O bilionário nigeriano Tonye Cole, de 57 anos, disse em entrevista ao La Chronique que relatórios de sucesso no Brasil, como o PIX do Banco Central, e uma parceria com o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), no Senai, El Salvador, podem ser úteis para promover o progresso na Nigéria. Entre os principais obstáculos às relações entre os dois países, ele cita a falta de voos diretos e a necessidade de a Nigéria, que já ultrapassou a África do Sul como a maior economia da África, se inscrever em equipes como os BRICS e o G20.
Cole fez fortuna em seu país trabalhando no setor de petróleo e combustíveis e disse que só entrou no setor por meio de suas pinturas no Brasil no início dos anos 1990. Mais de 3 décadas depois, entre julho e agosto deste ano, voltou ao Brasil em busca de projetos e conceitos para levar de volta ao seu país de origem.
Cofundador do Sahara Group, que fatura cerca de US$ 11 bilhões por ano e opera em 40 países, Cole deixou a empresa em 2018 para seguir a política. Ele concorreu naquele ano e em 2022 para governador do estado de Rivers, o mais rico dos 36 estados da Nigéria. Sem fortuna eleitoral e bem aposentado dos negócios, Tonye Cole viajou pelo mundo em busca de respostas para o progresso de seu país com a alegria de ter estudado controle e políticas públicas em duas escolas primárias – Harvard Business School, em 2014, e Blavatnik School of Government, Oxford, em 2019 e 2020. É pastor da Igreja Cristã Redimida de Deus, a maior igreja evangélica da Nigéria e uma das maiores do mundo, com presença em 196 países, incluindo o Brasil.
Entre seus compromissos em Brasília, Cole visitou a Embaixada da Nigéria e os Ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Trabalho e Emprego (MTE), acompanhado pelos advogados Layla Abdo e Matheus Puppe. Em Salvador, visitou o Cimatec acompanhado do advogado Zilan Costa e Silva. Em seguida, conheceu uma das principais figuras da Bahia, o navegador Aleixo Belov, o primeiro brasileiro a circunavegar o mundo, sozinho, em um veleiro. Em Goiânia visitou dois arquitetos que influenciaram sua carreira na arquitetura e no empreendedorismo: Manoel Balbino e Luiz Fernando Teixiera. Em Belém visitou a sede da Igreja do Evangelho Quadrangular. Abaixo estão trechos da entrevista:
Quando você esteve no Brasil, em quais cidades e o que você fez?
Tonye Cole – Em 1986, meu pai, Patrick Dele Cole, foi nomeado embaixador da Nigéria no Brasil. Eu era estudante do segundo ano de arquitetura na Universidade de Lagos, na Nigéria, então fiquei lá para terminar meus estudos. Após me formar em 1990, viajei para o Brasil e comecei a trabalhar no Grupo Quattro, empresa de arquitetura e urbanismo de Goiânia. Trabalhei lá até 1992, quando voltei para a Nigéria.
O Grupo Quattro é o culpado pelo planejamento urbano de Palmas, capital do recém-criado Tocantins. Como jovem arquiteto, foi uma experiência memorável testemunhar o nascimento e a estrutura de uma nova cidade. Trabalhar e passar meses em Palmas como parte da equipe de arquitetos que projetou e supervisionou a estrutura do Tribunal de Contas e do Tribunal de Justiça é memorável para mim.
Hoje você está de volta ao Brasil depois de mais de 30 anos. Quais as principais diferenças entre o Brasil e hoje?
Tonye Cole – Existem várias diferenças entre o Brasil que eu conhecia na época e o que vejo hoje. Alguns são positivos, outros são negativos. Em 1986, cheguei ao Brasil em uma época de hiperinflação, que foi um dos momentos mais estranhos da minha vida. Se você entrasse em uma loja hoje e não comprasse o item que queria, o valor seria perdido no dia seguinte. Felizmente, o Brasil de hoje triunfou sobre a hiperinflação. Como a maioria dos outros países do mundo na época, a geração não desempenhou um papel significativo no cotidiano dos cidadãos brasileiros. No entanto, descobri recentemente um conceito de pagamento chamado PIX. O mais notável é que é uma iniciativa liderada pelo Banco Central e tão profundamente enraizada em todos os níveis sociais que já vi moradores de rua pedirem ajuda financeira mostrando seu PIX em cartazes de papelão.
Mas também observei que as desigualdades continuam significativas e mais pronunciadas entre as regiões do país. Além disso, os valores imobiliários aumentaram significativamente. Dirigindo de Brasília para Goiânia, percebi imediatamente que o horizonte de Goiânia havia mudado drasticamente. O número de arranha-céus é muito maior do que me lembro.
Também descobri nesta viagem um ponto imprevisto de intolerância política. Pelo que ouvi, a política de extrema esquerda ou extrema direita separa famílias e quebra amizades de longa data. Disseram-me até que qualquer um que tente permanecer no centro corre o risco de desperdiçar toda a relevância política.
Como foi a transição de arquiteto para fundador da maior empresa de eletricidade da África?
Tonye Cole: Minha formação como arquiteto me preparou para liderança empresarial porque fui treinado para trabalhar em equipe e depois liderá-la. Em 1992, o meu pai concorreu à presidência da Nigéria e eu voltei para casa para a sua campanha. O exército cancelou as eleições e eu estava pensando no que mereço fazer da vida quando recebi uma ligação do Brasil, da EMSA (Empresa Sul-Americana de Montagens S. A. ), a maior empresa de engenharia de Goiás e Tocantins e a sétima do Brasil . . O Brasil da época, que havia ganhado uma missão financiada pelo Banco Mundial na Nigéria e precisava de um representante no país com integridade verificável, capacidade de falar português e referências inteligentes. A EMSA nunca tinha trabalhado na Nigéria e não dispunha de uma rede profunda de outras pessoas em quem pudesse confiar para localizar esta pessoa. A pintura representou uma renovação da sua carreira como arquiteto, mas apresentou novas situações exigentes e novos aprendizados. Tenho estado profundamente preocupado com a progressão dos negócios na Nigéria e na África Ocidental, recursos humanos e recrutamento, contabilidade fundamental, gestão do local de trabalho e gestão do corpo de pintores nigerianos. Também atuei como elo de ligação entre reguladores corporativos e governamentais. Trabalhei na EMSA de 1993 a 1996, quando a empresa decidiu retirar-se da Nigéria. Mas trabalhar lá me permitiu adquirir conhecimentos valiosos sobre as operações de uma empresa estrangeira e interagir com outras pessoas de outros países. Isso provou ser muito valioso quando fundei minha empresa em 1996.
A Nigéria ultrapassou a África do Sul como a maior economia da África, mas é membro do G20 ou BRICS. Juntar-se a essas equipes seria positivo para a Nigéria?
Tonye Cole – A Nigéria é tradicionalmente uma das nações mais vitais e mais difíceis de África. O país desempenhou um papel fundamental no colapso do apartheid na África do Sul, na libertação da Rodésia (actual Zimbabué) e na estabilização dos governos democráticos no Ocidente. África através de intervenções diplomáticas e militares, incluindo a repressão de um golpe de Estado em São Tomé e Príncipe, bem como a chave para acabar com as guerras civis na Libéria e na Serra Leoa. A exclusão da Nigéria do G20 e dos BRICS não é razoável. A participação da Nigéria no G20, especialmente entre os países do BRICS, trará vantagens tanto para o Brasil quanto para os demais membros do G20. A Nigéria traz uma forte influência em termos de riqueza e população que, se bem utilizada, dará aos BRICS maior força de negociação e influência no G20. .
Como o Brasil poderia tirar proveito de um relacionamento mais forte com a Nigéria?
Tonye Cole – Brasil e Nigéria apresentam muitas semelhanças e pinturas em maior combinação. Os dois países têm semelhanças históricas, culturais, políticas, geográficas, ecológicas e econômicas que querem ser totalmente exploradas. Certa vez, visitei Salvador com meu pai, quando ele era embaixador no Brasil. Fiquei surpreso que o Brasil tenha preservado grande parte de sua herança cultural, acrescentando características da língua iorubá (um dos principais dialetos da Nigéria). Por exemplo, especialidades culinárias como acarajé também não são incomuns na Nigéria, com uma chamada iorubá semelhante “acara”, enquanto “je” significa “comer” em iorubá. Ao todo, “acarajé” significa comer acará.
O Brasil pode obter grandes vantagens com o acesso da Nigéria ao mercado africano por meio da Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA). A China já está colhendo vantagens da AfCFTA no continente. O Brasil e a Nigéria, com seus abundantes recursos fitoterápicos e minerais, têm o potencial de remodelar a forma como esses recursos são valorizados e comercializados globalmente. Uma parte maior da cadeia de preços terá que permanecer nos países geradores, mas nem o Brasil nem a Nigéria podem proteger esse debate sozinhos. Queremos que todos os outros façam isso para alcançá-lo. O Brasil quer abordar o fator de exploração sustentável de pedras e aços valiosos. Além disso, com o aumento do contrabando de aço e pedras, ambos os países estão desperdiçando o preço intrínseco de seus recursos com traficantes e países receptores.
Você vê algum projeto ou relatório no Brasil que possa ser implementado na Nigéria para promover o desenvolvimento?
Tonye Cole – Com certeza. Uma das tecnologias mais inesperadas que descobri no Brasil foi o PIX. O que me intrigou foi que era um programa liderado pelo banco central que priorizava os interesses do povo. A implementação de um PIX na Nigéria teria um efeito significativo na crescente indústria de fintech do país, que já atrai a maior porcentagem de investimento estrangeiro direto (IED) na África.
Durante minha escala no CIMATEC em Salvador, senti-me incrivelmente inspirado e positivo sobre as perspectivas da Nigéria de obter grandes benefícios da colaboração em P&D em áreas semelhantes. Criar um instituto irmão na Nigéria para colaborar com o CIMATEC Brasil é um conceito que gostaria de ver concretizado.
Ao longo dos anos, o Brasil controlou a atração de turistas para suas praias, carnavais e a Amazônia. A Nigéria pode aproveitar o marketing justo do Brasil como destino turístico. A Nigéria tem vários espaços fitoterápicos e ecológicos semelhantes ao Brasil, e os dois países podem expandir conjuntamente os tecidos de marketing que aumentarão o tráfego turístico. O progresso agrícola do Brasil é incrível e, dada a abundância de terras aráveis da Nigéria, a produtividade agrícola e a segurança alimentar por meio das exportações são muito importantes para a Nigéria.
Tanto o Brasil quanto a Nigéria notaram um aumento nas populações protestantes nas últimas décadas. Você vê paralelos entre os dois países em termos de religião?
Tonye Cole – A religião prospera em espaços onde outras pessoas procuram respostas que o governo e os seus líderes não podem fornecer. Você perceberá uma ligação entre pobreza, depressão e religião, que à primeira vista pode parecer negativa, mas na verdade é uma reação obrigatória ao clamor mais profundo da humanidade. A expansão dos movimentos protestantes ou evangélicos na Nigéria e no Brasil deve-se à falta de esperança na acção política destinada a melhorar o bem-estar social e económico dos americanos. Embora tenha havido aparentes abusos em todo o movimento, com falsos pregadores aproveitando-se do desespero dos deficientes e vulneráveis, também tem havido muitas intervenções enérgicas nas denominações protestantes mais autênticas e vocais. testado. Isso levou a um maior prestígio para os fiéis e a uma expansão da graça social para muitos americanos ricos da comunidade. Esta maior consciência e conversão de uma classe social mais elevada na aparência dos países também leva a uma maior interação entre outras pessoas com recursos, que muitas vezes estão do lado das empresas, dos trabalhadores do setor público, que fazem cumprir a legislação e os regulamentos nos países, e a classe política. Isso determina a direção ideológica que o país toma.
Também mais
Abril Comunicações S. A. , CNPJ 44. 597. 052/0001-62 – Todos os direitos reservados.
VER E VOTAR OFERTA