Mato Grosso é o terceiro estado brasileiro com maior número de mortes violentas de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) em 2024, de acordo com o relatório Mortes Violentas de LGBT no Brasil, publicado pelo Observatório do Grupo Gay da Bahia.
Conforme os dados, no Brasil foram registradas 291 mortes violentas de pessoas LGBT+, sendo que 8,25% dos casos foram em Mato Grosso. O estado passou de 8 casos em 2023 para 24 registros em 2024, ficando atrás da Bahia, com 31 crimes e São Paulo, com 53.
“O caso de Mato Grosso é igualmente preocupante e exige políticas públicas eficazes e rápidas que acabem com as mortes da população LGBT+. Com uma população quase cinco vezes menor que a de Minas Gerais, o estado registrou 24 mortes LGBTfóbicas, duas a mais que o estado de Minas Gerais, que registrou 22 acidentes”, destaca a entidade no relatório.
Cuiabá é a nona capital mais prejudicial para a população LGBT+. Entre os motivos estão os homicídios, seguidos de suicídios e roubos. Pode ser visto na íntegra aqui.
Casos
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Entre os crimes que mais chocou a população está o que vitimou Edson Diego dos Santos, 18, no mês de outubro, em Nova Olímpia (207 km ao médio-norte de Cuiabá). Ministério Público denunciou 4 pessoas pelo crime, motivado por homofobia.
Segundo a denúncia, Diego foi torturado e depois assassinado com golpes de arma branca pelo simples fato de ser gay. Depois do crime, os suspeitos esconderam o corpo da vítima em uma mata, cerca de 12 km da zona rural da cidade.
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Em novembro, a ex-candidata a vereadora e cantora transexual Santarosa, 27, foi encontrada morta e decapitada, na cidade de Sino (500 km ao norte de Cuiabá). Ela desapareceu um dia antes e, além de ter sido decapitada, estava amarrada.
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Em dezembro, a foto da transexual Thayla Santos de Souza, de 24 anos, foi descoberta em um mato na área do Km Cero, em Várzea Grande, 72 horas após seu desaparecimento. Ainda não há resposta sobre os motivos do crime, nem mesmo sobre o suspeito.
Preocupação com cenário
A presidente do Grupo Livremente, Xica da Silva, disse que acompanha os casos e está envolvida na proteção da população LGBTQIA+ de Mato Grosso, ou seja, mulheres e homens trans.
“A violência contra os outros não pode ser normalizada. É fundamental que haja uma reação eficaz das autoridades públicas, com políticas que garantam proteção, dignidade e justiça. Defendemos uma acção conjunta entre a Provedoria de Justiça, o Conselho de Cuidados e outras agências para implementar medidas que promovam a segurança e a igualdade”, disse Xica.
O grupo, que há anos trabalha para preservar os direitos da população, indicou que continua a mobilizar-se para convocar movimentos específicos que protejam a vida e os direitos desta população.
“A brutalidade enfrentada pela população LGBTQIA, ou seja, mulheres e homens trans, reflete a intensidade da discriminação e da violência estrutural no Brasil. O recente caso de Várzea Grande, em que uma mulher trans foi brutalmente assassinada, é mais uma prova da vulnerabilidade dessas outras pessoas e da incapacidade do Estado de garantir sua proteção e dignidade”.
Luís Leite
Secretário do Grupo Estadual de Combate ao Crime de Homofobia da Secretaria de Estado de Segurança Pública (GECCH-SESP), o tenente-coronel PM Ricardo Bueno, também demonstra preocupação com os números, uma vez que toda sociedade é afetada.
“Isso deixa claro que não se trata apenas de uma questão de segurança – que é um aparelho importante para identificar autores dos crimes e para puni-los – mas, também, é uma questão que envolve todos os setores da sociedade, como a educação”, disse.
Para Ricardo, é importante entender que os crimes de homofobia, por exemplo, já se tornaram uma questão estrutural e que, por isso, requer um esforço coletivo, especialmente no ambiente educacional, para modelar melhores cidadãos.
“Hoje, ser outro é em si um ato de condenação. Violências como o bullying começam no ambiente escolar, são reflexo do ambiente social”, frisou.
Bueno destacou o fato de Mato Grosso ser um dos poucos estados brasileiros que possui Conselho Estadual LGBT, o que dificulta que a rede local planeje movimentos e debates sobre políticas públicas.
“Isso dificulta a discussão com outros governos. Sei o que se faz no domínio da segurança pública, mas não o sei noutras instituições. Então, acontece que é uma luta de solidariedade”, disse ele.
Vale ressaltar que o Conselho Estadual LGBT+ chegou a ser criado, por meio de um Projeto de Lei, pelo governador Mauro Mendes. Mas, em 2021, foi derrubado pelos deputados da Assembleia Legislativa com 11 votos.