérios. distúrbios como essa seca que estamos vivendo”, ressaltou.
Essa imagem refletida é compartilhada pelo pesquisador em ciências ambientais da UFAC. Brown também comenta que o desmatamento é um fator primordial, pois afeta o solo, a qualidade do ar e também o transporte de água.
“As previsões que temos do Instituto Internacional de Pesquisa dão a entender que para os próximos meses teremos chuvas abaixo do normal. Ou seja, se a previsão for boa, teremos menos água e é justamente quando entraremos no período seco. . Estamos caminhando para o início do verão”, diz. *Por Renato Menezes, do G1 Acre.