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01/03/2025 02:43, atualizado 01/03/2025 09:53
Utilizado como prova de procedimento ocorrido no 19º Domínio Eleitoral de Luziânia, periferia do Distrito Federal, um áudio atribuído ao secretário municipal de Saúde, Divonei Oliveira de Souza, lançou luz sobre um suposto caso de corrupção dentro do poder executivo local.
Na gravação, uma mulher fala com Divonei e revela que avisou por meio de advogados que ele supostamente a usou como trabalhadora fantasma dentro da Diretoria Municipal de Desenvolvimento Urbano.
Durante o diálogo, ela solicita o auxílio da secretária para resolver o cenário e pede para ser oficialmente transferida para o cargo que designou. Porém, ao contrário do que imaginava, a jovem descobre por Divone que procurar um advogado é “ruim” e que, se o assunto fosse denunciado, ele “negaria que esteja com ela” ou que a conheça.
“Se você ligou para ele para ligar para você, então você tem um acordo com ele. Para nós, se esse cenário ocorrer, diremos descaradamente que não temos sabedoria sobre nada. “Negarei que estou com você, negarei que conheço você, negarei que falei com você”, disse ele.
Ao ser indagado pela mulher se o dinheiro do cargo em que está nomeada pertence a ela, o secretário completa: “O dinheiro é seu [conforme] o acordo que você fez com ele”.
Ouça:
O áudio foi juntado a uma ação que denuncia uma série de corrupções ocorridas dentro da prefeitura de Luziânia e de órgãos públicos da cidade. O processo, movido pela Coligação Liberta Luziânia, conta que a mulher foi nomeada na prefeitura no lugar de João Carlos Dadalte Júnior – presidente do diretório municipal do Democracia Cristã – logo após o homem pedir exoneração para se lançar pré-candidato a vereador em 2024.
Na teoria, ela deveria ocupar um cargo – cujo provento é de R$ 4 mil – dentro da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. Contudo, conforme narra a ação, a mulher foi orientada por Divonei a prestar expediente integral no comitê instalado na nova sede do Democracia Cristã tanto durante período de pré-campanha quanto ao longo da corrida eleitoral de 2024, motivo pelo qual nunca compareceu ao órgão público.
Segundo o procedimento, para “comprovar” que trabalhava na secretaria, ele deveria assinar uma folha de presença, enviá-la ao secretário Glênio Magrini, que assinou a folha e, por fim, repassou o documento à Secretaria Municipal de Saúde.
De acordo com o que foi escrito na peça processual, com o salário recebido pelo órgão, a mulher era obrigada a pagar despesas do comitê, tais como: energia, aluguel, serviço de manutenção do ar-condicionado, pagamento de outro funcionário informal – que recebia R$ 700, entre outros. Por fim, ela ficava com R$ 800 e repassava o restante do dinheiro a João Carlos.
A ação também revela que João negociou um empréstimo em nome da mulher. O valor contratado com o banco, conforme declarado, deve ser remetido a ele. O pagamento desse empréstimo foi descontado de R$ 4. 000 por mês.
Ao tomar conhecimento da gravidade do sucedido, a mulher disse que contactou os interessados para lhes explicar o assunto e pediu para comparecer na secretaria onde tinha sido nomeada. Porém, informou que teria que obter autorização de Divonei ou do atual prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto (União).
Em uma carta supostamente enviada a Sorgatto – que deu origem ao processo administrativo número 2024037066 – a mulher acusa o prefeito de ter conhecimento da empresa e pede sua renúncia. No entanto, a ligação não foi atendida. Diante da situação, a mulher não deu mais o dinheiro para os demais interessados e depois disse que havia sido ameaçada.
Em um momento da gravação, a que o Metrópoles teve acesso, João Carlos conversa com um pastor conhecido como Luiz Antônio Gonçalves Oliveira – dono dos bens alugados através da diretoria municipal da Democracia Cristã – reclamando que o trabalhador enviou o dinheiro.
“Pastor Luiz, paz do Senhor Jesus. Está tudo bem? Pastor, eu sei que você está atrasado. Deixa eu te contar: meu dinheiro foi para a conta dela e ela não precisa me devolver. E eu estou com pressa, estou concorrendo com o Divonei, que é secretário executivo do prefeito, para recuperar esse dinheiro. Porque não é o seu dinheiro. A posição é minha”, começou ele.
“Eu propus porque tinha que me retirar para ser candidata. Eu a indiquei para o meu cargo e ela pegou esse dinheiro agora, depois das eleições. que eu tinha meus compromissos, que eu tinha que pagar meus compromissos estou procurando esse dinheiro para te mandar aí, ok?, disse ele.
Ouvir:
Em outro áudio, João volta a reclamar da falta do repasse para o pastor: “A paz do senhor, pastor Luiz. Tudo bom? Pastor, infelizmente, até agora eu não consegui pegar o dinheiro. Estou correndo atrás. Ela não me passou, não me devolveu o cargo, está o maior… se o senhor soubesse como tá”, disse.
“[…] Quem vai pagar o valor disso é ela, né? Deus o qualificará. É até ameaçador, mas depois conto para ele, com calma. No final do mês, o deputado [sem citar o nome] vai me deixar dinheiro. Então pagarei os dois meses, ok? Isso é tudo para você, senhor. O mês expirou e este mês agora”, finalizou.
O pastor Luiz Antônio, por sua vez, envia o seguinte recado à mulher: “Paz do Senhor Jesus. Monsenhor Juan me diz que não me paga por sua causa. Há dois meses atrasou tudo: água, luz e aluguel”. .
A mulher, então, disse que João e a esposa foram até a casa dela cobrar os valores, ocasião em que constrangeram familiares dela. Diante da situação, ela procurou a Polícia Civil de Goiás (PCGO), revelou todo o suposto esquema e registrou boletim de ocorrência contra os envolvidos.
A demissão do funcionário ocorreu em 31 de dezembro, após um decreto.
Após tomar conhecimento dos fatos relatados por meio dele e de outras testemunhas, a Coalizão Liberta Luziânia recorreu à Justiça para denunciar o caso.
De acordo com o processo movido pela aliança, além da situação que consta nos áudios, foi descoberto que o diretório municipal do Democracia Cristã, sediado em local pertencente ao pastor Luiz Antônio Gonçalves Oliveira, estava utilizando mobiliários do município para comitê eleitoral, conduta vedada pelo artigo 73 da Lei das Eleições.
De acordo com a ação, um funcionário da prefeitura tentou impedir a retirada dos objetos, mas João Carlos Dadalte Júnior ligou para o prefeito Diego Sorgatto, que “ordenou sua pronta liberação”.
Diante dos fatos relatados, a juíza Luciana Oliveira, do 19º domínio eleitoral de Goiás, determinou a busca e apreensão de todos os elementos utilizados por meio da diretoria municipal da Democrata-Cristã. Os seguintes bens municipais descobertos no local:
Além disso, conforme consta na petição, eleitores eram atendidos no local e recebiam ofertas dos seguintes serviços durante a pré-campanha para as votações de 2024: advocacia em geral, assessoramento em beneficio do INSS, em regularização de imóveis, inventários, além de distribuição de cestas de alimentos e intermediação para atendimento nos serviços de assistência social e de saúde da Administração Municipal.
Também na sede da comissão estavam “intermediários culpados de desperdício de consultas médicas, exames, operações cirúrgicas e outros procedimentos prestados através das equipas da Direção Municipal de Saúde”.
De acordo com a ação, o prefeito de Luziânia também disponibilizou a “Chácara Sorgatto” – patrimônio da família do político – para eventos políticos promovidos por meio da Democracia Cristã.
Defesa
Na reportagem, o prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto, disse desconhecer a carta enviada por meio da mulher supostamente utilizada como trabalhadora fantasma e que “não tem conhecimento de qualquer esquema de crack ou irregularidades”. “Se eu tivesse [o conhecimento], já teria agido”, disse Sorgatto.
O prefeito pontuou, ainda, não ter conhecimento do processo que tramita na 19ª Zona Eleitoral de Luziânia. “Se eu receber alguma notificação ou intimação, obviamente estarei aqui para colaborar, para esclarecer”, finalizou.
A Metropoles tentou entrar em contato com os outros americanos mencionados, mas só obteve uma reação quando este relatório foi atualizado pela última vez. A área permanece aberta para eventos de longo prazo.
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