Qual o significado da tragédia no Rio Grande do Sul?

Você provavelmente já leu ou ouviu falar que nenhum brasileiro ganhou o Prêmio Nobel. Isso não é totalmente verdade. Em 2007, o meteorologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Grupo Científico da Amazônia, integrou a equipe de cientistas estrangeiros ganhadores do Prêmio Nobel da Paz.

Junto com o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, pesquisadores do IPCC (Painel de Especialistas em Mudanças Climáticas da ONU) foram recompensados por seu papel na prevenção dos perigos do aquecimento e na luta pela manutenção do meio ambiente.

Além disso, ela é membro do grupo Guardiões Planetários, que reúne pesquisadores e ativistas para estudos e pesquisas sobre ação climática e cobertura de comunidades vulneráveis.  

Portanto, não há ninguém maior do que uma referência mundial em estudos meteorológicos para elucidar o que explica a tragédia do Rio Grande do Sul.  

Em entrevista ao Olhar Digital News na noite desta terça-feira, Nobre foi didático ao descrever a situação. De que adianta um planeta mais quente?Todos os oceanos, por exemplo, sofreram temperaturas recordes em 2023 e 2024, especialmente a partir de maio. no ano passado. Nunca desde a última era interglacial os oceanos estiveram tão quentes. À medida que o oceano aquece, muito mais água evapora. Quando a temperatura da superfície do oceano sobe de 26,5°C para 27°C, a evaporação é muito alta. O combustível para a chuva é o vapor d’água. Então, quando há mais vapor d’água na atmosfera, e então há um fenômeno climático que causa chuva, essa chuva será mais intensa. E em muitos lugares, quando chove muito, causa, em outros lugares, uma seca muito grave.  

Segundo Nobre, quase todos esses eventos excessivos são eventos atmosféricos e oceânicos naturais, no sentido de que existem em nosso planeta há milhões e milhões de anos “Mas à medida que o planeta aquece, esses fenômenos tornam-se mais intensos e sem “in”. além da chuva mais forte da história do Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2023, na cidade de São Sebastião (SP), tivemos a chuva mais forte em 24 horas da história do Brasil (600 mm)”.

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O climatologista acredita que há novos excessos que nunca aconteceram antes e que se devem ao aquecimento global, “mas quase todos eles são feitos de eventos que sempre aconteceram, agora, com uma atmosfera mais quente, oceanos mais quentes”. Vapor de água: essas ocasiões estão se tornando cada vez mais poderosas. Mais excessivo.  

Nobre cita como exemplo o que vem acontecendo ultimamente na cidade de Santos, no litoral de São Paulo: “Choveu, em 24 horas, 121 mm. Chuvas como essa eram muito raras até décadas atrás. Hoje, não é um fenômeno climático incomum.  

Assim, segundo ele, foi o que aconteceu no Rio Grande do Sul. “Existe uma fórmula de chuva muito comum no Hemisfério Sul que chamamos de ondas de Rossby (ondas atmosféricas que combinam ar frio subpolar com ar subtropical quente). Ela existe há muitos milhões de anos. E o que está acontecendo agora é que raramente há pico de pressão no Oceano Pacífico, e ele permanece lá. Portanto, mantém baixa pressão no leste da América do Sul e máxima no norte. A tensão superior foi bloqueada, por isso não deixou escapar a depressão que a frente sem sangue está causando. Essa foi a causa da chuva.  

Nobre continua: “Essa cepa de topo bloqueada sobre o Centro-Oeste causou uma aceleração abundante na umidade da Amazônia, que chamamos de rios voadores. No entanto, essa tensão superior bloqueada tornou esses rios voadores ainda maiores, carregando mais vapor de água, o que alimentou a chuva. Sistemas. Essa mesma tensão alta sobre o Centro-Oeste trouxe tempo seco e quente para aquela região e para o Sudeste.  

O climatologista reforça que esses são fenômenos meteorológicos que sempre existiram, há milhões de anos. “Mas agora, com o planeta mais quente, todos esses fenômenos são mais intensos e até recordes. ” 

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com especialização em gramática. Trabalhou como conselheira parlamentar, proponente e freelancer para a revista Veja e para a antiga OiLondon, na Inglaterra.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, com especialidade em redes sociais e tecnologia.

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