Seca extrema piora na Amazônia indígena

Um estudo mostra que nove em cada dez territórios são afetados por uma seca atípica. O fenómeno é 37% superior ao de julho de 2023 e, afetado pelas condições meteorológicas excessivas, está a aumentar. Há falta de água potável e é difícil o acesso aos alimentos.

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Por Jullie Pereira, no InfoAmazonia

Nove em cada dez terras indígenas (TIs) na Amazônia Legal foram afetadas pela seca em julho deste ano. Dos 388 territórios da região, 358 (92%) enfrentam esse problema, que já afeta o regime das populações indígenas. As comunidades se depararam com a necessidade de buscar água e comida, atravessar rios secos e percorrer longas distâncias a pé.

Esse cenário foi constatado pela InfoAmazonia por meio de uma análise de dados exclusivos obtidos junto ao Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e de entrevistas com indígenas de comunidades afetadas. Em julho do ano passado, 260 TIs foram atingidas, um número 37% menor do que o registrado no mesmo mês de 2024.

Além do aumento do número de territórios afetados pela seca, o desafio também se intensificou. Segundo a classificação do Cemaden (leia mais sobre o método de pesquisa aqui), em julho do ano passado, apenas uma TI foi classificada como “seca extrema”. Este ano, esse número aumentou para 17.

Além disso, 53,6% das TIs (192 no total) foram classificadas como tendo seca severa em julho deste ano, enquanto 41% enfrentam seca leve ou moderada. Em 2023, 73,8% dos territórios (192) encontravam-se em cenário de seca leve ou moderada e 10,3% enfrentavam seca grave (27).

O Amazonas é o estado da Amazônia Legal com o número de terras indígenas em seca, com 146. Em seguida, vêm Mato Grosso, com 68, e Pará, com 55. La TI Cacau do Tarauacá, no município de Envira (AM), a 1. 206 mil quilômetros de Manaus, passaram de um cenário generalizado em julho de 2023 para uma seca excessiva em julho de 2024.  

Os outros Kulina vivem às margens do rio Tarauacá, um triyetário do rio Juruá, mas seus barcos não podem mais navegar. Onde antes havia água, apenas poeira permanece. Eles tentam aproveitar o que resta de um lago para construir uma “armadilha”, cavando um caminho mais profundo e estreito no solo, uma estratégia que usam para tornar a água alta o suficiente para os barcos passarem. Além disso, improvisam pontes com pedaços de madeira, como é para caminhar. sem afundar no solo empoeirado.

“No ano passado, o rio já secou e hoje o rio está secando muito. É muito difícil entrar na cidade, porque o lago é muito seco. Da minha aldeia, leva 40 minutos para chegar ao rio. ” diz o indígena Marcos Kulina.  

Esta complicada moção é o grande desafio face à fome: “Temos um poço que construímos com o nosso dinheiro, juntamos os nossos recursos e, portanto, ainda temos água. não são peixes. ” “Acrescenta Marcos.  

O peixe, um dos principais alimentos da população amazônica, está se tornando cada vez mais escasso. Os indígenas são obrigados a deixar o território a pé e comprar alimentos no município mais próximo. Além disso, a produção agrícola também é severamente afetada, prejudicando a expansão de culturas como mandioca e banana.  

María Cordeiro, conhecida como Mariazinha Baré, é presidente da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam) e diz que o maior medo é abastecer as comunidades mais remotas. “Recebo ligações de parentes que têm dificuldade de locomoção, com comida, água e saúde. Mapeamos e tocamos os líderes”, explica.  

Os nativos que podem caminhar quilômetros até o mercado mais próximo entram em contato com produtos industrializados fora do cardápio clássico. Por isso, a Apiam compra alimentos produzidos em terras indígenas que ainda não sofrem com a seca excessiva na Amazônia. O conceito é redistribuir a produção o máximo possível das comunidades afetadas. De acordo com Mariazinha Baré, isso será feito por meio de uma ação junto à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Estão em andamento negociações com o Ministério Público Federal (MPF).  

“Queremos colocar um preço na soberania alimentar dessas pessoas. Neste momento desafiador de mudanças climáticas, queremos ver como produzir, vender e obter alimentos de qualidade. Como focamos apenas em produtos industrializados, a tendência é de mais doenças e aumento da desnutrição”, explicou o presidente da Apiam.

De acordo com o conhecimento da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), 2. 800 povos indígenas da Amazônia Legal não possuem estrutura de abastecimento de água. Na Amazônia, onde há mais territórios atingidos pela seca, está o Distrito Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões, que tem o pior ponto de abastecimento de água de todo o país. Há outras 32. 500 pessoas que não precisam de um poço ou de um caminhão-tanque para descarregar água.

Beto Fernandes Torres, do povo Tikuna, ensina línguas e literatura e mora na TI Tikuna Feijoal, no município de Benjamín Constant, a 1. 500 quilômetros de Manaus. As terras indígenas são classificadas como secas pelo Cemaden e atendidas pelo Dsei Alto Rio Solimões.  

IT Tikuna Feijoal é um dos casos em que Apiam tenta ajudar a trazer comida. Na verdade, na prática, a locomoção também é quase impossível, segundo Torres, o que causa falta de água e comida. Segundo ele, o horário escolar já foi reduzido, “porque o almoço não chega”: “Na verdade, estamos enfrentando uma seca. Temos dificuldade em chegar à comuna de Benjamin Constant e conseguir comida. Para sair da nossa comunidade, você tem que pegar uma canoa e dois ou três dias.  

Mariazinha Baré, da Apiam, diz que o estado pode já ter iniciado movimentos de prevenção para as comunidades antes da seca, com a implantação de mais poços artesianos e captações de água nas comunidades. “[O estado deveria] identificar as [comunidades] que mais querem e inventariar os alimentos que duram mais, como farinha e tapioca”, diz ele.  

O InfoAmazonia questionou o governo do Amazonas, a Fundação dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) para saber quais movimentos estão tomando diante dos danos causados pela seca aos povos indígenas da Amazônia Legal, ainda não houve reação. adquirida na data de publicação deste relatório.  

A queda na vazão dos rios não é incomum nesta época do ano, caracterizada pela seca (a estação seca no leste da Amazônia geralmente se estende de julho a outubro), porém, a Amazônia enfrentou um déficit de chuvas no primeiro semestre do ano. uma época que às vezes é seca. período de chuvas na região. Isso se deve ao efeito do El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento do Oceano Pacífico na linha do equador, que aliado ao aquecimento do Oceano Atlântico Norte, inibiu a formação de nuvens e gerou maior seca na Amazônia. região.  

O pesquisador Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), disse que a tendência está piorando. “Ainda temos muito menos chuva do que o que acontece. Agora estamos entrando no período seco, os meses de julho e agosto costumam ser meses de pouquíssima chuva na Amazônia em geral, isso é normal. Mas a seca já vai colocar as bacias e rios em mau estado. ” 

Apesar da urgência do tema, o governo federal ainda está desenvolvendo um plano nacional de adaptação climática, que incluirá um setor expresso para os povos indígenas e não deve ser apresentado até 2025. O IPM disponibilizou um formulário online para os cidadãos darem o seu contributo, preenchendo dois campos sobre os seguintes tópicos: “Quais são os principais efeitos das alterações climáticas que o “Plano de Adaptação Climática: Povos Indígenas” terá de abordar?e “Que medidas de adaptação climática você acha que serão incluídas no “Plano de Adaptação Climática: Povos Indígenas” para promover a justiça climática? 

Dos nove estados da Amazônia legal, cinco têm uma Secretaria dos Povos Indígenas. Amazonas, Mato Grosso e Maranhão têm arquivos comprometidos com populações clássicas.  

No Acre, foram cadastradas 31 terras indígenas com algum grau de seca, das quais 27 estão em seca severa. Durante o mesmo período, em Julho do ano passado, treze países enfrentavam a seca, um aumento de 107%. Francisca Arara, secretária da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi), explica que seu objetivo é obter recursos do orçamento ambiental e climático para poder gerir os projetos que devem ser implementados no estado. No médio prazo, os planos envolvem a recuperação da capacidade produtiva das terras indígenas, com dispositivos e estudos de recuperação, a reconstrução de casas e casas comunitárias excessivamente afetadas e a garantia da segurança alimentar. Em caso de emergência, o objetivo é distribuir cestas básicas de alimentos e água potável.  

“É urgente que doadores, comitês e governos percebam o que estamos enfrentando. Incrivelmente, os povos indígenas da floresta são os que mais sofrem com os extremos. Quem mora perto de estradas e municípios tem mais chances de sobreviver, mas quem mora mais longe é muito vulnerável, nós sofremos diretamente”, diz o secretário.

Este relatório foi elaborado através da Unidade de Geojornalismo InfoAmazonia, junto ao Instituto Serrapilheira.

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