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08/12/2024 02:00, atualizado em 08/12/2024 02:00
A cidade de Sorriso, no Mato Grosso, tem se destacado nos últimos anos como pólo do agronegócio, com acúmulo de riquezas e crescimento. Mas isto tem sido acompanhado por um aumento da violência, especialmente da violação.
O município de Mato Grosso encabeça a lista de localidades brasileiras com taxa de estupros e estupros de pessoas vulneráveis, que atingiu uma taxa de 113,9 estupros por cem mil habitantes em 2023. O conhecimento é do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no mês passado.
Pelo menos dois casos desse tipo chegam semanalmente à Delegacia de Polícia Civil de Sorriso. A demanda é tanta que foi criada uma filial dentro do estabelecimento exclusivamente para investigar investigações de crimes sexuais contra jovens e adolescentes.
No ano passado, Sorriso foi marcado por um crime bárbaro de estupro. O pedreiro Gilberto Rodrigues dos Anjos, de 32 anos, invadiu a casa de alguns parentes e matou as quatro mulheres e as mulheres que estavam lá dentro.
Além dos assassinatos, 3 das vítimas apresentaram sintomas de abuso sexual. Cleci Calvi Cardoso, 46, Miliane Calvi Cardoso, 19, Manuela Calvi Cardoso, 13, e Melissa Calvi Cardoso, 10, morreram. Eles eram uma mãe e 3 filhas.
O crime chocou o país e provocou muita indignação, especialmente porque Gilberto era um foragido com dois mandados de prisão notáveis: um por estupro no Mato Grosso e outro por roubo em Goiás.
Mas, horrível, o massacre da família de Calvi Cardoso é uma exceção no mundo dos estupros e violações de pessoas vulneráveis em Sorriso e no resto do país.
“O perfil conhecido em Sorriso é o que se repete em todo o Brasil, do agressor como uma ‘pessoa boa’, estruturada no círculo de parentes, que exerce uma hierarquia e age em silêncio, assustando sua vítima. O agressor está em casa, na casa de parentes”, explica a delegada Jannira Laranjeira, que viajou de Cuiabá a Sorriso para acompanhar de perto a situação.
A maioria das vítimas de estupro no Brasil são mulheres (88,2%) e crianças menores de 14 anos (61,6%). Entre os afetados até treze anos de idade, em 64% dos casos os agressores são parentes e em 22,4% são conhecidos da criança.
Jannira ressalta ainda que há um desafio estrutural dentro da polícia civil, que direciona seus esforços investigativos apenas para casos de crimes contra o patrimônio e contra organizações criminosas, negligenciando os crimes que ocorrem no ambiente interno.
“Vivemos num Estado estruturalmente sexista. Quem defende a repressão dentro da polícia são os homens. E a prioridade é lidar com o círculo familiar e os crimes domésticos ou abordar a criminalidade concertada e os crimes contra o património? comunidades familiares, adolescentes e crianças”, afirma a delegada, também especialista em segurança pública e combate à violência doméstica e familiar contra a mulher.
Em entrevista à rádio local RBT News em maio, a delegada Jéssica Assis, que trabalha em Sorriso, mostrou que as denúncias de estupro contra crianças menores de 14 anos são muito superiores a outros tipos de crimes sexuais.
“Costumo dizer que uma Polícia Civil que se orgulha de ter pouco conhecimento (pouco conhecimento de registro de ocorrências e investigações policiais) é uma Polícia Civil que funciona mal. Uma Polícia Civil que funciona bem tem conhecimentos que raramente entram em conflito, porque isso significa que o investigação está em andamento e que a polícia consegue ter capilaridade para ter contato com a população e aceitar como verdade que as solicitações cheguem”, relatou o delegado na entrevista.
Aliás, o delegado que chegou ao município em 2021 participa constantemente de transmissões de rádio e das atividades das escolas de Sorriso, falando sobre abusos sexuais de jovens e adolescentes.
Em Junho do ano passado, por exemplo, um homem de 58 anos foi detido como medida de precaução na sequência de alegações de abuso sexual de meninas mais velhas de 7, 11 e 12 anos, sobrinhas da sua esposa. O agressor abusou das sobrinhas à noite, quando as três foram dormir na casa da tia.
Em janeiro deste ano, um homem de 37 anos foi preso sob a acusação de estuprar uma mulher vulnerável contra a filha de sua parceira, a quem ele também agrediu fisicamente.
Não é apenas por causa da taxa de estupro que Sorriso se destacou nas estatísticas criminais. O município também parece ser o quarto com a taxa de mortes violentas intencionais, que são acompanhadas por homicídios, roubos e mortes por intervenção policial.
Só em 2023, ocorreram 86 mortes violentas intencionais em Sorriso, com aumento de 10,3% até 2022.
Isto ocorre num contexto de forte expansão da cidade, que registrou um aumento de sua população de 66,73% em pouco mais de uma década, atingindo 110,6 mil habitantes.
“Hoje, a cidade não é apenas um polo de geração e agronegócio, do ponto de vista monetário. Também atraiu os males da sociedade, que são o crime organizado, as facções e a pobreza. E onde houver crime organizado, haverá homicídios e crimes bárbaros”, disse a delegada Jannira.
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